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Marink Martins: Quando a volatilidade é tratada como um ativo

25 jun 2020, 12:11 - atualizado em 25 jun 2020, 12:15
No texto de hoje, Marink Martins propõe falar sobre volatilidade (Imagem: Shutterstock)

Olá, leitor.

Hoje, eu quero falar com você a respeito de volatilidade.

Especificamente, quero chamar sua atenção para o fato de como a volatilidade, que normalmente é um atributo, um sintoma, tem se tornado cada vez mais uma causa, um ativo negociável.

Na verdade, já é negociável há bastante tempo. Só que, hoje em dia, está se tornando um produto de prateleira, acessível ao investidor comum, talvez não ao investidor brasileiro, mas certamente ao investidor americano.

Neste cenário, o Wall Street Journal, um dos principais jornais de finanças nos Estados Unidos, fez uma matéria a respeito desse tema, chamando atenção para o seguinte fato: durante uma das mais expressivas quedas dos últimos dias do índice S&P 500, alguns fundos tiveram suas cotas valorizadas, se beneficiando desta baixa. Ou seja, conforme o S&P 500 caía, o fundo apresentava variação positiva em sua cota.

Esse fundo estava vendido em S&P?

Não, este fundo estava comprado em volatilidade!

Isso é muito interessante porque, a partir do momento que você tem esse produto na prateleira, em um mercado inundado por liquidez, com cada vez mais pessoas demandando esse tipo de produto, a própria volatilidade se torna a causa de mais e mais volatilidade no ativo-base, nas próprias ações.

Isso é interessante, eu diria até fascinante.

Já escrevi sobre esta temática em um texto intitulado “Momentos em que o rabo balança o cão”, quando o mais comum seria o oposto a isso.

E isso é um tema que veio para ficar. Há um processo de sofisticação do investidor.

Mas do que se trata a volatilidade?

Volatilidade para todos

A volatilidade é uma medida de dispersão.

Citando como exemplo as ações da Petrobras (PETR4), sabemos que o seu preço pode oscilar muito ou pouco. Podemos visualizar a variação histórica e calcular uma medida de desvio padrão para um determinado prazo. Podemos pegar esse desvio padrão e anualizar, para dizer, no jargão do mercado, “a volatilidade da Petrobras está alta ou está baixa”.

“Eu mesmo digo, para as pessoas que me seguem, que uma volatilidade abaixo de 30 é baixa. De 30 para 40, é normal. Acima de 40 é um valor mais alto”, afirma o colunista (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

Eu mesmo digo, para as pessoas que me seguem, que uma volatilidade abaixo de 30 é baixa. De 30 para 40, é normal. Acima de 40 é um valor mais alto. Isso em relação à volatilidade dos contratos de opções associados às ações preferenciais da Petrobras.

Esse é o produto que eu dedico praticamente a minha vida profissional, montando estruturas com ações e opções de Petrobras PN. Posso dizer categoricamente: a volatilidade está muito ligada ao comportamento de um determinado ativo.

Saiba Mais: Investindo em Opções com Marink Martins, como aproveitar melhor as oportunidades do mercado financeiro

Já lá nos EUA, o S&P 500, que é o principal índice que todos os gestores monitoram (embora o Dow Jones seja mais pop na mídia), tem diversos derivativos e contratos futuros.

Neste índice também existem derivativos, como opções de compra e de venda, e sabemos que nessa precificação de opções, o principal input para determinar o preço de um contrato de opção é a sua volatilidade.

E essa volatilidade é uma expectativa de movimento. Não é o que aconteceu no passado, não é exatamente o que está acontecendo neste momento: é o que está por vir.

A volatilidade traz muita informação e hoje é algo que todo mundo pode discutir a respeito. Você não precisa ser um PhD, nem precisa ter uma formação em economia para falar sobre esse assunto. Às vezes, o simples bom senso já é mais do que suficiente e, muitas vezes, até mais interessante do que dados técnicos.

Por exemplo, não gosto muito de olhar para a volatilidade histórica, mas muitas vezes, quando critico a volatilidade histórica, eu mesmo me critico, porque sempre estou olhando e citando exemplos históricos que, embora não os coloque numa planilha, estão aqui na minha mente.

E eu posso compartilhar alguns momentos aqui com você.

Predicado afetando o sujeito

Um momento que é particularmente interessante diz respeito a 2011, quando durante o mês de agosto, a classificação de risco dos Estados Unidos foi rebaixada de triplo A para duplo A.

Por que é relevante falar sobre isso hoje?

O mesmo ocorreu com o Canadá, que foi rebaixado de triplo A para duplo A. Agora, só existem 10 países com classificação de risco triplo A. E pasmem: nesta lista não está nem os Estados Unidos, nem o Canadá.

E é interessante porque, naquela ocasião, a volatilidade estava baixa, por volta de 22 e 23 na Petrobras, e deu um salto, foi para 50% nos meses subsequentes a esse downgrade dos EUA.

Por lá, as ações dos bancos sofreram bastante e o VIX deu um mega de um salto. E em diversos outros eventos subsequentes, vimos saltos da volatilidade.

Mas o mais relevante agora é que, como o próprio Wall Street Journal noticiou ao longo dessa semana, ao negociarem o ETF UVXY, as pessoas podem de fato apostar nesta volatilidade.

E quando você tem muita gente apostando na volatilidade, a própria volatilidade vai lá e faz com que o ativo-base fique mais volátil.

Citando alguns exemplos: o Ray Dalio, gestor da famosa Bridgewater Capital, nos surpreendeu há alguns meses dizendo que comprou um bilhão de dólares em contratos de opções de venda, em puts.

Bem, se ele comprou um bilhão de dólares, você pode imaginar que teve um elevado número de pessoas vendendo esses contratos para ele.

E conforme a tal da volatilidade que o Ray Dalio estava apostando se materializava, conforme o mercado foi ficando mais nervoso, aqueles que estavam vendidos nessa volatilidade, grande parte, em particular aqueles que trabalham de uma forma mais dinâmica, mais não direcional, buscando uma taxa de juros, tiveram que se ajustar.

“Quando você tem muita gente apostando na volatilidade, a própria volatilidade vai lá e faz com que o ativo-base fique mais volátil”, diz Marink Martins (Imagem: Unsplash/@adamaszczos)

Para finalizar, em situações em que há muita gente apostando na volatilidade, em momentos de queda, muita gente tem que vender mais para se adequar à nova realidade do mercado.

Em momentos de alta, aqueles vendidos em volatilidade precisam comprar mais para se adequar a essa nova realidade.

Então, o resumo da ópera é o seguinte: a presença da volatilidade como um ativo intensifica os movimentos, fazendo com que os mercados simplesmente saiam de um estado de pouca volatilidade para um de muita volatilidade em questão de horas.

Sim, é isso.

E, muitas vezes, esses estados de alta volatilidade e baixa volatilidade tendem a permanecer por um bom tempo.

Em 2017, o S&P 500 bateu um recorde em que a volatilidade nunca foi tão baixa. E esse ciclo durou até fevereiro de 2018, quando tivemos um grande salto na volatilidade, que provocou a quebra de um fundo associado ao banco Credit Suisse.

Naquela ocasião, muitos chamaram o que ocorreu de “volmageddon”, num paralelo com a expressão armagedon. Esses saltos da volatilidade vieram para ficar.

Algo que devemos ver com mais e mais frequência.

Aproveito para indicar meu curso de Opções, onde me aprofundo melhor no tema. Basta clicar neste link para ter meu acompanhamento nos seus investimentos.

Eu fico por aqui.

Muito obrigado pela atenção. Até a próxima!

Um grande abraço,

Marink Martins.