Mercado de energia monitora impacto de ajuda de Itaipu à Argentina sobre preços
A decisão do governo brasileiro de permitir que a hidrelétrica de Itaipu realize aberturas controladas do vertedouro para ajudar no escoamento das safras de grãos da Argentina e do Paraguai tem sido monitorada por operadores do mercado de energia, que veem algum impacto nos preços.
A manobra da hidrelétrica binacional, parceria entre Brasil e Paraguai, veio após insistentes pedidos dos argentinos, que têm visto uma forte seca reduzir o nível das águas do rio Paraná a mínimas em quase 50 anos, o que aumenta custos de exportadores ao reduzir a quantidade de carga que cada navio pode carregar.
O diretor da comercializadora de eletricidade Energética, Laudenir Pegorini, disse à Reuters que técnicos da empresa estão estudando os efeitos do movimento de Itaipu sobre os preços, mas ressaltou que qualquer vertimento de água tende a apoiar as cotações no mercado de curto prazo de eletricidade.
“Qualquer coisa que mexe em vertimento impacta preço”, afirmou ele, ressaltando no entanto que o efeito prático deverá ser aliviado em boa medida pela forte queda no consumo de energia no Brasil decorrente da pandemia de coronavírus.
Essa redução da demanda levou os preços no mercado de curto prazo de eletricidade, ou Preços de Liquidação de Diferenças (PLDs), a desabarem a partir do final de março, quando começaram quarentenas para reduzir a disseminação do vírus.
Depois de semanas no patamar mínimo permitido pela regulação, de 39,7 reais por megawatt-hora, o PLD, ou preço spot, recuperou-se em maio, para 86 reais nas regiões Sul e Sudeste.
Para a próxima semana, os preços estão estimados em cerca de 90 reais por megawatt-hora, disse o presidente da comercializadora Bolt Energias, Gustavo Ayala.
“Seria 60 reais por MWh sem essa manobra de Itaipu. Estimamos que impactou em 30 reais/MWh para cima”, disse ele à Reuters.
No mês passado, Itaipu já havia aumentado a vazão a pedido dos argentinos. Mas desde a última segunda-feira a usina passou a promover aberturas do vertedouro para liberar mais água para o rio Paraná, o que deverá acontecer por 12 dias.
A região Sul tem atravessado um período mais seco desde meados do ano passado, o mesmo que afeta o nível do Paraná pelo lado da Argentina, o que tem aumentado a volatilidade dos preços spot, disse o sócio da Tempo Energia, Henrique Nagayoshi.
“Olhando o histórico desde 1931, estamos com a pior afluência (para a região Sul) nos meses de março a junho e no acumulado e janeiro a junho também”, apontou.
“Outra variável é a cota (operativa) de Itaipu”, acrescentou ele, projetando que os preços poderiam cair em 45 reais por megawatt-hora na próxima semana se não fossem os vertimentos na usina binacional.
Alguns, no entanto, estimam reflexos menores sobre as cotações no mercado de eletricidade.
O sócio da True Comercializadora, Gustavo Arfux, disse que o impacto acaba “amortecido” pela forte retração da carga devido ao coronavírus e devido à condição favorável de oferta no sistema elétrico do Brasil em geral, à exceção do Sul.
“A gente viu aqui um impacto pequeno, coisa de 5 reais por megawat-hora. Porque Itaipu já não estava com armazenamento alto, estava perto da cota 219 (metros), que é próximo ao 0% dela. Então, quando você abaixa para 217m, o impacto para preço é baixo”, analisou.
Com a abertura do vertedouro, Itaipu estima que poderá contribuir diariamente com uma vazão defluente média de 8,5 mil metros cúbicos por segundo para o rio Paraná, o que deve permitir elevação de 2 a 3 metros no nível das águas nos países vizinhos.
Isso deverá envolver rebaixamento de entre 1,5 e 2 metros no nível do reservatório da usina binacional até o final de maio.