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Mercado pode estar otimista demais com reformas, avaliam analistas

19 jul 2019, 19:49 - atualizado em 19 jul 2019, 19:50
B3 Mercados
“Expectativas altas são sempre um risco, já que a decepção pode ser grande”, disse You-Na Park, estrategista de câmbio do Commerzbank (Imagem: Patricia Monteiro/Bloomberg)

O alívio dos investidores com o avanço da reforma da Previdência no Congresso na semana passada pode ter gerado um excesso de otimismo no mercado, alimentando expectativas de mudanças mais amplas no país, mergulhado em uma crise fiscal.

Depois que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previdência foi aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados com uma margem maior do que a esperada, vários gestores de recursos e analistas financeiros ficaram mais otimistas em relação ao desempenho do real. Mas ainda há riscos.

Uma pesquisa com clientes conduzida pelo Bank of America Merrill Lynch mostra que a reforma da Previdência precisa gerar uma economia de pelo menos R$ 900 bilhões (US$ 241 bilhões) para ser considerada positiva, comparada aos R$ 700 bilhões estimados no mês anterior. Mais entrevistados também esperam que a PEC seja totalmente aprovada no terceiro trimestre, com a expectativa de que outras reformas avancem no futuro.

“Expectativas altas são sempre um risco, já que a decepção pode ser grande”, disse You-Na Park, estrategista de câmbio do Commerzbank. “Portanto, ainda estamos cautelosos e não esperamos um rali imediato do real.”

Park, que esteve entre os analistas que mais acertaram as projeções para o dólar ante o real no segundo trimestre no ranking Bloomberg, acredita que o real vai ficar temporariamente sob pressão, pois o processo de aprovação da reforma da Previdência pode sofrer atrasos. Uma vez totalmente aprovada, ela diz que o dólar deve cair para R$ 3,6 até o fim do ano, uma queda de 3,3% em relação ao fechamento de quinta-feira.

O otimismo após a votação levou bancos como Morgan Stanley, Wells Fargo e Credit Agricole a melhorar as projeções para a moeda brasileira. O real se valorizou 3,5% em julho, o melhor desempenho entre as 32 principais moedas monitoradas pela Bloomberg, em um rali impulsionado principalmente por investidores locais.

Para Marcin Lipka, analista sênior da corretora Cinkciarz.pl, em Varsóvia, os ganhos são um sinal de que a aprovação da reforma já está precificada, e o dólar provavelmente deve ganhar força. O analista projeta uma alta para a faixa entre R$ 3,85 e R$ 3,90, onde a moeda estava há um mês. As projeções da Cinkciarz.pl para as moedas da América Latina estão entre as três mais precisas desde o segundo trimestre de 2018.

“Fundamentalmente, a reforma está na direção certa, mas o Brasil precisa de crescimento, políticas mais favoráveis ao mercado, resultados concretos no combate à corrupção”, disse Lipka. “A reforma da Previdência é apenas o primeiro passo.”

A reforma da Previdência, cuja economia o governo agora estima em R$ 900 bilhões, ainda precisa passar por uma segunda votação na Câmara dos Deputados antes de seguir para o Senado, onde a oposição deve pressionar por mudanças.

“Esperamos que a reforma seja diluída na margem e reconhecemos que o ponto de partida do Brasil ainda é relativamente fraco, com altos déficits fiscais, baixo crescimento e problemas de produtividade estrutural que ainda precisam ser resolvidos”, disse Lupin Rahman, chefe de crédito soberano de mercados emergentes da PIMCO.

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