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Mercado Livre não é alvo de aquisição, garante presidente

14 nov 2020, 16:00 - atualizado em 13 nov 2020, 9:58
Marcos Galperin
“Vamos continuar a fazer investimentos em serviços como parcerias de conteúdo”, disse Galperin (Imagem: Reuters/Ginnette Riquelme)

O Mercado Livre não está sendo sondado para uma aquisição por rivais globais do setor e isso nem deve acontecer tão cedo, segundo o presidente-executivo do maior portal de comércio eletrônico da América Latina.

“Até agora não aconteceu e não acho que acontecerá no curto prazo”, disse Marcos Galperin em entrevista à Reuters.

A declaração, na esteira do anúncio de que a companhia está dobrando sua capacidade no Brasil com a inauguração de cinco novos centros logísticos, vem após anos de especulações sobre se o Mercado Livre estaria sendo cobiçado por gigantes globais como a norte-americana Amazon (AMZN) e a chinesa Alibaba.

Após anos de crescimento acelerado em mercados que vão desde o México até a Argentina e consolidar sua liderança na região com a explosão do comércio eletrônico gerada pelos impactos da Covid-19, o Mercado Livre superou no terceiro trimestre pela primeira vez uma receita líquida de 1 bilhão de dólares.

Nos últimos meses, o Mercado Livre passou a apostar mais fortemente em serviços como parcerias de conteúdo, como com a Disney, e na inclusão de produtos de consumo mais rotineiro, como de supermercados, para aumentar a recorrência do uso pelos clientes, movimento que lembra o feito pela Amazon ao comprar a Whole Foods, em 2017.

“Vamos continuar a fazer investimentos nessa categoria”, disse Galperin, referindo-se aos supermercados.

E a exemplo do braço financeiro do Alibaba, a Ant Group, o Mercado Livre tem no seu braço financeiro, Mercado Pago, uma aposta tão grande ou ainda maior do que a do próprio comércio eletrônico, já que tem sido um vetor para bancarizar dezenas de milhões de pessoas da América Latina.

De julho a setembro, os pagamentos processados pelo Mercado Pago deram um salto de 92% em dólar na comparação anual, a 14,5 bilhões de dólares.

Inicialmente usado só para fazer pagamentos, o negócio foi agregando serviços como crédito, investimentos e seguros. A tendência agora deve ser acelerada no Brasil, fonte de 55% das receitas do grupo, onde o Mercado Livre obteve na semana passada licença do Banco Central para ser instituição financeira.

Essa ofensiva pode aumentar a dor de cabeça de grandes bancos, já às voltas com uma agenda regulatória do BC desenhada para aumentar a competição no setor financeiro, com novidades como o pagamento instantâneo e o open banking, sistema que dará aos clientes poder de compartilhar seus dados bancários.

“Vamos ter menores custos de captação e trabalhar com outros serviços financeiros mais rentáveis”, afirmou Galperin.

A ofensiva do Mercado Livre não tem passado despercebida pelo mercado financeiro. Só nos últimos 12 meses, a ação da companhia na Nasdaq teve valorização superior a 160%, atingindo um valor bursátil de 65 bilhões de dólares, mais do que qualquer outra companhia brasileira listada, incluindo as gigantes de commodities Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3).

Para Galperin, cofundador do Mercado Livre no começo do século, a explosão do comércio eletrônico e da bancarização digital na América Latina ainda é o começo da história.

“Estamos longe ainda dos níveis de e-commerce vistos em locais como a China, por exemplo. E, no serviço financeiro, acho que veremos o fim do dinheiro na América Latina em 10 anos.”

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