Mercado “aprovou” a nova Previdência cedo demais?
O que aconteceu? O Ibovespa deu pinta de que ia atravessar o recorde de 73.516 de maio de 2008 em uma toada incontrolável, mas o fôlego acabou e, após encostar nos 70 mil pontos há um mês, a Bolsa caiu quase 8%. A animação com a aprovação do teto de gastos no ano passado abriu caminho para um otimismo que colocou na conta a reforma da Previdência e, de quebra, alguma modernização das regras trabalhistas.
Leia também: Investidor deve mirar as sobreviventes da crise para próximo ciclo
“O mercado precificou a Previdência e ela não está sendo aprovada como foi prometida ao mercado. Se passar uma reforma inócua ela será irrelevante e o mercado vai cair com força. O teto dos gastos pode até perder o sentido”, ressalta Pablo Spyer, diretor da mesa de negócios da corretora Mirae Asset. Em busca de uma aprovação mais fácil, o governo decidiu nesta semana retirar os servidores estaduais e municipais do pacote.
Até mesmo a Moody’s, que deu um voto de confiança ao Brasil ao mudar a perspectiva de sua nota de negativa para positiva no último dia 15, afirmou que a mudança na proposta é um evento negativo para o crédito e ressaltou que uma “idade mínima mais elevada e uma nova metodologia para calcular os benefícios são fundamentais para apoiar os esforços de consolidação fiscal do governo”.
“É de se estranhar o comportamento até contido das curvas de juros, mas muitos ‘voltaram à real’ de que haveria uma desidratação da proposta. Foi vendida uma ideia de que tudo passaria suavemente, ideia inclusive vendida por membros do governo. A realidade da situação agora bate à porta com uma realização testando, mas teimando em não ocorrer mais profundamente”, destaca Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Riscos internacionais
O movimento da Bolsa brasileira, apesar de estar bastante ligado ao que vemos internamente, tem também respondido às flutuações nos mercados além-mar. “A Bolsa tem subido com volume baixo e caído com o dobro. Além disso, a cereja do bolo, é que temos muitos riscos internacionais”, lembra Spyer. Em um relatório recente, a consultoria do economista Nouriel Roubini colocou o país como o mais suscetível aos riscos globais em uma lista de 21 emergentes.
“Coincidentemente, ou não, a nossa Bolsa reverteu a tendência quando as bolsas americanas também reverteram e, além disso, há muito tempo o nosso mercado parece caro em relação aos fundamentos“, afirma Guilherme Volcato, analista da Banrisul Corretora. Ele ressalta, contudo, que o viés de longo prazo para a Bolsa é para cima, mas isso mais ancorado na perspectiva de redução dos juros. E isso não afeta igualmente os setores. Os bancos, por exemplo, ficam de fora desse oba-oba.
Ou seja, respondendo à pergunta feita na primeira frase desse texto: pouco aconteceu.