Agrifatto

Boi: Mercado físico esfria e deixa o contrato futuro de outubro andando de lado

02 jul 2019, 13:54 - atualizado em 02 jul 2019, 17:01
Aumento da oferta de animais, sem correspondência com aumento das compras pelos frigoríficos, segura o mercado futuro (Arquivo/Agência Brasil/Agência Brasil)

O descasamento da oferta de boi diante de uma demanda que vinha com expectativa de alta antes do segundo semestre esfriou e segurou o contágio igualmente no mercado futuro. A B3 (B3Sa3) registra aumento das posições em aberto, mas o vencimento driver de outubro não alcança os R$ 165 como se esperava.

Apesar de que a China segue com apetite, a habilitação de novas plantas exportadoras para a o país, que enxugaria mais a disponibilidade de animais, prometida antes do episódio da vaca louca, ainda não mostra sinais concretos. A reabertura do mercado comprador dos Estados Unidos, além da abertura do indonésio, estão em suspenso.

Nesta segunda (1), dia normalmente lento, das mais de 16,3 mil posições em boi gordo – há pouco mais de um mês eram 10 mil -, o outubro contava com mais de 11 mil, quando fechou em R$ 163,65/@. E nesta casa vem transitando há dias.

Embora este contrato costume ser o de maior liquidez na segunda metade do ano, as apostas vinham altas. Chegou a bater os R$ 165,00, quando o mercado se entusiasmou com notícias de que a China liberaria 20 novos plantas frigoríficas, assim que a ministra Tereza Cristina, na Agricultura (Mapa), voltou de lá, e depois recuou.

Alta maior do derivativo, acentua Marco Guimarães, analista da Agrifatto, “com certeza só se vierem novos fatores conjunturais”, que puxem o mercado físico baseado no indicador Cepea/Esalq do boi gordo. Lembra-se aqui que este indicador influi na liquidação do contrato no mês vincendo, geralmente puxando para baixo.

A venda prefixada com entrega futura é basicamente apenas operada pelos grandes grupos, JBS, Marfrig e Minerva

O ágio do outubro sobre o físico circula nos R$ 10,00 e assim poderá permanecer, segundo, por exemplo, Walter Magalhães, pecuarista e operador. Mesmo que ele veja a retomada da pressão dos frigoríficos naquele mês, principalmente com a desova dos bois a termo – venda prefixada com entrega futura, basicamente apenas operada pelos grandes grupos, JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3), no final do segundo giro do confinamento.

“Acredito que as indústrias tentarão jogar para baixo, até nos R$ 150”, destaca Magalhães, com base em Ribeirão Preto e fazenda em Dourados (MS). Sem cravar uma previsão de ágio e preço, Marco Garcia, de Três Lagoas (MS), corrobora a opinião de que virá forte pressão com a maior oferta nas mãos dos três grupos.

Possivelmente sem novidades quanto a novas janelas de exportações e sob um mercado interno com consumo da mão para boca – ainda sem a entrada de parte do 13º salário. “Será que o consumidor brasileiro, no cenário atual, tem condições e está disposto a pagar uma carne mais cara?”, pergunta o analista da consultoria Agrifatto.

Diante do cenário, Douglas Coelho, sócio da Radar Investimentos, pensa que o andamento do mercado futuro na B3, para o contrato do antepenúltimo mês do ano, está refletindo satisfatoriamente e com possibilidades de aumento no volume de posições compradas. Pontualizando, ele mostra que não há muitos compradores ativos no mercado físico e as escalas andaram um pouco (programações de abates), o que significa que há menor necessidade de originação de animais, embora em plena entressafra.

Depois que o episódio da vaca louca foi superado e as exportações para a China foram retomadas, com reflexo na alta do boi que havia caído até R$ 10,00, o mercado voltou a ficar mais acomodado.

Trava

O mercado a termo, com as Call e Put, segue como opção de hedge para os investidores, mais procurado pelos pecuaristas do que pelos especuladores. “Especialmente para quem tem boi no pasto”, lembra Coelho, da Radar.

Mas essa trava está sendo vista como cara hoje, com o produto base mais alto. Uma Put (opção de venda) para outubro a R$ 157 custava nesta segunda mais ou menos R$ 1,35. Para Marco Guimarães, da Agrifatto, o mais razoável seria em torno dos R$ 1,20, com maior margem de segurança para o produtor.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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