Coluna do André Galhardo

Mercados atentos à inflação, atividade econômica e política monetária global

10 mar 2025, 14:32 - atualizado em 10 mar 2025, 14:32
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Veja os indicadores econômicos que serão destaques entre os dias 10 e 14 de março, com projeções e comentário. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)

Veja os indicadores econômicos que serão destaques entre os dias 10 e 14 de março, com projeções e comentário.

Toda a atenção voltada para os indicadores qualitativos de inflação nesta semana

Após a prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) indicar uma inflação ligeiramente mais branda do que o esperado, o mercado reduziu a projeção do IPCA de fevereiro, que será divulgado na quarta-feira (12).

No entanto, o foco deve estar nos dados dos núcleos de inflação e no índice de difusão. Embora a variação de janeiro tenha sido a menor já registrada para o mês na série histórica, os núcleos mais sensíveis à atividade econômica seguem à frente das demais métricas de inflação no acumulado de 12 meses. Assim, mais do que a variação em si — estimada em 1,41% segundo nossas projeções —, o destaque está nos aspectos qualitativos do indicador.

Além disso, hoje teve a divulgação do IGP-DI – Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna de fevereiro. A expressiva alta nos preços de commodities como milho, algodão e café mantiveram a inflação dos IGPs em ritmo acelerado.

Neste contexto, de riscos inflacionários, um ponto de atenção é o comportamento dos preços dos combustíveis. Dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) mostram que a recente queda no preço do petróleo e a valorização do real resultaram em uma defasagem nos preços da gasolina no Brasil, que está cerca de 5% acima do valor praticado no exterior.

Apesar da postura cautelosa da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, uma redução nos preços da gasolina e do diesel poderia ser crucial diante das preocupações com a percepção pública sobre a inflação e o custo de vida.

Após um trimestre de desaceleração, confirmado pelos dados do PIB de 2024, os setores produtivos brasileiros devem voltar a crescer em janeiro

A produção industrial, que registrou sua terceira queda mensal consecutiva em dezembro, deve avançar cerca de 0,6% na primeira leitura de 2025, programada para terça-feira (11). Indicadores antecedentes sinalizam uma recuperação não apenas em janeiro, mas também ao longo de fevereiro.

As pesquisas mensais do comércio varejista e de serviços também devem indicar um crescimento moderado no início do ano.

No geral, a depender da intensidade da expansão em janeiro e da continuidade dessa retomada, o debate sobre o hiato do produto deve ganhar ainda mais relevância nas próximas semanas, mesmo diante do cenário de política monetária restritiva.

Depois da surpresa inflacionária de janeiro, as variações dos índices de preços ao consumidor nos EUA devem ser mais moderadas em fevereiro e março

De acordo com o próprio Federal Reserve, a alta de fevereiro deve girar em torno de 0,2%, bem abaixo dos inesperados 0,5% registrados no primeiro mês do ano.

O resultado do Índice de Preços ao Consumidor (CPI), na quarta-feira, deve acompanhar o movimento dos preços ao produtor. A inflação do Índice de Preços ao Produtor (PPI) trimestral anualizada, atualmente em 4,49%, atingiu o maior patamar em 16 meses, refletindo, entre outros fatores, a antecipação de compras e produção por parte dos empresários norte-americanos diante das tarifas comerciais anunciadas por Donald Trump.

Com parte desse efeito já dissipado e sinais cada vez mais claros de desaceleração da economia americana, a expectativa é de que o índice de preços ao produtor perca força nas próximas divulgações, até que o aumento das tarifas de importação se concretize de fato.

A última semana foi marcada pela importante reunião anual da China, conhecida como Duas Sessões, na qual o governo reforçou seu compromisso com políticas econômicas ativas em 2025

Entre os principais anúncios, destaca-se a renovação da meta de crescimento econômico, com objetivo de expansão em torno de 5% neste ano, e a revisão da meta de déficit fiscal, que pode ser elevada para 4% do PIB, ante os 3% registrados em 2024.

A reunião reforçou o compromisso do governo chinês em adotar medidas para sustentar o crescimento econômico, mesmo diante do aumento das tensões comerciais e do enfraquecimento da demanda interna. Embora as medidas tenham sido bem recebidas pelo mercado, quase foram ofuscadas pelos dados da balança comercial de fevereiro. O superávit comercial do mês atingiu cerca de US$ 170 bilhões, o maior valor nominal da história.

No entanto, parte desse resultado decorre de uma queda significativa no volume de importações, o que indica que, apesar das expectativas de estímulos fiscais e cortes nas taxas de juros, a economia chinesa ainda enfrenta desafios. Nesta semana, os números de novos empréstimos referentes a fevereiro poderão fornecer mais pistas sobre a real situação da atividade econômica no país.

Consultor Econômico da plataforma Remessa Online
Professor e mestre em Economia Política, Galhardo também é economista-chefe da consultoria Análise Econômica, coordenador e professor universitário nos cursos de Ciências Econômicas, Administração e Relações Internacionais e Mestre em Economia Política pela PUC-SP. Ele possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público
andre.galhardo@autor.www.moneytimes.com.br
Professor e mestre em Economia Política, Galhardo também é economista-chefe da consultoria Análise Econômica, coordenador e professor universitário nos cursos de Ciências Econômicas, Administração e Relações Internacionais e Mestre em Economia Política pela PUC-SP. Ele possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público