Internacional

Marink Martins: Teria Jerome Powell sucumbido as pressões trumpianas?

29 nov 2018, 18:33 - atualizado em 29 nov 2018, 18:33

J Powell

Por Marink Martins, do blog MyVol e autor da newsletter Global Pass

Ao julgarmos pelo comportamento do mercado ontem a resposta parece ser que sim. Mas confesso aqui a minha dificuldade em conceber a ideia de que o presidente do FED sofreria pressões políticas como se estivesse gerindo um banco central latino americano.

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Em parte, a minha dificuldade advém do fato que, em inúmeras ocasiões ao longo da história econômica dos EUA, houve um choque entre a ideologia predominante no BC e aquela presente na Casa Branca.

Em particular, no fim dos anos 80, George Bush (o pai) exibiu ira similar a essa demonstrada por Trump diante do aperto monetário liderado por Jerome Powell.

Na ocasião, o recém-empossado Alan Greenspan não hesitou em fazer a coisa certa e elevar o custo do dinheiro na economia americana mesmo diante de pesadas críticas oriundas do poder executivo.

Em seu livro, “The Age of Turbulence”, Greenspan nos revela que após alguns anos não havia diálogo algum entre ele e George Bush.

De volta a Jerome Powell, acredito que o que tenha ocorrido nos últimos dois meses tenha sido mais uma questão de interpretação do que, de fato, uma mudança de rota.

Observe que os mercados começaram este recente ciclo de correção a partir do dia 3 de outubro, logo após a fala de Powell de que a taxa básica da economia americana se encontrava ainda distante (“long way”) do que o FED considerava como neutra.

Para muitos economistas, este “ainda distante” significava algo como 100 basis points, ou 1%. Na ocasião, com a taxa básica a 2,25%, isso significava um espaço para uma elevação para um patamar próximo a 3%, ou um pouco mais elevada; talvez 3,25%.

Já para os praticantes do mercado, “ainda distante” talvez tenha levado os prognósticos para patamares superiores a 3,5%.

Assim, alguns economistas como Steve Liesman da CNBC argumentam que o que ocorreu ontem não foi nada mais do que uma mudança suave por parte de Powell, provavelmente fruto de dados econômicos que já mostram sinais de desaquecimento do setor imobiliário.

É fato que a recente elevação nas taxas de juros reduziu o poder de compra para os americanos que querem adquirir novos imóveis. Houve uma queda no que é conhecido, em inglês, como “housing affordability”.

E, diante de tudo isso, que conclusão devemos tirar da recente valorização do índice S&P 500? Seria esta o início de um “rally” de natal nas bolsas globais?

Bem, o melhor que posso oferecer aqui é a natural ambivalência quando o assunto é prognóstico de mercado.

De um lado temos estrategistas da Gavekal animados (os mais jovens e mais técnicos) argumentando que o diferencial entre o retorno obtido pelas empresas americanas e seu custo de capital continua bem favorável ao investimento em ações.

Do outro lado temos outros estrategistas da Gavekal (os veteranos, mais conservadores), que embora ainda não tenham tido tempo de se manifestar, a minha experiência os acompanhando por muitos anos me diz que eles se mostrarão céticos.

Naturalmente, como argumentei em meu vídeo de ontem, ambos os lados reconhecem a importância das decisões tomadas por Trump e Xi no que diz respeito a batalha comercial e seu poder de impactar negativamente a cadeia de suprimentos entre as duas gigantes nações.

Devemos aguardar o desenrolar destas questões nos próximos dias.

De forma prática, reitero aqui um “CALL” que venho fazendo ao longo dos últimos dois meses: monitore de perto o VIX.

Um VIX de 19% não é nada confortável para aqueles que acreditam na tese de “rally” de natal. Enquanto tal indicador estiver acima de 15%, alinhe-se com os céticos.

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