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Marink Martins: Smart Fit já vale R$ 8,6 bilhões
Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Global Pass
Durante as terças-feiras tenho o prazer de ensinar um curso introdutório de finanças para os adolescentes da Escola Eleva localizada no bairro de Botafogo no Rio de Janeiro. Tomo como desafio explicá-los sobre como uma boa ideia pode ser financiada através do mercado de capitais.
O objetivo é abrangente o suficiente de forma que tenho ampla liberdade para falar sobre ações e dívidas. Logo no início do semestre os apresento um gráfico como este abaixo, onde temos uma relação entre o tempo de vida de um negócio e suas receitas.
Mais importante, porém, é discutir os diferentes estágios de crescimento e trazer alguns conceitos relacionados a “valuation”. Abaixo temos tais estágios classificados da seguinte forma:
FFF – Founders, Friends & Family (capital próprio e dinheiro de família)
Business Angels – Investidores anjos, como aqueles do programa Shark Tank
Venture Capital – Capital de risco
Private Equity – Um estágio mais estruturado objetivando um eventual IPO
IPO – Lançamento de ações destinadas ao público em geral.
Exploro este tema por aqui pois fiquei surpreso com o fato de que a empresa brasileira Smart Fit, dona de 739 academias na América Latina, acaba de vender 12,4% de seu capital para o fundo de pensão canadense CPPIB por 1,07 bilhão de reais. Baseado nesta operação podemos concluir que a empresa atualmente tem um valor de mercado de aproximadamente R$8,6 bilhões.
Considerando que a reportagem sobre a venda nos informa que o lucro líquido da empresa, entre janeiro e setembro de 2018, foi de aproximadamente R$140 milhões, e que neste ano de 2019, a empresa registra um prejuízo de aproximadamente R$7 milhões, é possível concluir que o valor pago pelos canadenses corresponde a um mega múltiplo sobre os lucros passados.
Contudo, considerando que a empresa está em pleno processo de expansão talvez seja mais interessante observarmos o múltiplo sobre vendas. A reportagem nos informa que a receita da Smart Fit vem crescendo a um ritmo elevado, saltando de R$780 milhões, nos primeiros 9 meses de 2018, para R$1,4 bilhões durante o mesmo período em 2019.
Anualizando tal valor temos uma estimativa de receita próxima a R$1,75 bilhão, de forma que o múltiplo pago sobre a receita da empresa é de aproximadamente 4,9x. Um múltiplo que comentaristas da mídia norte-americana rapidamente classificariam como “not too shabby“, exaltando o fato de se tratar de um múltiplo um tanto “esticado”.
Se considerarmos que uma academia muito bem administrada deve trabalhar com uma margem líquida por volta de 10%, a relação Preço/Lucro atual estaria próxima a 50x!
Mesmo que estes cálculos estejam errados, vale destacar aqui o apetite dos fundos de pensão globais.
Curiosamente, ao longo desta última década, diversos fundos de pensão nos EUA e em outros países desenvolvidos reduziram suas respectivas posições em ações e aumentaram suas participações em fundos de “private equity“.
Considerando que investimentos em empresas em estágio de “private equity” são mais arriscados do que aqueles feitos em empresas já listadas nas bolsas de valores, os múltiplos pagos sobre vendas e lucro líquido, em tese, deveriam ser bem inferiores. Porém, não é isso que estamos observando.
Os fundos de pensão inflaram diversos ativos no mundo desenvolvido e agora buscam alternativas em mercados emergentes. No fim, mesmo que não ocorra uma crise financeira generalizada, as expectativas de retornos futuros devem ser revisadas para baixo de forma significativa.