Mercado financeiro precisa ir além da Faria Lima ou a festa acaba
Apesar de o número de investidores pessoas físicas no Brasil ter superado a marca de 1 milhão em 2019 e estar perto dos 2 milhões, o acesso aos investimentos ainda está muito distante dos brasileiros.
Além disso, a gama de produtos financeiros é escassa. O acesso de uma pessoa comum ao mercado global, por exemplo, é quase impossível. Quando não é, o governo e a CVM ainda mantêm regras que a deixam de fora.
Um exemplo gritante desta deficiência tupiniquim foi a venda de ações da XP Investimentos (XP) na Nasdaq, em Nova York. Além disso, a B3 (B3SA3) está firme em seu monopólio e pouco disposta a contribuir para a chegada de uma nova bolsa.
Mesmo com alguns esforços recentes de abertura do Banco Central, como a possibilidade de possuir dólares em conta corrente no Brasil, esta iniciativa ainda depende da boa vontade do Congresso e é ainda muito pequena e para um seleto grupo de pessoas.
Juros
Para o economista Dev Ashish, do Societé Générale, não há mais muito espaço para um alívio sequencial e prolongado dos juros sem que o mercado financeiro se desenvolva para valer. Hoje a Selic está em 4,5% ao ano, o menor nível histórico.
“Uma maior integração dos mercados financeiros brasileiro e global pode resultar em taxas de juros reais mais baixas no longo prazo, independentemente das pressões inflacionárias. A abertura e outras reformas que promovem a eficiência podem garantir ganhos nas frentes de inflação e taxa de juros”, relata o especialista em economias da América Latina.
São três pontos principais:
1 – Ashish ressalta que o subdesenvolvimento dos mercados financeiros e a segmentação do mercado de crédito foram os principais fatores por trás das altas taxas de juros reais no Brasil.
“Isso resultou em um consumo desigual, promovendo a intermediação financeira ao custo da capacitação. A forte presença do setor público no setor financeiro e o nível substancial de crédito direcionado distorceram o preço do crédito no mercado e promoveram a ineficiência”, aponta.
A mudança de postura do BNDES pode ser um indicativo para a solução deste ponto.
2. Além disso, o economista pontua que a natureza fechada da economia e do mercado financeiro manteve as taxas de juros artificialmente altas.
“Seria ideal para os formuladores de políticas abrir a economia e liberalizar o mercado financeiro para aumentar a eficiência e reduzir as taxas de juros”, indica.
Segundo ele, a atual atmosfera política é propícia a reformas adicionais. No entanto, essa também é a principal fonte de risco no longo prazo.
3. Por fim, o economista pontua que, tradicionalmente, a alta inflação e baixa poupança interna contribuíram para manter altas as taxas de juros reais.
“Acreditamos que, embora as taxas de juros reais provavelmente subam com a recuperação do crescimento no Brasil, elas podem declinar com base na tendência a longo prazo, principalmente se a economia for aberta e as reformas do mercado financeiro forem implementadas”, pondera.
Ou seja, o mercado financeiro precisa ir além da Faria Lima, ou a festa pode ter uma duração curta.