Colunista Vitreo

Mercado Hoje: O Fed está decidindo se vai decidir depois de uma outra decisão

17 jun 2021, 10:18 - atualizado em 17 jun 2021, 10:18
Ressaca de leve / Se Beber, Não Case! 2 (2011)

Bom dia, pessoal!

Para esta quinta-feira (17), os mercados globais deverão continuar com sua leitura da decisão do Fed, a qual mostrava possibilidade de dois aumentos nos juros até o final de 2023, já tendo começado a discutir quando desacelerar seu nível de compra de títulos, apesar de não mudar nada efetivamente para o presente.

Como antecipamos, o que importava era o comunicado.

Os índices de referência em Wall Street entregaram perdas no dia de ontem (16), assim como o fazem nesta manhã – Europa amanhece predominantemente em meio a quedas, bem como os futuros americanos, que ainda flertam com a estabilidade.

A ver…

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Adeus “ajuste parcial”

No dia seguinte ao nosso Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado deve reagir à decisão apresentada.

O Banco Central seguiu o contratado em sua última reunião e, em linha com o esperado, elevou a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, para 4,25% ao ano (de volta ao nível de fevereiro de 2020, antes da pandemia).

Foi a terceira alta seguida da Selic, em resposta à elevação da inflação (mais de 8% nos últimos 12 meses pelo IPCA), maior expectativa de crescimento para 2021 (podemos crescer entre 5% e 6%) e a falta de estabilidade no câmbio verificada no primeiro trimestre (dólar em quase R$ 6,00).

Agora, nos resta a interpretação do comunicado hawkish (ou contracionista/agressivo), que seguiu a decisão. Em primeiro lugar, foi contratada mais uma elevação de mesma magnitude (75 pontos-base), levando os juros para 5% na próxima reunião marcada para agosto.

Segundo, perdemos o termo “ajuste parcial”, indicando um prolongamento do processo de normalização, agora mirando o juro neutro e não mais patamares estimulativos – devemos caminhar para algo como 6,5% de juros ao ano em uma perspectiva mais conversadora (o juro neutro repousa entre 5,5% e 6,5%, a depender do modelo utilizado).

Com isso, está no radar o impacto sobre o câmbio de um potencial ciclo maior e mais rápido da Selic.

Ou seja, o ciclo de aperto monetário brasileiro atual não deve ser encerrado tão cedo, uma vez que o BC parece bastante decidido em responder de maneira assertiva à inflação, podendo pressionar o dólar, abrindo espaço para que os juros longos também reduzam seus prêmios – mais juros hoje significa menos juros amanhã.

Por sinal, você já deu uma olhadinha no Vitreo Inflação Longa?

Com boas perspectivas fiscais para o segundo semestre (reforma administrativa e tributária) e com a elevação dos juros de curto prazo, montar uma posição estrutural nele parece interessante.

O lado positivo disso tudo é que a inflação ficará mais ancorada, dando melhor suporte aos investidores.

Além disso, a deterioração das expectativas de inflação, que requer uma redução “mais tempestiva” dos estímulos monetários, deriva da melhora na atividade, com boas perspectivas de crescimento para o Brasil.

Nem tudo são flores, claro, ainda temos que enfrentar a dura realidade de quase 500 mil mortos por Covid e a dificuldade de se aprovar a MP da Eletrobras no Senado.

Ainda assim, o horizonte parece menos cinza do que antes.

Decidindo que vai decidir depois da próxima decisão

Como esperado, os dirigentes do Federal Reserve decidiram manter as taxas de juros no país entre 0% e 0,25%, além de continuar com as compras de ativos no patamar de  US$ 120 bilhões por mês. Mas todo mundo já esperava isso.

O que importava era o tom em que faria tal movimento, as eventuais revisões de suas projeções e a coletiva de Powell, logo depois da divulgação. E aqui o mercado teve com o que trabalhar.

O tom veio hawkish (contracionista), como deveria ser depois de tanta atividade econômica ser verificada nos EUA, que poderão crescer mais de 7% este ano, a maior taxa de crescimento em décadas. A autoridade americana elevou sua projeção para a inflação de 2,4% para 3,4% este ano.

A elevação chamaria atenção, se não fosse a manutenção da inflação de 2022 próximo dos 2% – agora é de 2,1%, ante 2,0% projetada anteriormente; isto é, a inflação de agora é transitória e a inflação de longo prazo segue tendendo para 2%.

Assim, mesmo sem ter mudado nada (em termos de política no presente), o Federal Reserve conseguiu alinhar as expectativas do mercado para o que nos espera de 2021 a 2023 – decidiu que vai decidir depois.

Com confiança considerável na recuperação econômica, o Fed já começou a falar sobre redução de compra de ativos (tapering), uma vez que não será mais preciso tanta liquidez se a economia for crescer tanto, ainda que as mudanças iniciais não ocorram tão cedo quanto na próxima reunião.

Outra mudança importante: o famoso gráfico de pontos do Fed. Ele agora mostra sete participantes do FOMC antecipando pelo menos um aumento nas taxas no próximo ano, cinco deles esperando uma alta para 0,25% e dois esperando duas altas para 0,50%.

O gráfico anterior, de 17 de março, mostrava apenas três esperando um aumento nas taxas no próximo ano e um esperando dois. Assim, apesar da maioria de 11 participantes ainda esperar manutenção dos juros no próximo ano, uma tendência mais contracionista já é verificada no interior do Fed.

Correção nas commodities?

Difícil tem sido as últimas semanas para os investidores em commodities, com correção de preços em muitas matérias-primas ao redor do mundo. A grande questão que se coloca é a seguinte: teríamos chegado no pico do ciclo de preços?

Disso nasce uma importante conclusão. As empresas de commodities não precisam necessariamente de preços tão altos para conseguir gerar um fluxo de caixa atraente.

Assim, embora seja válida a ponderação para uma correção do nível de preços ao longo do segundo semestre, o contexto segue positivo para as empresas do setor.

Fica a pergunta: devo vender antes de uma correção de preço ou devo comprar em níveis de valuations baratos?

Muitos modelos nos mostram que várias ações já parecem precificar, ao menos em parte, alguma reversão acentuada e permanente dos preços das commodities.

Assim, entendemos que o ciclo segue de pé, não precisando dos preços nos patamares que as empresas se tornem atrativas (o ciclo de hoje é semelhante ao anterior em magnitude).

No geral, embora muito provavelmente o ciclo de preços tenha atingido níveis muito altos rápido demais, ainda se verifica potencial nas empresas geradoras de caixa no setor de commodities – mesmo corrigindo, os preços devem permanecer bem acima das curvas de custo por mais tempo, sustentando fluxos de caixa altos no futuro.

Com isso em mente, vale conferir o Vitreo Petróleo, Vitreo Urânio e o Vitreo Cobre, que visam capturar justamente este processo.

Anote aí!

A zona do euro inicia o dia com dados de inflação de preços ao consumidor para maio – o núcleo, que exclui itens mais voláteis, veio acima do esperado. Haverá fala de autoridade monetária por lá, como é o caso do economista-chefe do BCE, podendo conter alguma reação ao movimento do Fed de ontem.

De todo modo, o BCE provavelmente será o último grande Banco Central que se juntará ao grupo de países que estão reduzindo o nível de compra de ativos.

Ainda lá fora, nos EUA, teremos a pesquisa de opinião sobre o sentimento econômico, do Fed de Filadélfia, e os pedidos iniciais de auxílio-desemprego.

A fala de Janet Yellen, secretária do Tesouro americano, na Câmara dos Representantes será observada com atenção.

Aqui no Brasil, vale acompanhar a retomada da votação da MP da Eletrobras, que agora carrega jabuticabas com ampliação de privilégios e custos.

Muda o que na minha vida?

As preocupações com a inflação não devem atrapalhar a performance das ações como fizeram no primeiro trimestre do ano.

Depois de ontem, não esperamos que a inflação leve a um aperto prematuro da política monetária nos EUA ou inviabilize um bom desempenho no mercado de ações, o que abre espaço para apetite de risco ao redor do mundo, inclusive favorecendo o fluxo de recursos para países emergentes, como nós.

Veja que vários fatores que impulsionaram a inflação devem desaparecer nos próximos meses, incluindo os efeitos base e o impacto do aumento dos preços da energia, como foi visto no comunicado de ontem do Fed.

Os formuladores de políticas monetárias dos países desenvolvidos têm garantido sistematicamente aos investidores que eles irão aguentar um aumento temporário da inflação.

Os investidores também devem se lembrar que as próprias leituras da inflação são menos confiáveis ​​do que o normal no momento, uma vez que era especialmente difícil medir a inflação em 2020.

Assim, mais preocupante que a inflação em si, acredito ser o eventual pico de crescimento do PIB; isto é, como já acontece na China, o momento em que o crescimento normalizar depois da retomada no pós-pandemia.

Mesmo este, no entanto, não deve preocupar os investidores.

As reflexões de que o crescimento do PIB dos EUA, por exemplo, esteja próximo de um pico podem ajudar a explicar por que as ações dos EUA têm lutado para sair de sua faixa nas últimas semanas.

A expectativa consensual é de um pico no crescimento dos EUA em meados do terceiro trimestre, quando as restrições à pandemia forem suspensas.

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Um abraço,

Jojo Wachsmann