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Meio caminho andado para Cemig (CMIG4): O que acordo de R$ 2,7 bilhões com Vale (VALE3) tem a ver com os dividendos?

27 mar 2024, 20:38 - atualizado em 27 mar 2024, 21:32
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Para Cemig entregar dividendos mais elevados, dois eventos extraordinários precisariam acontecer; um foi anunciado hoje (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Um dos dois eventos extraordinários levantados pelo Bradesco BBI para a Cemig (CMIG4) conseguir liberar dividendos ainda maiores aos acionistas foi anunciado nesta quarta-feira (27).

Em relatório divulgado na véspera, a instituição levantou que existem riscos positivos para os dividendos da companhia de energia elétrica de Minas Gerais.

Segundo o BBI, a Cemig pode chegar a um rendimento de dividendos de até 11-12% no ano fiscal de 2024, contra um consenso de 7,5%, tornando-a a empresa com o retorno mais alto de sua cobertura, “ao mesmo tempo que manteria a alavancagem contida (sem risco para os covenants de dívida)”.

Para isso acontecer, dois eventos foram levantados pelos analistas. Um foi anunciado hoje: a venda de participação no Aliança Energia para a Vale (VALE3).

Por R$ 2,7 bilhões, a mineradora acertou um contrato para comprar a participação de 45% da Cemig GT na Aliança Energia.

Na condição de sócia no empreendimento e considerando que a Vale utiliza, atualmente, a maior parte da energia gerada pela Aliança Energia, a mineradora optou por exercer seu direito preferencial de aquisição.

Após a conclusão, que está sujeita a condições precedentes usuais, incluindo a anuência de órgãos competentes, a Vale passará a deter 100% do capital do ativo e começará a buscar potenciais parceiros para a plataforma.

Segundo a Cemig, do valor da operação (atualizado pelo CDI), serão abatidos dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP) distribuídos ou aprovados até o fechamento da operação.

Adicionalmente, a Cemig GT fará jus a um valor adicional, correspondente a 45% dos valores das indenizações futuras que porventura sejam recebidas pela Aliança, relativo aos prejuízos advindos do evento relacionado à ruptura da barragem de rejeitos do Fundão (desastre de Mariana) envolvendo a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), cujo valor de referência para fins do contrato é de R$ 223 milhões, também atualizado pelo CDI.

Em seu relatório (ou seja, antes da divulgação da notícia sobre o acordo), o BBI usou como base uma estimativa de valor justo para a participação da Cemig na Aliança de R$ 2,1 bilhões. Considerando tal montante, a Cemig registraria um ganho contábil de aproximadamente R$ 1 bilhão, implicando um rendimento extraordinário de 1,8% (assumindo o pagamento histórico da Cemig de 55%), afirmaram Francisco Navarrete, do BBI, e Ricardo França, da Ágora Investimentos.

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Um já foi; agora só falta o outro

De acordo com o BBI, para destravar os robustos dividendos esperados para o ano fiscal de 2024, mais um evento precisa acontecer: uma negociação bem-sucedida para reduzir as provisões de plano de saúde.

O BBI disse que a Cemig poderá negociar com sucesso uma redução para acabar com o pagamento indevido de benefícios a funcionários aposentados.

De acordo com a instituição, uma redução de 30% na provisão geraria um ganho contábil de R$ 99 milhões, implicando um rendimento extraordinário de 1,8% (payout de 55%).

Na avaliação do BBI, com o processo de federalização parecendo improvável, ou pelo menos muito difícil de executar no momento, a Cemig pode ser uma boa ideia para investidores que buscam renda.

A recomendação para as ações segue neutra por enquanto.