Arena do Pavini

MCM: TSE deve derrubar Temer, equipe econômica continua, mas reformas só em 2019

19 maio 2017, 17:56 - atualizado em 05 nov 2017, 14:03

Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini

O presidente Michel Temer vai tentar se manter no poder alegando que as fitas divulgadas na delação premiada dos donos da Friboi não comprovam a mesada a Eduardo Cunha. Mesmo assim, seu governo já morreu e ele acabará deposto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que deverá cassar a chapa Dilma-Temer no começo do mês que vem. A partir daí, um presidente provisório será escolhido pelo Congresso para levar o país até a eleição de 2018, mantendo a equipe econômica atual. Mas as reformas serão deixadas de lado e o país viverá um ano de recuperação fraca neste ano puxada pela agricultura e de incerteza para 2018. O cenário é da MCM Consultores, que espera um aumento da taxa de risco brasileira e do dólar.

Como sobreviver à crise sem renunciar aos seus investimentos?

Em relatório enviado hoje aos clientes, a consultoria diz que, enquanto adota uma narrativa de defesa, o presidente Temer procura manter unida sua base de apoio e afirma que não renunciará. “Seus esforços podem lhe dar alguma sobrevida, mas não apagarão o enorme embaraço criado pelo encontro suspeito com Joesley, não o resguardarão de novas acusações que começam a pipocar no noticiário e, portanto, não alteram o nosso prognóstico: o governo Temer morreu”, avalia a MCM.

A partir dessa expectativa, a consultoria elaborou um cenário para o país neste e no próximo ano, dividido em seis pontos:

1.      O presidente Temer enfrentará o esfacelamento da sua base de apoio e, tendo rejeitado renunciar, acabará sendo destituído do seu cargo pelo TSE. Até a última quarta-feira, assumindo o papel de guardião da normalidade institucional, o TSE manteria Temer para não gerar uma nova crise política. Agora, o tribunal deverá cassá-lo, exatamente para evitar o aprofundamento da crise. Temer poderá recorrer ao STF, mas o Supremo será rápido na confirmação da decisão da Justiça Eleitoral.

 2.      Buscando sobreviver a mais essa tempestade e chegarem vivas a 2018, as lideranças políticas que derrubaram Dilma e apoiavam Temer resistirão à pressão por eleições diretas e administrarão o processo de sua substituição através de uma eleição indireta, prevista na Constituição, aprovando rapidamente a legislação que for necessária para tanto.

 3.      Com o mesmo propósito, essas lideranças políticas buscarão e apoiarão um candidato “neutro”, ficha limpa, mas pró establishment , que se comprometa com a manutenção da gestão macroeconômica do atual governo, mantendo Meirelles, Ilan, Pedro Parente, etc em seus postos. A continuidade do processo de aprovação das reformas é improvável, mas a manutenção da equipe econômica evitará um novo ciclo de deterioração contínua e aguda da economia, que beneficiaria apenas candidatos outsiders em 2018, e alimentará a expectativa de que as reformas sejam retomadas a partir de 2019.     

 4.      O risco Brasil subirá para o intervalo 3 pontos percentuais a 3,50 pontos. Esta estimativa é baseada na hipótese de que a diferença entre o risco Brasil e o risco médio de países emergentes de rating próximo ao nosso crescerá nas próximas semanas, mas um pouco menos do que no segundo semestre de 2015. Concomitantemente, a taxa de câmbio também mudará de patamar, provavelmente para valores ao redor de R$ 3,50.

 5.      A esperada recuperação da atividade econômica será interrompida, mas o país não enfrentará necessariamente uma nova recessão, pois, ao menos ao longo deste ano, a expansão do setor agrícola e a evolução cíclica de alguns setores compensarão o efeito negativo da crise sobre os investimentos e o consumo. Para 2018, o cenário de crescimento tornou-se naturalmente muito mais incerto.

 6.      A inflação não sofrerá forte pressão no curto prazo, por conta do choque positivo de alimentos e do hiato negativo. Porém, as expectativas de inflação para os próximos anos serão impactadas pelo câmbio mais desvalorizado e pela piora do cenário fiscal. “A elevação do nível de incerteza reduzirá o espaço para flexibilização da política monetária, mas acreditamos que o Copom ainda poderá, cautelosamente, levar os juros até perto do nível real médio dos últimos tumultuados anos — algo em torno de 5,0% ao ano”, diz a consultoria.