Política

Mercado vê mais incerteza em Lula que em Bolsonaro, diz CEO da Truxt Investimentos

09 set 2022, 12:13 - atualizado em 09 set 2022, 12:28
Lula
Para o executivo, a grande dúvida é relacionada aos planos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que hoje lidera as pesquisas de intenção de votos, se ele adotará uma política econômica mais pragmática ou mais populista (Imagem: Flickr/ Lula Oficial/Ricardo Stuckert)

Um desfecho da eleição presidencial no Brasil no qual o respeito pela responsabilidade fiscal for premiado, qualquer que seja o vencedor, tem capacidade de animar o mercado brasileiro, avalia o presidente-executivo da Truxt Investimentos.

“O quadro fiscal atual não é sustentável”, afirmou José Tovar em entrevista à Reuters, destacando, no entanto, que uma resposta sobre os planos para as contas públicas não deve ser conhecida antes do resultado das urnas.

O CEO da Truxt, que tem 17 bilhões de reais em ativos sob gestão, vê a eleição com dois populistas concorrendo, prometendo muito no curto prazo, “e a conta não fecha”. Mesmo que promessas de campanha não possam ser levadas ao pé da letra, diz, a sinalização fiscal dos principais candidatos preocupa, ainda que ambos sejam conhecidos e já tenham experiência no poder.

“Estamos com um cenário fiscal muito populista, tanto pelo incumbente como pelo desafiante. Acho isso perigoso.”

Para o executivo, a grande dúvida é relacionada aos planos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que hoje lidera as pesquisas de intenção de votos, se ele adotará uma política econômica mais pragmática ou mais populista.

“Qual o Lula que vem se ganhar? Um Lula mais à esquerda ou mais pragmático como no seu primeiro mandato?”, questionou.

O petista tem dito que é contra o teto de gastos, mas também exibido seu vice na chapa, o ex-governador e seu ex-oponente político Geraldo Alckmin (PSB), como fiador de que seu eventual futuro governo terá moderação política e fiscal.

Tovar considera o presidente Jair Bolsonaro, que está em segundo nas pesquisas, “mais previsível” em termos da política econômica, apesar de o atual governo estar fazendo um grande gasto fiscal para tentar a reeleição no próximo mês.

“O mercado vê mais privatizações e um Estado menor com Bolsonaro”, observou, destacando também que espera uma pauta de reformas, como a administrativa, e que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentará segurar o fiscal passado o pleito.

Mas qualquer que seja o candidato vencedor, ele avalia que quanto mais cedo vier uma sinalização fiscal, melhor.

Ele espera uma disputa acirrada, com segundo turno, citando que se trata de uma eleição entre dois líderes carismáticos, que conseguem falar com o público.

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Mais ou menos arrumado

Apesar das incertezas relacionadas à eleição e do risco fiscal a partir do próximo ano, Tovar avalia que o Brasil não está tão mal na foto, o que explica o “ralizinho” do mercado acionário no país.

“No momento, dados os problemas da China, na Europa, a inflação alta nos Estados Unidos, até que a gente está mais ou menos arrumado”, afirmou. No ano, o Ibovespa acumula alta de cerca de 6%.

Ele detalha que as medidas que aumentaram o gasto público ajudaram o crescimento econômico, mas sem afetar a relação dívida/PIB do país, porque houve aumento relevante de arrecadação, em boa parte apoiado no bom desempenho das commodities –“e o Brasil é commodities”.

Ao mesmo tempo, acrescenta, a queda nos preços dos combustíveis aliviou a inflação, enquanto o Banco Central no Brasil fez o dever de casa da política monetária.

“Eu sou animado com Brasil se a gente tiver um (quadro) fiscal razoável e o mundo se comportar direitinho, sem grande subida do juro norte-americano, sem grandes problemas geopolíticos”, afirmou.

Ele concorda que os juros reais do país estão bastante altos, mas diz estar empolgado ainda com a bolsa brasileira.

Segundo Tovar, a carteira da Truxt inclui ações como Eneva, Equatorial Energia , PRIO, Eletrobras, XP, BTG Pactual, Itáu Unibanco e Localiza.

Eles também têm posição em Petrobras, embora tenham reduzido após a forte valorização dos papéis e dividendos expressivos. Além disso, acrescentou o executivo, na reta final da eleição, “fica mais arriscado”.

Fed

Qualquer animação no mercado brasileiro, contudo, depende do exterior, com destaque para a política monetária dos Estados Unidos, mas também eventos geopolíticos como a guerra Rússia- Ucrânia e seus reflexos na Europa, além dos problemas na China.

A principal questão relacionada aos EUA, segundo o executivo, é quando o banco central norte-americano encerrará o ciclo de alta dos juros, pois se o Federal Reserve começar a subir muito vai machucar todo o mundo.

No curtíssimo prazo, explica, o foco está na reunião dos dias 20 e 21 deste mês, se o Fed decidirá por um aumento de 0,50 ponto ou 0,75 ponto percentual; e nesse contexto o dado de inflação ao consumidor de agosto que sairá na próxima semana.

“Isso parece a coisa mais importante do mundo, mas é só para curtíssimo prazo, porque o que tem que entender é que horas o BC norte-americano vai parar…e, de acordo com os juros americanos, vamos ver as consequências no crescimento do resto do mundo.”

A principal questão relacionada aos EUA, segundo o executivo, é quando o banco central norte-americano encerrará o ciclo de alta dos juros, pois se o Federal Reserve começar a subir muito vai machucar todo o mundo (Imagem: REUTERS/Joshua Roberts/File Photo)

Tovar tem um cenário no qual o Fed encerra 2022 com o teto da faixa em 3,5% ou 3,75%, então paralisaria a alta para avaliar o cenário.. A faixa atual da meta do Fed para a taxa de referência de juros é de 2,25% a 2,50%.

Na China, ele destaca que há um grande problema no mercado imobiliário, bem como uma armadilha com as restrições relacionadas às políticas de controle da Covid, que atrasam a recuperação chinesa.

“A China vai crescer menos e aí é menos um motorzinho para o mundo crescer”, afirmou.

A Europa, observa, sofre com a crise energética na esteira da guerra entre Rússia e Ucrânia, que tem elevado a inflação em países no continente e pressionado também o desempenho fiscal em razão de medidas para segurar o preço da energia.

“A Europa está sofrendo e continuará sofrendo”, avalia, chamando a atenção para a ausência de sinais sobre um fim no conflito, ou mesmo um movimento mais claro em alguma direção.

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