Perspectiva Semanal

Mercado repete aposta errada de varejista e vê gringos anteciparem férias de verão

07 maio 2023, 16:00 - atualizado em 06 maio 2023, 16:07
FIDCs
Mercados antecipam cortes nas taxas de juros por Fed e Copom, mas veem gringos indo embora dos ativos de risco para curtir as férias de verão (Imagem: Adobe Stock)

Os mercados parecem estar em uma situação de “ciclo tardio”. Ou seja, não é apenas a Lojas Renner que fez aposta errada, ao lançar a coleção de outono-inverno em pleno mês de março – marcado por temperaturas ainda elevadas no Brasil.  

Os investidores também antecipam um início da temporada de cortes nas taxas de juros, tanto pelo Federal Reserve quanto pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Isso mesmo após ambos os bancos centrais descartarem essa possibilidade para breve.

Por aqui, o Copom chamou a atenção para a incerteza em relação ao “desenho final” do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso. Afinal, a peça pode passar por várias emendas, ficando semelhante a uma “colcha de retalhos”.  Para ambos os BCs, o foco ainda está no controle da inflação.

Já os dados sólidos sobre o emprego nos Estados Unidos (payroll) também trazem ventos contrários do exterior à estação mais favorável aos ativos de risco. Até porque só a pausa no atual ciclo de alta do Fed ainda depende de quão rápido a economia norte-americana desacelere. Portanto, acertar o momento em que entrar em uma recessão para ser a grande questão. 

O Fed abraçou uma ‘possível pausa’, mas isso não é o mesmo que o corte na taxa no início do outono [no hemisfério norte] que o mercado está precificando enquanto diz ‘suba em maio e depois vá pelo outro caminho [Hike in May then go the other way]”, avalia o estrategista global do Rabobank, Michael Every.

Ele faz alusão a um dos mais tradicionais provérbios dos mercados internacionais para este mês. Trata-se do Sell in May and go away, que diz, ao pé da letra, para “vender em maio e ir embora”, curtir as férias de verão, já a partir do fim do mês que vem.

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Mercado se antecipa

Como se sabe, o mercado se antecipa aos fatos. O problema é que um “pivô do Fed” e quedas na taxa Selic não parecem ter início tão cedo. Talvez fique para o segundo semestre, mas não necessariamente já em agosto.  

Com o horizonte à frente ainda nebuloso, os investidores estrangeiros fazem jus ao famigerado adágio de Wall Street. Apenas nos dois primeiros dias de maio, houve a retirada de mais de R$ 1,5 bilhão em recursos externos no mercado secundário (papéis já listados) da B3.

Assim, os gringos parecem dispostos em partir para a praia e só voltar em setembro. Quando, aliás, a Super Quarta volta à cena, até dezembro.    

Até lá, tanto o Ibovespa quanto o dólar devem se consolidar nos níveis atuais. Mas 100 mil pontos ou R$ 5,00 são apenas números, tal qual 13,75% ou 5%-5,25%. O mais importante é o poder da renda fixa, que não pode ser ignorado.

Ainda mais por aqui. Afinal, o cenário de juros altos no Brasil deve bater no mercado de capitais. “Com juros neste patamar a renda variável – e o resto da economia – segue com uma bola de ferro no pé”, avalia o economista André Perfeito.

Por mais que seja apenas uma questão de tempo para ver as taxas de juros retomando a tendência de queda, por enquanto, também devem se manter onde estão. Afinal, nem o Copom nem o Fed disseram “agora vai”, mas o mercado resolveu cortar os juros para ambos os BCs.

“Movimentos assim podem ser fortuitos, mas vale a máxima de que quando se recua um exército no campo de batalha não se faz nem tão devagar que pareça provocação nem tão rápido que pareça covardia”, pondera Perfeito. Para ele, alguma mudança mais sensível deverá ser sinalizada – quiçá depois de um longo inverno.