MB Associados eleva projeção para crescimento do PIB neste ano e no próximo
Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior ficou abaixo do esperado pelo mercado, mas não é um resultado ruim, observa Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Em relatório aos clientes da consultoria, Vale destaca as revisões que o IBGE faz dos anos anteriores no terceiro trimestre de cada ano, o que interfere nas projeções do mercado. E normalmente as revisões para cima são provocadas pela incorporação de dados que o IBGE não possuía.
No caso atual, a revisão foi benéfica para os dados do primeiro semestre, que ficaram bem melhores que os iniciais. O segundo trimestre saiu de 0,2% de expansão sobre o trimestre anterior para 0,7%. E o primeiro, que havia caído 0,4% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, foi ajustado para zero. Ou seja, todos os dados do PIB em 2017 estão no azul, destaca Vale.
Outro ponto que o economista destaca é a comparação anual, que evita o sobe e desce dos dados dessazonalizados. E no terceiro trimestre, o crescimento de 1,4% ficou acima do 1,3% esperado. “Dadas as revisões do primeiro trimestre, acabamos por revisar o dado do ano de 2017 para cima (1% contra 0,9%)”, diz Vale.
Mas, para crescer 1% no ano, o PIB do quarto trimestre deveria vir perto de zero, e os sinais são de que ele virá melhor. Portanto, é provável que o crescimento da economia neste ano feche acima de 1%, afirma Vale.
Vale observa que é preciso ver também os dados abertos, que explicam que a queda do crescimento sobre o trimestre anterior foi provocada pela retração da agropecuária, em especial por problemas na safra de café e um pouco de açúcar. Mas, ao mesmo tempo, setores que vinham mal, como indústria e comércio, apresentaram melhoras. E o índice de difusão, que mostra quantos segmentos dentro de um setor estão crescendo, subiu para quase 80%, número semelhante a antes da crise.
O conjunto de dados favoráveis também mostra uma menor dependência da recuperação de um setor, explica Vale. Se antes havia o receio de concentração na retomada no agronegócio e nos efeitos do FGTS, os números do terceiro trimestre mostram um bom desempenho mesmo com piora do agronegócio e o aumento do consumo de 2,2% sobre o ano passado sem liberação de recursos.
O economista chama a atenção também para os investimentos, que apresentaram uma recuperação mais evidente, apesar da queda em relação ao ano passado. “Depois das fortes quedas nos últimos anos, os dados recentes mostram recuperação consistente a cada trimestre”, diz.
Para Vale, olhando os próximos trimestres, a recuperação parece clara. “Tanto que reforçamos nosso cenário de crescimento de 3,1% no ano que vem, leve ajuste sobre os 3% que esperávamos anteriormente”, diz.
Riscos no exterior, nos EUA e no petróleo
Os riscos para esse cenário vem do exterior, de uma mudança na trajetória dos juros americanos por conta do pacote de redução de impostos proposto pelo presidente Donald Trump. O incentivo poderia pressionar demais a inflação e obrigar o Federal Reserve a subir mais os juros, levando a uma recessão. Outro risco é o aumento dos preços do petróleo por conta da crise política na Arábia Saudita e sua tentativa de aumentar a influência na região. Uma tensão entre Arábia Saudita e Irã, estimulada pela Rússia e EUA, poderia aumentar os preços do petróleo. Esse, porém, não é o cenário mais provável, acredita Vale.
Cenário político no Brasil
No Brasil, os riscos estão no cenário político, com menor impacto em 2018 e estrago maior para 2019. Vale acredita, porém, que os candidatos mais extremistas tende a convergir para um discurso de centro, assim como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez em 2002 “e ainda o fará se for candidato”. O economista lembra que Jair Bolsonaro já segue esse roteiro e apenas candidatos sem grandes chances, como Ciro Gomes, devem manter o discurso “disruptivo”.
“Sendo isso verdade, os preços de ativos que poderiam atrapalhar a recuperação, especialmente a taxa de câmbio, tende a ficar estáveis”, avalia Vale. “Depois da eleição, a depender de quem ganhar, os resultados podem ser muito bons ou muito ruins, mas com efeitos apenas em 2019”.
Vale conclui afirmando que o país terá um ano de crescimento forte que tenderá a ajudar o discurso de um candidato de centro na eleição.