“Me dê motivo” para comprar dólar: Como aproveitar o recuo na moeda americana
Apesar de soar meio dramático, não acho que seja o caso de você ir embora do país — digo, literalmente arrumar as malas e partir. Mas o atual recuo no dólar abriu uma oportunidade interessante para quem ainda não tem nenhuma parte dos seus recursos em moeda forte. Ou até mesmo para aqueles que querem tentar proteger seu patrimônio das garras do governo, mantendo recursos (de forma legal) no exterior.
No ano, a divisa americana apresenta desvalorização de quase 7%, chegando perto dos R$ 4,90, menor patamar desde junho de 2022.
Gráfico 1. Cotação do dólar frente ao real nos últimos cinco anos | Fontes: Bloomberg e Empiricus
Importante lembrar que ninguém sabe com exatidão o movimento do câmbio. O que hoje está R$ 4,90 pode, em um piscar de olhos, voltar para cima dos R$ 5 caso algo aconteça no meio do caminho (uma decisão atabalhoada do Governo, um estouro de uma nova crise lá fora…)
E o “risco positivo” também é possível: talvez a moeda americana continue se desvalorizando. Quem não se lembra no passado recente quando ela chegou a bater quase R$ 4,50?
Mas o foco aqui tem que ser a construção patrimonial de longo prazo. E, nessas horas, o quanto você paga pelo dólar — principalmente para aqueles que querem colocar esses recursos para trabalhar, o que gosto de chamar de “dólar trabalhador” — não será algo que importará muito lá na frente.
Se um investidor (que para o propósito desta coluna seja carinhosamente conhecido como José Desesperado) tivesse tomado a decisão de dolarizar parte do seu portfólio apenas em momentos de estresses dos mercados e tivesse o azar de converter seus recursos com o câmbio mais caro daquele momento e investido em um algum instrumento que segue a performance do S&P 500, ainda assim as chances de que ele esteja apresentando ganhos ou ao menos próximo do nível quando investiu é maior do que a de estar no vermelho.
Gráficos 2 e 3. Índice S&P 500 (gráfico superior, azul) e cotação do dólar frente ao real (inferior, verde) nos últimos cinco anos | Fontes: Bloomberg e Empiricus
Obviamente, não ousarei tentar prever qual será a cotação da moeda americano em qualquer prazo. Um famoso chiste no mercado é de que tal exercício (projeção do câmbio) foi inventado para humilhar os economistas — até porque eu sou formado em Administração…
Dólar X Selic: Quando fica vantajoso investir na moeda americana?
Mas quero deixar aqui um “modelo” para que os leitores dessa coluna possam analisar se vale a pena ou não aproveitar o momento do dólar, seja agora ou em um futuro próximo.
Com a Selic aos 13,75%, o investidor que está decidindo dolarizar seu patrimônio está deixando de aproveitar essa oportunidade de ganhar mais de 1% ao mês — algo praticamente impossível de encontrar nos dias de hoje em economias do tamanho e relevância do Brasil.
Neste caso, com o dólar na casa dos R$ 4,90, o investidor teria que acreditar que a divisa americana ultrapasse os R$ 5,57 (em um período de 12 meses) para que valha a pena comprar a moeda agora ao invés de apostar em um título atrelado à Selic ou um pré-fixado na mesma faixa de retorno.
Tabela 1. Comparativo dólar e Selic | Fonte: Empiricus
Só que existe a possibilidade de corte nos juros por parte do Banco Central, ainda mais com os dados da inflação aqui no Brasil mostrando um processo de desinflação mais evidente do que em outras economias.
Olhando as expectativas dos economistas no Relatório Focus, a mediana das projeções aponta para uma Selic em 12,75% ao final de 2023. E considerando que normalmente essas projeções estão erradas, os cortes podem ser ainda maiores.
Tabelas 2, 3 e 4. Comparativo dólar e Selic | Fonte: Empiricus
Ou seja, a cada momento que o dólar se desvalorize frente ao real, a faixa para qual a moeda deveria voltar estaria mais alinhada com a média dos últimos anos (entre R$ 5,00 e R$ 5,30), aumentando ainda mais a atratividade de dolarizar parte do patrimônio.
Não vejo motivos para o investidor médio ter todo seu patrimônio em uma moeda como o real, ainda mais quando surgem oportunidades interessantes como as de agora (principalmente para aqueles que não possuem nada dolarizado).
Enzo Pacheco é formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Um entusiasta do assunto “investimentos” — tendo se interessado desde os tempos de universitário —, desde 2017 foca exclusivamente na análise dos mercados internacionais nas séries da Empiricus voltadas a esse propósito (Investidor Internacional e MoneyBets).