Mercado de Crédito: O que esperar para 2025?
O ano de 2024 iniciou-se com um cenário promissor, apoiado pela resiliência da economia global e pelos avanços no processo de desinflação.
Nos meses de novembro e dezembro de 2023, os mercados globais registraram uma recuperação robusta,
alimentando o otimismo dos investidores e levando a uma valorização dos ativos de risco.
As ações internacionais apresentaram um desempenho marcante, com o S&P 500 e o Nasdaq acumulando ganhos expressivos, 13,7% e 16,8%, respectivamente.
No Brasil, o mercado acionário também teve destaque, encerrando o ano com uma valorização de 22,8% em dólares.
No mercado de crédito, a recuperação foi igualmente notável. O spread médio de crédito do IDEX-CDI Geral, que havia alcançado um pico de 3,4% após os eventos de Americanas e Light no início de 2023, começou 2024 em 2,2% e fechou o ano em 1,9%.
Esse desempenho foi impulsionado por captações líquidas positivas nos fundos de crédito, que registraram uma entrada acumulada de R$ 292,5 bilhões até agosto de 2024.
Desafios e percalços ao longo do ano
Apesar de um início promissor, 2024 trouxe desafios significativos. Nos Estados Unidos, a robustez da economia adiou os cortes de juros esperados, frustrando as expectativas globais e aumentando a pressão sobre os mercados emergentes.
No Brasil, o cenário fiscal tornou-se um motivo de preocupação, com o risco crescente de descontrole das contas públicas e deterioração das expectativas econômicas.
O Banco Central enfrentou dificuldades em conter a inflação, que ultrapassou o teto da meta.
A combinação de um mercado de trabalho aquecido, depreciação cambial e alta nos preços dos alimentos levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar a taxa Selic para 12,25% a.a., com projeções apontando para um patamar de 14%-15% a.a. ao final do ciclo de alta.
Essa política monetária restritiva impacta severamente a atividade econômica, principalmente as empresas mais alavancadas e setores sensíveis ao custo do crédito.
No cenário internacional, a vitória republicana nas eleições norte-americanas trará uma agenda de medidas protecionistas, cortes de impostos e estímulos focados na economia doméstica, consolidando a expectativa de juros longos elevados (higher for longer).
Na China, os pacotes de estímulo econômico ficaram aquém das expectativas, resultando em um consumo interno enfraquecido e um mercado imobiliário ainda muito fragilizado.
Essa combinação de fatores internacionais contribuiu negativamente para a dinâmica local de juros e câmbio, já pressionados, dificultando ainda mais o contexto.
Destaque positivo: o pujante (e líquido) mercado de dívida brasileiro
Um dos grandes destaques positivos de 2024 foi o desempenho do mercado primário de dívida no Brasil. O predomínio de dívidas indexadas ao CDI favorece o trade de “carrego”, acompanhado pela alta da Selic.
A busca por títulos isentos ganhou força com o fim da isenção de come-cotas em fundos exclusivos (Lei nº 14.754/2023) e as restrições impostas pela Resolução CMN nº 5.118 nos lastros de operações de CRIs e CRAs, limitando a oferta potencial desses títulos.
As emissões de debêntures incentivadas alcançaram o recorde de R$ 120,3 bilhões entre janeiro e novembro, um aumento de 77,4% em relação a 2023, com um prazo médio de 12,6 anos, acima da média de 7,8 anos das debêntures gerais.
No mercado primário, o total de emissões de crédito chegou a R$ 405,5 bilhões no mesmo período, marcando o
melhor desempenho da série histórica.
A liquidez também avançou consideravelmente. Segundo dados da B3, o volume médio diário de transações no mercado secundário de crédito privado cresceu de cerca de R$ 1,5 bilhão em 2021 para R$ 4,3 bilhões em 2024, ultrapassando a marca de R$ 10 bilhões em alguns dias de pico.
Nesse contexto, o volume negociado de debêntures aumentou 28% em relação ao mesmo período de 2023, reforçando maior nível de maturidade no que se refere a liquidez.
Além disso, o mercado de FIDCs assumiu posição importante nesse mercado, com captação superior a R$ 50 bilhões nos últimos 12 meses, consolidando-se como uma alternativa às debêntures atrativa em um ambiente
de spreads comprimidos.
Perspectivas para 2025
Estratégias para navegar no Mercado de Crédito
A estratégia de Crédito da BRZ Investimentos para 2025 será guiada por um foco em emissores de setores não cíclicos, priorizando empresas com alta liquidez, robusta geração de caixa e nível de alavancagem controlado, considerando a maior sensibilidade das empresas cíclicas ou com obrigações de curto prazo às oscilações
macroeconômicas.
Ativos indexados ao CDI devem ganhar destaque devido aos seus spreads mais atrativos em comparação com ativos IPCA+, à manutenção de um cenário de juros elevados, e à menor volatilidade, proporcionando estabilidade em meio às incertezas econômicas e políticas.
Além disso, os produtos estruturados, como FIDCs multicedente-multisacado e de Crédito Consignado Públicos, continuam atraentes ao combinar pulverização de risco com retornos superiores, apresentando uma relação risco-retorno bastante interessante.
Em suma, no ano que se inicia, a abordagem deverá ser marcada pela cautela na alocação de recursos, busca de assimetrias que maximizem a relação risco-retorno e diversificação, elemento central para capturar oportunidades em um ambiente desafiador e de alta incerteza.