Mercado dá de ombro a aperto de mão entre Trump e Kim
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.
O aperto de mão entre o presidente Donald Trump e o ditador Kim Jong Un foi recebido com desdém pelos mercados globais, que estão mais preocupados com uma série de eventos e indicadores econômicos a partir de hoje. Com isso, os investidores tendem a manter a cautela nos negócios, o que encurta o fôlego de alta dos ativos de risco nesta manhã.
Apesar do evento histórico em Singapura, o humor no mercado financeiro não mudou muito, pois os investidores já haviam descartado o risco de um conflito militar na Ásia. O mais importante, daqui para frente, é a execução e a implementação do acordo de desnuclearização completa da Península Coreana firmado entre Trump e Kim.
O destaque nesta terça-feira fica, então, com a inflação ao consumidor nos Estados Unidos (CPI) em maio (9h30), que pode calibrar as apostas em relação ao total de altas na taxa de juros norte-americana neste ano, reacendendo o debate sobre os quatro aumentos. O segundo aperto monetário de 2018 deve acontecer amanhã, quando termina a reunião do Federal Reserve, que começa hoje.
Por ora, as expectativas majoritárias são de três aumentos até dezembro, cenário que contempla apenas mais uma alta ao longo do segundo semestre deste ano. O primeiro aperto aconteceu em março e a elevação deste mês deve ser na mesma magnitude, de 0,25 ponto, levando a taxa de juros nos EUA para o intervalo entre 1,75% e 2%.
Mas os indicadores econômicos recentes podem levar o Fed a acelerar o passo, de modo a conter as pressões inflacionárias vindas dos salários em um cenário de pleno emprego. Uma subida mais rápida na taxa de juros dos EUA tem potencial para atrair recursos aplicados em países mais arriscados, como Brasil, desencadeando um novo estresse por aqui.
Em contrapartida, se o Fed não trouxer surpresas, esquivando-se de um tom mais duro (“hawkish”), o dólar pode até cair um pouco mais, buscando níveis mais próximos de R$ 3,60, aliviando a pressão sobre os ativos domésticos. Mas, o investidor não deve se iludir, pois as preocupações com a questão fiscal e o cenário eleitoral indefinido inibem uma melhora consistente dos negócios locais.
Ciente desses riscos, o mercado financeiro já iniciou uma sequência de revisões nos principais indicadores econômicos, piorando as estimativas para a inflação e o crescimento econômico. Enquanto o PIB brasileiro deve crescer menos de 2% em 2018, o IPCA deve ficar mais próximo da meta de 4,25% em 2019, em meio ao avanço do dólar e do juro básico. Aliás, são crescentes as chances de alta da Selic ainda neste ano.
Ainda na agenda econômica norte-americana do dia, sai o orçamento do Tesouro em maio (15h). Logo cedo, na zona do euro será conhecido o índice ZEW de sentimento econômico na região da moeda única e na Alemanha. Já no Brasil, o calendário do dia está mais fraco e traz apenas os números atualizados da safra agrícola (9h).
À espera da inflação nos EUA e em meio às expectativas pela reunião do Fed, os índices futuros das bolsas de Nova York ensaiam ganhos, amparados pelo sentimento positivo diante dos sinais de paz entre Washington e Pyongyang. O ato histórico não embalou o pregão na Ásia, que encerrou o dia sem um rumo definido, contaminando o início da sessão na Europa.
Na Coreia do Sul, a Bolsa de Seul oscilou entre leves altas e baixas, assim como o won sul-coreano em relação ao dólar. A moeda norte-americana mede forças em relação aos rivais, perdendo terreno para as divisas europeias, como o euro e a libra, ao passo que avança frente às moedas de países emergentes, como o rand sul-africano e a lira turca.
Nas commodities, o barril do petróleo tipo WTI volta à faixa de US$ 66, atentos aos sinais de produção entre o cartel de países da Opep. Já o petróleo tipo Brent é negociado acima de US$ 76. O ouro recua, voltando ao menor nível em uma semana, com os investidores reduzindo a busca por proteção em ativos seguros.