Max Bohm: Um mundo que não conhecemos
Max Bohm, da Empiricus Research
Hoje quero fazer duas perguntas para você refletir sobre o assunto.
Por que Warren Buffett comprou 11 por cento das ações da adquirente de meio de pagamento Stone no mês passado, cujo valor de mercado hoje supera 20 bilhões de reais?
Por que a gigante chinesa Tencent pagou 180 milhões de dólares por 5 por cento da operadora de cartões de crédito Nubank, avaliando a fintech brasileira em, aproximadamente, 4 bilhões de dólares?
Agora lhe dou duas informações importantes.
A Stone negocia a um múltiplo estratosférico de 79 vezes preço/lucro.
A Nubank não gera lucro – a empresa reportou um prejuízo de 50 milhões de reais no primeiro semestre de 2018.
Será que Buffett perdeu o juízo? Os chineses não sabem fazer conta? O que eles estão vendo nessas companhias que nós, meros mortais, ainda não conseguimos enxergar?
Difícil duvidar da capacidade analítica desses tubarões, mas, de fato, são valores vultuosos que intrigam a nós, financistas.
Estamos falando de fintechs: startups que criam inovações na área de serviços financeiros, com processos baseados em tecnologia. E como se pode ver, essas empresas estão atraindo bilhões de dólares. Detalhe: ambas as companhias supracitadas são brasileiras.
O mundo todo se pergunta: qual o potencial das novas fintechs? Como avaliar empresas que trazem um poder disruptivo gigantesco para o setor e começam a tirar o sono de grandes instituições financeiras?
Minha opinião: ninguém ainda sabe avaliar precisamente essas companhias. Simplesmente porque estamos diante de algo que pode ter um crescimento exponencial.
Analistas e investidores acreditam que o fenômeno se trata de empresas com grande força de mudança, e que a realidade do setor financeiro não será mais a mesma no futuro. Mas qual é o valor de mercado justo dessas companhias? Nem Warren Buffett sabe.
Há seis meses caiu no meu colo o estudo de um novo IPO. O Banco Inter (BIDI4) debutaria na Bolsa brasileira.
Uma instituição que combinava 20 anos de história bancária, sendo bem atuante no crédito imobiliário e com um background de respeito (leia-se MRV Engenharia), além de um modelo 100 por cento fintech, baseado em contas digitais sem tarifas.
Fomos lá, visitamos o banco, conversamos com o top management e saímos com uma ideia diferente do negócio – havia, de fato, um crescimento gigantesco a ser explorado.
Talvez seja o mesmo sentimento de Buffett e da Tencent com seus novos investimentos.
Algo diferente e com grande potencial disruptivo. Um mundo que não conhecemos.
De lá para cá, as ações do Banco Inter se valorizaram mais de 120 por cento. Muitos assinantes me perguntam: ainda tem valor a ser capturado?
Respondo: não sei. Faço essa pergunta a mim mesmo todo dia.
O que posso dizer é que vejo um banco que triplicou sua base de clientes em um ano (mais de 1 milhão hoje) e vem desenvolvendo serviços e produtos inovadores. Além disso, o Banco Inter vem mostrando resultados consistentes e crescimento de lucro nos últimos trimestres. Ou seja, a empresa está fazendo o dever de casa e chamando a atenção do setor financeiro.
Monetizar essa grande base de cliente, fazendo com que ela consuma mais serviços é o grande desafio do Banco Inter, e a peça-chave para expandir o seu ROE (retorno sobre patrimônio), gerando valor aos acionistas.
Pode ser algo exponencial. Você duvidaria?
Essa expectativa, que muitos consideram surreal, é o que motiva vários investidores a injetarem muito dinheiro nas fintechs. E neste grupo incluem-se Buffett e a Tencent.
Hoje BIDI4 negocia a 40 vezes preço/lucro. Sim, um múltiplo alto. Bem mais esticado que Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander.
Mas será que esses grandes bancos têm potencial para expandir significativamente os seus lucros nos próximos 12 meses?
As brasileiras Banco Inter e Stone, a americana Square, a inglesa TransferWise, a alemã Wirecard e tantas outras fintechs por aí podem, sim, duplicar ou até triplicar seu lucro em um ano e negociar a múltiplos muito mais atrativos.
Qual métrica deve ser utilizada ao avaliar uma fintech? Crescimento de receita, número de clientes, potencial para novos serviços, participação de mercado?
Quem sabe o Felipe, ao voltar do curso de valuation de “tech companies” em Columbia, possa dividir conosco as respostas a essas perguntas.
Por enquanto, fico aqui, acompanhando de perto a evolução disruptiva das fintechs, me surpreendendo a cada dia.
Diante de um futuro que não conseguimos prever, faça igual ao grande mestre Buffett. Buy!
Quem viver, verá.