Economia

Mercado já prevê recessão em 2022

26 out 2021, 17:00 - atualizado em 26 out 2021, 17:33
Paulo Guedes
Itaú Unibanco fala em queda de 0,5%, ante a estimativa anterior de crescimento de 0,5% (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

Em meio a um cenário de alta dos juros e da tentativa de mudança do teto de gastos, que hoje representa a principal âncora fiscal do País, o mercado já não descarta a possibilidade de estagnação ou mesmo de um resultado negativo do PIB em 2022.

Em relatório divulgado ontem, a consultoria MB Associados reduziu sua projeção de 0,4% para zero. Já o Itaú Unibanco fala em queda de 0,5%, ante a estimativa anterior de crescimento de 0,5%.

Estimativas negativas também já aparecem no relatório Focus, uma compilação do Banco Central com as apostas do mercado para os principais indicadores do País.

No relatório de ontem, a mediana para o PIB em 2022 recuou de 1,5% para 1,4% – quatro semanas atrás, estava em 1,57%. Mas, pela primeira vez, o piso das projeções foi de queda de 0,3%.

Mudanças no teto de gastos

A mudança de direção ocorre depois das manobras do governo para rever a regra do teto de gastos e, com isso, abrir mais espaço para despesas em 2022 – quando o presidente Jair Bolsonaro vai disputar a reeleição.

O governo diz que a mexida é necessária para assegurar o pagamento de R$ 400 por meio do Auxílio Brasil. O risco de descontrole de gastos, porém, levou os bancos a prever um aumento no ritmo de alta da Selic.

“Embora a discussão sobre dominância fiscal pareça exagerada no momento, é verdade que, sem uma âncora fiscal crível, a tarefa do BC de manter a inflação na meta se torna mais difícil”, afirma relatório assinado pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita.

De acordo com o Itaú, o aumento da incerteza fiscal vai implicar risco país mais alto, maior depreciação do real, piores perspectivas para a inflação e, em última instância, uma taxa de juros neutra mais alta.

“A política monetária funciona bem quando existe uma âncora fiscal. Com o presidente e o Congresso atuando em conjunto na direção do gasto e um ministro da Economia ausente, a âncora desaparece”, escreveu o economista-chefe da MB, Sergio Vale, que assina o documento.

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