Mercado dá recado a Lula sobre teto de gastos, dinheiro saindo com risco de não voltar
Durou muito pouco a lua de mel entre o mercado financeiro brasileiro e a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. E o mesmo mercado dá recado a Lula sobre ameaças ao teto de gastos.
Se na primeira semana após o fim das eleições a bolsa subiu respeitáveis 3,16%, na semana seguinte ela caiu 5%, que só não foi pior por uma boa recuperação do Ibovespa no último dia da semana.
E o que mudou tão repentinamente na visão dos investidores? A percepção do que o governo Lula pretende para a economia do país.
Num primeiro momento, o fluxo de capital estrangeiro foi amplamente positivo para o Brasil, com a expectativa de que Lula faria um governo mais voltado ao lado social, mas com uma grande responsabilidade fiscal.
Porém, assim que o futuro presidente do país começou a fazer seus discursos durante os últimos dias, o sentimento que predominou nos investidores foi aquele famoso “opa…”.
E qual foi o gatilho para essa mudança de comportamento dessa entidade chamada “mercado financeiro”? O desdém do presidente com teto de gastos.
Discurso agressivo
O discurso realizado pelo presidente no último dia 10 foi considerado extremamente agressivo por muitos setores da economia, colocando a responsabilidade fiscal e social como adversárias que não podem coexistir no mesmo ambiente.
Uma frase do presidente resume bem este pensamento: “Por que as pessoas são obrigadas a sofrer para garantir a tal da responsabilidade fiscal deste país? Por que toda hora falam que é preciso cortar gastos, é preciso fazer superávit, é preciso cumprir teto de gastos?”
Qualquer pessoa que entenda o mínimo de gestão financeira pode responder isso rapidamente, sem precisar criar uma teoria altamente complexa para tal explicação.
Em poucas palavras, sem responsabilidade fiscal acaba o dinheiro. E sem dinheiro, não tem como bancar programas sociais. Simples assim.
Chega a ser impressionante, dada a situação caótica que se observa em vários países que não controlaram bem suas contas, que se defenda este tipo de tese justamente para fornecer programas sociais sustentáveis e duradouros para a população.
Histórico preocupante
Fico ainda mais impressionado com esta posição quando olhamos o passado de curto prazo político do Brasil e do próprio Partido dos Trabalhadores.
Afinal de contas, foi a péssima gestão financeira do país sob a tutela de Dilma Roussef, com assessoria de Guido Mantega (presença constante nas discussões do plano econômico do novo governo), que acabaram levando ao impeachment da presidenta.
Para completar, a demora em definir qual será a equipe que irá dirigir a economia do país sob o governo Lula aumenta o desconforto. Henrique Meirelles, nome ventilado por um algum tempo e que possui um bom alinhamento com o mercado financeiro, deixou claro que está fora.
Para piorar, ainda afirmou que Lula “dilmou” antes mesmo de começar seu governo.
Assim, a definição de um nome para o ministério da Fazenda que traga credibilidade e alinhamento com a responsabilidade fiscal se torna essencial para que a situação do país não piore ainda mais.
Afinal de contas, como diz uma frase famosa no mercado financeiro, o dinheiro é o animal mais arisco que existe: ele foge ao menor sinal de perigo.
Fuga de capitais
Explorando um pouco melhor essa frase, o investidor vai continuar tirando seu dinheiro do país se esse tipo de gestão financeira for realmente levada às últimas consequências. E esse dinheiro só volta se a recompensa for proporcional ao risco.
No caso, se a taxa de juros for ainda mais alta do que a atual, encarecendo ainda mais a dívida pública do país.
Todo este cenário, por consequência, dificulta ainda mais a aplicação dos programas sociais tão ansiados pelo novo governo. A conta simplesmente não fecha, já que o dinheiro não surge do nada: ou vem de investidores, ou vem do bolso da população.
Portanto, se o governo realmente quer atuar em prol dos mais necessitados, como alardeado durante toda a campanha, está na hora de partir para um modelo mais responsável em termos de economia, que possa fazer a aplicação de seus programas a longo prazo, e não apenas para tentar garantir a eleição do sucessor no próximo mandato.
Caso contrário, o risco de Lula seguir pelos mesmos caminhos do governo Dilma, com cenário de recessão e empobrecimento da população, é enorme.
E quem mais perde neste cenário é, justamente, quem o novo presidente mais diz se importar.
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