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Pré-Market: Mercado fecha abril de olho em eventos em maio

30 abr 2018, 9:21 - atualizado em 30 abr 2018, 9:23

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O mercado financeiro tem liquidez reduzida neste último dia de abril, que ficou espremido entre o fim de semana e o feriado pelo Dia de Trabalho, celebrado amanhã no Brasil e em vários países do mundo. Com isso, o investidor aproveita para reavaliar os números do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, conhecidos na última sexta-feira, antes de uma série de eventos econômicos importantes no país nos próximos dias, que pode definir o rumo dos juros norte-americanos.

Por ora, os negócios no exterior mantêm a correção observada ao final da semana passada, com o rendimento (yield) do título de 10 anos dos EUA (T-note) orbitando ao redor de 2,96%, o que abre espaço para uma recuperação das bolsas internacionais, que são embaladas pelo noticiário corporativo. Os resultados trimestrais das empresas e anúncios de fusões e aquisições impulsionam os preços dos ativos globais.

Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York estão em alta, após uma sessão de ganhos na Ásia – apesar dos mercados no Japão e na China permanecerem fechados hoje – e em meio a uma abertura positiva na Europa. O dólar, por sua vez, ganha terreno das moedas rivais, o que penaliza as commodities, com o petróleo e o ouro em queda. Os metais básicos, porém, avançam.

Mas são os números econômicos nos EUA que irão ditar o rumo do mercado financeiro nesta semana, com o ritmo de aumento dos juros norte-americanos e do yield da T-note seguindo em foco, uma vez que o Federal Reserve se reúne para a próxima decisão de política monetária a partir de amanhã, em meio à divulgação de dados sobre atividade, inflação e emprego no país.

É fato que os números do PIB mostraram que houve uma desaceleração no crescimento econômico norte-americano no início de 2018 em relação à expansão de 2,9% ao final de 2017, denotando certa decepção, diante da expectativa de um impulso imediato vindo dos cortes de impostos promovidos pelo governo Trump. Ainda assim, a expansão da economia ao ritmo anualizado de 2,3% está bem acima do PIB potencial do país.

E é justamente esses sinais de aquecimento da atividade que preocupam o Fed, diante do aumento da pressão sobre os preços e os salários. Os dados do PIB também mostraram que o núcleo do índice de gastos com consumo (PCE), que exclui itens mais voláteis, cresceu 2,5%, ficando acima da meta de 2% perseguida pelo Fed, enquanto o custo do emprego registrou o maior aumento desde 2008, em base anual.

Assim, não é a pequena diminuição no crescimento do PIB que preocupa. Afinal, a economia dos EUA tem repetidamente colocado o pé no freio no início de cada ano nos últimos tempos, por causa das condições climáticas mais severas no período. O fator-chave é o salto nos preços e no crescimento dos salários, que podem continuar decolando diante das condições de pleno emprego e do aumento da renda disponível.

Tudo vai depender, então, das perspectivas para o consumo na maior economia do mundo, uma vez que o cidadão está sendo mais bem pago, porém tem economizado mais, reduzindo os gastos e quitando dívidas. Mas se a inflação nos EUA continuar dando indícios de que está aumentando mais rapidamente, o Fed pode ser obrigado a apertar a taxa de juros de forma mais agressiva neste ano.

A autoridade monetária pode lançar luz sobre esse cenário na reunião deste mês, que começa amanhã e termina na quarta-feira. Não se espera nenhuma ação em maio, mas podem surgir novas pistas sobre quando se dará o próximo aumento nos juros norte-americanos – provavelmente já em junho – e quantas altas devem ocorrer ao longo de 2018.

Ou seja, o mercado buscará extrair no comunicado da reunião do mês de maio alguma mudança de tom. Mais que isso, os investidores querem saber se o Fed chancela a recente abertura no yield dos títulos do país (Treasuries), uma vez que o achatamento nos prêmios indicava uma recessão econômica à frente.

Na curva implícita, as apostas são de que um novo aperto nos juros acontecerá já em junho, levando a taxa dos FFR (Fed Funds Rate) para o intervalo entre 1,75% e 2,00%. Mais um aumento é esperado, em setembro, sendo que o encontro em dezembro está em aberto, com as apostas divididas entre manutenção e uma quarta e última alta em 2018.

A questão é que no segundo semestre deste ano, o mercado irá perceber que os maiores riscos nos EUA não estão no Fed ou nas Treasuries, mas do lado fiscal. Com a decisão do presidente Donald Trump, sancionada pelo Congresso, de estimular um crescimento já robusto – em meio à política de aumento de gastos públicos e cortes de impostos – é a questão do déficit orçamentário e o crescente edividamento do país que ficará em evidência.

Mas enquanto esse fato segue longe do radar, as atenções continuam concentradas nos indicadores econômicos dos EUA. No mesmo dia em que termina a reunião do Fed, tem o relatório da ADP sobre a criação de postos de trabalho no setor privado norte-americano em abril.

Depois, o foco se volta para o relatório oficial de emprego nos EUA (payroll) também em abril, na sexta-feira. Já nesta segunda-feira, merece atenção o índice PCE referente ao mês de março, juntamente com os dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo – todos às 9h30.

Na agenda doméstica, a segunda-feira traz a Pesquisa Focus (8h30) do Banco Central, que deve trazer uma nova rodada de revisões, para baixo, nas estimativas para a inflação (IPCA) e o PIB no Brasil neste ano. Afinal, o desemprego elevado e a renda estável afetam o consumo das famílias, prejudicando o crescimento do PIB, sem pressão de demanda nos preços.

O destaque desta semana no Brasil fica dividido entre o balanço trimestral do Itaú, amanhã, e o desempenho da produção industrial em março (quinta-feira). O dado de atividade deve traçar um cenário sobre o ritmo do setor e da economia brasileira no acumulado do primeiro trimestre deste ano. Já o resultado do maior banco do país deve seguir robusto, com lucro na faixa de R$ 5 bilhões a cada três meses.

Dados de atividade na indústria e nos serviços no exterior recheiam o calendário até sexta-feira. Na zona do euro, tem ainda números preliminares do PIB (quarta-feira) e da inflação no atacado e no varejo, na quinta-feira.

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