Impostos

Mato Grosso já perde investimentos no agro com aumento das taxas estaduais

15 jul 2019, 12:39 - atualizado em 15 jul 2019, 12:40
Mato Grosso, do governador Mauro Mendes, já perde investimentos com taxas estaduais

Circula em grupos de aplicativos de mensagens entre produtores rurais do Mato Grosso a foto do governador Mauro Mendes com a seguinte mensagem: “Bom dia, como posso te atrapalhar hoje?” Para 100% dos empresários, ele já começou a atrapalhar, tanto taxando mais a produção (e ainda quer mais) quanto já espantando investidores.

A história começou em janeiro, quando o governo declarou estado de calamidade financeira, e lançou um pacote de medidas, entre as quais aumentando as alíquotas dos produtos agropecuários que incidem sobre o valor da Unidade Padrão Fiscal (UPF). O Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), que só o estado possui, vai mais fundo agora no bolso.

Se no caso da pecuária de corte a mão do governo toma R$ 40,00 por cabeça na comercialização, para interessados em investir no Mato Grosso essa conta não fecha se somado ao valor das terras. O Pará está começando a se beneficiar, assim como Goiás se prepara para abocanhar alguma coisa.

O pecuarista Marcos Jacinto, diretor da região Leste da Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat), comenta que a sua região do Vale do Araguaia perdeu investimentos de R$ 300 milhões há poucos dias. “Arrumamos terras para um investidor, que depois cancelou a encomenda dizendo ter optado pelo Pará”, afirma.

Certamente ajudou a assustar a última proposta de Mauro Mendes, de acabar com a isenção do ICMS nas operações internas e elevar nas operações interestaduais. A proposta original era de 7% dentro do estado, mas a gritaria de todos os setores produtivos fez com que o governo baixasse para 3%, mantendo ainda os 3% na circulação para fora das fronteiras.

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Prejuízos distribuídos

Em um estado eminentemente voltado para o agronegócio, onde o escoamento da produção deprecia o ganho do produtor com a sofrível situação das rodovias e, no caso da pecuária, com uma grande concentração de frigoríficos sob um mesmo CNPJ, o agravamento é maior.

Walmir Coco, presidente do Sindicato Rural de Alta Floresta, no nortão, argumenta que os R$ 40,00 do Fethab sobre um boi razoavelmente bem acabado, valendo entre R$ 2,5 e R$ 2,8 mil, pode parecer pouco, mas diante de um lucro líquido que ele avalia de R$ 200,00 a R$ 300,00 a conversa é outra. Naturalmente que esses valores sofrem da variação de cada processo produtivo, bem como do valor da terra, entre outros.

A região da Alta Floresta também amplia a integração pecuária-lavoura, com os grãos subindo cada vez mais e pecuaristas dividindo a fazenda para produzir o próprio alimento para os animais.

“Com o impacto da taxa distribuído para outros produtos, a situação fica mais delicada”, acentua Coco. Afinal, ninguém faz um investimento em diversificação produtiva, com alto custo de implantação, que seja apenas para alimentar seu próprio gado. Olha-se também a comercialização – no caso do milho, por exemplo, os projetos em etanol.

Esse caso da integração produtiva entre boi e grãos foi o investimento perdido na região de Gaúcha do Norte, base de Marcos Jacinto. “Estamos transferindo investimentos e tirando os pequenos dos negócios, já que os grupos grandes já instalados na região vão aumentando os arrendamentos”

Quem ficar na terra e não tiver colchão financeiro, quebra.

Jacinto produz nelore de boa genética na faixa de 21 @s (em torno de 560 kgs), com um valor de mercado atualmente de R$ 145,00/@, com um valor nominal de venda de R$ 3,045 a cabeça. Mas ele tem um custo elevado para fazer um animal assim. “Eu estou no negócio porque gosto, mas mais ainda para ganhar dinheiro, e agora além de me preocupar com clima e mercado, tenho que pagar o governo para trabalhar”, lamenta.

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