Colunistas

Max Bohm: Tech Force – A Magazine Luiza é uma delas?

12 jun 2020, 13:14 - atualizado em 12 jun 2020, 14:31
max_bohm
“Hoje, a Magazine Luiza é uma companhia de R$ 100 bilhões de valor de mercado”, disse o colunista

Poderia ser mais um título de um filme de ficção científica de Hollywood. Mas não é.

Talvez o nome de um novo produto com uma tecnologia inovadora capaz de mexer com a cabeça dos seus usuários. No entanto, não se trata disso também.

Há coisas que a gente não percebe, mas, de uma hora para outra, tomam conta da nossa vida de forma avassaladora.

Começamos o dia sendo acordados pelo alarme do no nosso iPhone. Instantes depois, checamos o e-mail ou buscamos algo no Google.

Tenho certeza que seu próximo passo seria verificar suas mensagens no WhatsApp, pois alguém da sua lista de contatos compartilhou algo interessante do Facebook ou do Instagram no grupo da família ou no dos amigos.

Ao ser impactado por conteúdos promocionais nesses aplicativos, você consulta o preço do produto na Amazon. Depois de um dia corrido no trabalho, você só quer chegar em casa e ver um filme na Netflix ou no Amazon Prime.

É impressionante, não é? Isso que eu chamo de “tech force” (ou força tecnológica).

O fato é que não podemos lutar contra essa tendência. Cada vez mais, as grandes empresas de tecnologia serão onipresentes em nossas vidas.

Cada vez mais, as grandes empresas de tecnologia serão onipresentes em nossas vidas (Imagem: Unsplash/@molliesivaram)

Você já deve ter ouvido falar em FAANG, acrônimo cunhado pelo famoso apresentador americano Jim Cramer e que se refere às iniciais das gigantes de tecnologia Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google.

Hoje, esse termo representa a dominância dessas gigantes dentro de um novo cenário econômico, movido pelas novas relações de consumo e por um comportamento cada vez mais digital e globalizado.

O reflexo dessa força tecnológica transparece na precificação dessas ações nas Bolsas americanas. Se somarmos os valores de mercado de cada uma dessas empresas, teremos um total de US$ 4,6 trilhões (cerca de R$ 23 trilhões).

Para se ter ideia da relevância desse número, ele equivale a um quinto do PIB dos EUA e a três vezes o PIB brasileiro.

Este tamanho todo acaba impactando os índices acionários norte-americanos. Hoje, as FAANGs respondem por, aproximadamente, 16% do S&P 500, índice que engloba as 500 ações mais representativas da economia americana, e 36% do índice Nasdaq, focado nas empresas de tecnologia.

Ou seja, qualquer oscilação no preço das ações dessas gigantes movimenta bem a Bolsa americana.

O que esperar delas adiante? Será que veremos essas empresas expandindo seus mercados, impondo novas barreiras à entrada, adquirindo negócios complementares, no mais clássico modelo “winner takes all” (o vencedor leva tudo)?

Se fosse para apostar, eu diria que sim. Veremos essas empresas cada vez mais soberanas, abrindo os seus horizontes rapidamente.

Apesar dessa exuberância toda, há um título que as FAANGs não ganham: a empresa de tecnologia que mais se valorizou nos últimos cinco anos.

Esse troféu fica com a nossa Magazine Luiza (MGLU3). Mas, Max, você colocaria a Magazine Luiza como uma companhia essencialmente de tecnologia?

Lembro-me como se fosse hoje. Visitei a companhia no início de 2015 e a estudei no detalhe. Achei tudo uma bagunça: estratégia mal conduzida, gestão ineficiente e números que não empolgavam.

No final daquele mesmo ano, a Magalu renovou um contrato de parceria no serviço de garantia estendida por R$ 330 milhões com a seguradora BNP Paribas Cardif pelo prazo de dez anos. Um adendo: à época, o valor de mercado da companhia era de R$ 200 milhões.

Algo não fazia sentido: ou a Cardif tinha pagado muito caro pela parceria ou a ação da Magazine Luiza estava barata demais. Apesar disso, fiz vista grossa para aquele evento.

Meses mais tarde, Frederico Trajano assumiu a presidência da companhia e começou a promover uma reestruturação organizacional em que o processo de digitalização caminharia paralelamente às lojas físicas. Um segmento agregando ao outro, buscando sinergias operacionais e sob uma eficiente estratégia de logística.

Deu muito certo. Vi a ação da Magalu subir 1.000% em 12 meses e achei que havia perdido o bonde. De lá para cá, foram impressionantes 53.000% de valorização, e minha dor de cotovelo foi às alturas.

De lá para cá, foram impressionantes 53.000% de valorização (Imagem: Money Times)

Hoje, a Magazine Luiza é uma companhia de R$ 100 bilhões de valor de mercado. No último resultado trimestral, a companhia mostrou um crescimento de 72% nas suas vendas online na comparação anual, suportado pela expansão no portfólio de produtos (desenvolvimento do marketplace), no número de clientes ativos e nas vendas pelo celular (mobile). Se considerarmos os meses de abril e maio, ápice do isolamento social, as altas no e-commerce da empresa são de 138% e 203% em relação ao ano passado, respectivamente.

Seguindo essa tendência, tudo indica que a Magazine Luiza será cada vez mais digital, se firmando como uma das maiores empresas de tecnologia do país e um desafiante de respeito aos planos de crescimento da Amazon no Brasil.

Precisamos de mais companhias que consolidem esse tech force aqui dentro. Dentre as listadas, B2W (BTOW3) parece ter encontrado o seu caminho depois de vários erros em sua história e pode ganhar força. E outras aspirantes como Totvs (TOTS3), Linx (LINX3), Locaweb (LWSA3) e Sinqia (SQIA3) começam a se destacar no setor também.

Diante dessa mudança drástica e positiva no consumo e no comportamento das pessoas, em que o digital está cada vez mais onipresente, acho interessante estar posicionado nas empresas de tecnologia brasileiras dentro de uma visão de longo prazo.

Quem sabe no futuro, poderíamos ver, por exemplo, o setor de tecnologia ocupando o espaço dos bancos no Ibovespa como o segmento com o maior peso no índice. Décadas atrás, não se imaginava isso na Bolsa americana, e hoje é uma realidade.

Basta que novas empresas do ramo façam seus IPOs por aqui. Eu acredito.