Mercado está dividido entre corte de juros da Selic de 0,75 ponto e 1 ponto em julho
Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
O mercado financeiro está dividido sobre de quanto deve ser o corte dos juros básicos Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em julho. Segundo Pablo Stipanicic Spyer, diretor de Operações da Mirae Corretora, as probabilidades implícitas nos contratos futuros de juros da B3 estão em 50% para um corte de 0,75 ponto percentual e 50% para 1 ponto percentual. Hoje, os juros estão em 10,25%, e o Copom já indicou que poderá reduzir o ritmo de corte de juros, de 1 ponto percentual na reunião no fim de maio.
A divisão do mercado vem dos indicadores ainda mais fracos de inflação e atividade econômica, afetada agora pela crise política após as denúncias de Joesley Batista, da JBS, contra o presidente Michel Temer. Com o IPCA caminhando para deflação em junho, o BC poderia rever a previsão dada na reunião do Copom e aceitar um corte maior dos juros. Para Spyer, da Mirae, porém, não há muito espaço para cortes. “Estou convicto de que será um corte de 75 pontos básicos”, afirma. “Mesmo a inflação desacelerando mais, (mais desinflacionária ainda, o impasse político e as incertezas vencem a disputa”, acredita.
Enquanto as incertezas políticas perduram, o BC aproveitou a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação para deixar aberta a janela para reduzir a Selic em 0,75 ou 1,00 pontos percentuais em sua próxima reunião, afirma a Rosenberg Associados. Atribuiu sua ênfase à “redução moderada do ritmo de flexibilização monetária” em seu último
comunicado ao desejo de frear expectativas de reduções ainda menores (de 0,50 ponto).
O próprio diretor do BC, Carlos Vianna, falou a respeito disso na entrevista coletiva pós-relatório: “Sobre o parágrafo 22, (…), falando muito concretamente daquela circunstância, se você olhar o comportamento dos mercados por volta ali do dia 18/05 e os dias seguintes, os preços chegaram a refletir uma probabilidade relevante de o próximo movimento de política monetária ser de apenas 0,50 ponto e nos parecia uma reação exagerada, dada a conjuntura”, disse. “Acho que temos alguns colchões importantes que temos destacado ao longo do tempo, no balanço de pagamentos, na própria inflação baixa, espaço para flexibilização, etc”, explicou. “Então, nos parecia que havia um valor adicional em limitar esse escopo e ajudar o mercado a tirar probabilidade ou reduzir bastante probabilidades em resultados ou em decisões que nos pareciam realmente muito pouco prováveis”.
Desta forma, diz a consultoria, o BC abrandou a importância da sinalização dada no comunicado do Copom, de redução do ritmo de cortes, e enfatizou que sua decisão dependerá da evolução do cenário, explica a Rosenberg. Essa evolução abrangerá principalmente a inflação, que continua em queda, a atividade, com sinais ainda conflitantes sobre a retomada da economia, especialmente na arrecadação federal abaixo do esperado, e a evolução das reformas no Congresso.
“Considerando tudo, o cenário e a conjuntura econômica sinalizam espaço para corte de 1 ponto percentual; a incerteza política, contudo, poderá levar o BC a ser mais cauteloso”, diz a Rosenberg. “Mantemos nossa percepção de corte de 0,75 ponto, mas, alertando que, num ambiente político com menos alvoroço, o pêndulo pode levar para
1 ponto ao final de julho e/ou a uma taxa Selic final mais baixa que os 8,5% ora esperados”, avalia.