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Mercado atento aos sinais do BC sobre juros

22 jun 2017, 11:04 - atualizado em 05 nov 2017, 14:01

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

É notório que o presidente Michel Temer parece estar cada vez mais fraco no poder e as pressões contra ele, cada vez mais fortes. Para o investidor, falta confiança no governo e sobram dúvidas em relação à aprovação das reformas em pauta no Congresso.

Mas a agenda econômica desta quinta-feira pede passagem ao cenário político, com o calendário de eventos e divulgações do dia ganhando peso e merecendo a atenção dos investidores, apesar das incertezas que permanecem em Brasília. O destaque é o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que será divulgado às 8h.

O RTI é o documento mais importante na comunicação do BC com o mercado financeiro e deve trazer as motivações nas decisões da autoridade monetária em relação à taxa básica de juros (Selic). O destaque é a atualização das estimativas para atividade e inflação, além das avaliações sobre a taxa de juros estrutural.

Mas a grande expectativa é de que o RTI lance luz para o segundo semestre deste ano, dando pistas sobre quais podem ser os próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom) em relação ao ciclo de cortes dos juros básicos. Na ata da reunião de maio, o Copom disse ser adequado reduzir o ritmo de queda, ajustando as apostas para uma redução menor da Selic em julho.

Além disso, também será interessante apreender qual é o caminho que o BC está vislumbrando para a inflação ao consumidor (IPCA) em 2019, especialmente porque o Conselho Monetário Nacional (CMN) deve reduzir a meta para 4,25%, dos atuais 4,5%, vigentes desde 2005. A reunião para discutir tal questão acontece na semana que vem.

Depois, às 11h, haverá entrevista coletiva do BC para comentar o RTI. Ainda na agenda doméstica do dia, saem os dados preliminares da sondagem da indústria em junho (8h) e o índice de confiança do empresário industrial neste mês (11h).  

No exterior, serão conhecidos os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos (9h30), o índice de preços de imóveis no país em abril (10h) e os indicadores antecedentes em maio (11h). Na zona do euro, destaque para a confiança do consumidor da região da moeda única neste mês (11h).

Mas é a queda nos preços do barril de petróleo, para a faixa de US$ 42, que continua roubando a cena dos mercados internacionais. O sinal negativo prevalece entre as bolsas, com as ações de petrolíferas liderando as perdas na Europa, ao passo que a busca por proteção valoriza o iene e o ouro.

A moeda japonesa registra a maior sequência de ganhos desde maio e o metal precioso recupera-se do nível mais baixo em um mês, em meio às especulações de que o aumento da produção norte-americana de petróleo irá atrapalhar os esforços do cartel de países produtores da Opep em reduzir o excesso de oferta global da commodity. O derretimento do petróleo também torna mais difícil as chances de os EUA gerarem inflação, turvando o plano de voo do Federal Reserve em relação à taxa de juros.

A semana ainda reserva os discursos de dirigentes do Fed, sendo que hoje o diretor do Conselho, Jerome Powell, tem audiência em comitê do Senado. Na fala dele, os investidores vão buscar argumentos capazes de abalar a avaliação do BC dos EUA sobre o fenômeno transitório de inflação baixa no país e a necessidade de manter o ciclo de alta dos juros, em meio aos sinais de perda de tração da economia norte-americana.

Também lá fora, merece atenção a decisão de política monetária do Banco Central do México (Banxico), que deve elevar a taxa básica de juros pela sétima vez seguida, após a inflação no país mais que dobrar no ano passado. Tem-se, então, que enquanto os EUA têm dificuldades em produzir pressão nos preços, o vizinho mexicano tenta interromper esse movimento.

Já no Brasil, o controle da inflação provoca um momento oportuno para manter o ritmo de queda dos juros – sem nenhuma “redução moderada” – o que favoreceria a retomada mais firme da atividade econômica, ao mesmo tempo em que permite reduzir o alvo a ser perseguido para a alta dos preços antes da virada da década. É essa indicação que o mercado espera encontrar hoje, com as boas notícias locais vindo apenas do BC.

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