Mercado erra ao esperar cortes de juros nos EUA, diz BlackRock
Na visão da BlackRock, o Federal Reserve continuará elevando os juros, apesar de traders apostarem o contrário diante do impacto da crise bancária sobre os mercados.
A maior gestora de ativos do mundo prefere os títulos indexados à inflação – que oferecem proteção contra o aumento dos preços – sob a análise de que os mercados estão errados ao esperar cortes iminentes das taxas nos EUA, enquanto a economia caminha para uma recessão. Desta vez é diferente, já que o Fed e outros bancos centrais deixaram claro que os problemas que atingem o setor bancário não interromperão a batalha contra a inflação, escreveram estrategistas do BlackRock Investment Institute, entre eles Wei Li, em nota a clientes.
“Não vemos cortes de juros este ano – esse é o velho manual quando os bancos centrais se apressariam para resgatar a economia quando vem a recessão”, disseram os estrategistas. “Vemos uma fase nova e mais sutil de controle da inflação à frente: menos luta, mas ainda sem cortes de juros.”
A gestora mantém posição “underweight” em ações de economias desenvolvidas, acrescentou.
A visão da BlackRock se choca com a da TD Securities e da DoubleLine Capital, segundo as quais o Fed está errado sobre a necessidade de continuar subindo os juros em meio ao maior risco de recessão.
O colapso de vários bancos americanos e do Credit Suisse neste mês leva a uma reavaliação global do cenário para a política monetária, ao mesmo tempo em que provoca as maiores oscilações nos rendimentos dos Treasuries em mais de uma década.
Os rendimentos das notas de 2 anos dos EUA – entre os títulos mais sensíveis a ajustes na política do Fed – estendiam a recuperação da segunda-feira em relação aos níveis mais baixos deste ano, diante dos menores temores de contágio no setor bancário. Embora investidores tenham voltado a precificar um aumento de 0,25 ponto percentual do Fed em maio, também apostam que os mercados ainda não estão completamente fora de perigo, e pode haver cerca de 65 pontos-base de cortes de juros até o final do ano.
Dados econômicos recentes dão crédito à visão da BlackRock de que o Fed pode estar “subestimando o quão teimosa a inflação tem se mostrado devido a um mercado de trabalho apertado”. O núcleo dos preços ao consumidor dos EUA subiu em fevereiro, enquanto pesquisa do Fed de Nova York revelou que a inflação pode persistir por mais tempo do que o esperado anteriormente.
“Achamos que o Fed só poderia entregar os cortes de juros precificados pelos mercados se uma crise de crédito mais séria ocorresse e causasse uma recessão ainda mais profunda do que esperamos”, disseram os estrategistas da BlackRock.