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Mercado e riscos da Ômicron impõem novos desafios a virada na política monetária do Fed

20 jan 2022, 8:43 - atualizado em 20 jan 2022, 8:43
Federal Reserve
O encontro da próxima semana era visto como aquele que permitiria ao Fed começar a refinar a mensagem de um provável aumento inicial da taxa de juros em março com uma redução do balanço no fim do ano (Imagem: Reuters/Leah Millis/File Photo)

Autoridades do banco central norte-americano (Fed), que traçaram o que parecia um claro plano de batalha contra a alta inflação, agora devem enfrentar novos sinais de que o coronavírus está desacelerando a economia outra vez, bem como o aperto das condições financeiras pelo mercado mais rapidamente do que os formuladores de política monetária do Fed esperavam.

A combinação de dados econômicos numa direção e investidores em outra pode tornar a reunião do Fed na próxima semana inesperadamente complexa, à medida que as autoridades tentam equilibrar a incerteza contínua sobre a crise de saúde com mercados que se ajustam rapidamente em torno das projeções de que o Fed pode precisar agir ainda mais agressivamente contra a inflação.

O banco central deixou claro que as taxas de juros subirão neste ano –em sua reunião de dezembro, todos os membros esperavam pelo menos um aumento da taxa e metade esperava três– e que também reduzirá sua carteira de ativos de quase 9 trilhões de dólares como um segundo meio para apertar a política monetária.

O encontro da próxima semana era visto como aquele que permitiria ao Fed começar a refinar a mensagem de um provável aumento inicial da taxa de juros em março com uma redução do balanço no fim do ano.

Mas as apostas foram ainda mais longe.

Dados recentes de gastos no varejo foram decepcionantes, as medidas em tempo real da atividade econômica caíram e as contratações podem ter diminuído em resposta à enorme onda de infecções por coronavírus impulsionada pela variante Ômicron.

O ritmo diário de infecções agora pode estar diminuindo, mas outros riscos para a recuperação permanecem, incluindo um declínio nas despesas do governo federal, cujos gastos ajudaram a sustentar a renda disponível para as famílias durante a pandemia.

Dados do provedor de folha de pagamento UKG mostraram que o trabalho por turnos diminuiu 5% na semana finda em 16 de janeiro em comparação com a semana anterior, sinal de que as infecções por coronavírus podem produzir outro relatório de emprego decepcionante em janeiro, após a abertura de apenas 199 mil postos em dezembro.

“A recuperação enfraqueceu um pouco mais” no início do ano, com indicadores de emprego abaixo de onde estavam antes do recesso de fim de ano, disse o economista da Oxford Economics Oren Klachkin, com o surto da Ômicron “arrastando o emprego”. O índice de recuperação calculado pela empresa atingiu 100 em outubro, antes de cair nas últimas semanas.

As autoridades do Fed esperam que o impacto da pandemia na economia diminua em breve, mas terão de viver em dúvida até que fique claro que a variante Ômicron arrefecerá nos Estados Unidos tão rapidamente quanto na África do Sul e como parece estar acontecendo em outros lugares.

O Fed está tratando os sinais de crescimento lento “como temporários, devido inteiramente a interrupções relacionadas à Ômicron”, escreveu o economista-chefe da Natixis, Joseph Lavorgna. “Isso seria um erro. Haverá um aperto histórico das condições fiscais neste ano… A elevação das taxas de juros em uma economia em desaceleração aumenta os riscos” de a política monetária do Fed esfriar ainda mais o crescimento e talvez desencadear uma recessão.

Zunido no mercado

Na reunião de dois dias da próxima semana, de terça e quarta-feiras, o desafio é reconhecer os riscos econômicos do vírus sem diminuir o compromisso de combater a inflação ou, inversamente, parecer tão preocupado com os preços de forma a levar o investidor a esperar um Fed ainda mais rígido.

O mercado, por ora, aceitou o consenso do Fed sobre aumentos de juros e se ajustou a ele.

Os mercados futuros de taxas de juros refletem fortes chances de até cinco aumentos de juros neste ano de 0,25 ponto percentual cada, e os custos de empréstimos no mundo real para consumidores que desejam comprar uma casa, corporações que buscam levantar capital e até mesmo o governo dos EUA dispararam como consequência.

As ações dos EUA caíram acentuadamente desde o início do ano, com investidores temendo que as taxas de juros mais altas golpeiem papéis de tecnologia e crescimento.

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O mercado, por ora, aceitou o consenso do Fed sobre aumentos de juros e se ajustou a ele (Imagem: REUTERS/Chris Wattie)

Os mercados estão cheios de rumores de que o banco central pode fazer história com seu primeiro aumento de 0,50 ponto percentual no juro em mais de 20 anos e repleto de especulações de que a instituição começará a reduzir seu balanço mais rapidamente do que o previsto e apertar as condições de crédito em mais um degrau.

Mesmo as autoridades do Fed mais preocupadas com a inflação sabem que há limites para a rapidez com que o banco central pode se mover sem arriscar uma reação nos mercados financeiros que poderia desacelerar os gastos e as contratações mais do que o desejado.

Questionado sobre a possibilidade de o Fed elevar as taxas em 0,50 ponto percentual em março como uma espécie de tratamento de choque contra a inflação, o diretor do Fed Chris Waller disse que não havia clima para isso.

“Não preparamos os mercados para nada tão dramático”, disse Waller à Bloomberg TV na semana passada.

Mas o Fed está em uma situação que não enfrenta há muito tempo –ou nunca enfrentou– ao tentar reduzir a inflação num ambiente em que as cadeias de suprimentos globais podem sofrer um ajuste prolongado, alimentando preços mais altos por um canal além da influência do Fed.

A atual safra de formuladores de política monetária do Fed, por uma década ou mais, tem se preocupado principalmente com a inflação muito baixa, com praticamente nenhuma experiência em reduzi-la.

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