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Marink Martins: Para os millennials, o sonho americano está mais distante

29 jul 2019, 14:51 - atualizado em 29 jul 2019, 15:54
Colunista diz que EUA pode estar vivendo um bom momento econômico devido as máximas das bolsas, porém o país não tem uma boa distribuição de renda, o que gera a dificuldade da população em adquirir bens como casa própria ou automóveis (Imagem: Pixabay)

Mesmo com as taxas para financiamento imobiliário nos EUA nos níveis mais baixos da história, caiu de forma significativa o percentual dos trabalhadores americanos com idade entre 25 e 34 anos que compraram imóveis nos últimos anos. Atualmente, somente 40% deste grupo possui um financiamento imobiliário — uma queda expressiva quando comparado ao percentual de 48% registrado em 2001.

Embora Donald Trump afirme que os Estados Unidos estão passando por seu melhor momento na história, diversos indicadores econômicos simplesmente não sustentam tal tese.

Está certo que o mercado de ações está nas máximas. Mas o leitor deve compreender que a distribuição de renda nos EUA está cada vez mais assimétrica. Sabe-se que a grande crise financeira de 2008 nos EUA e a crise financeira europeia de 2012 contribuíram para uma série de estímulos quantitativos que inflaram tanto o mercado de ações como o de renda fixa. Aqueles que entraram nesta década com capacidade de investir se beneficiaram de uma das mais longas expansões econômicas já vistas e de uma expressiva valorização em suas carteiras.

Já para aquele que começou sua carreira nos últimos anos, a história é bem diferente. Para você ter uma ideia, o preço médio dos imóveis americanos subiu 21% acima da inflação entre os anos de 2001 e 2017.

Durante o mesmo período, os salários subiram somente 2% acima da inflação. Com isso, o poder de compra do trabalhador – conhecido no setor imobiliário como “affordability” – caiu de forma expressiva.

E não é o setor imobiliário que sofre com o declínio do poder de compra dos millennials. O setor automobilístico talvez enfrente um desafio ainda maior. Afinal, as alternativas proporcionadas pela nova economia de compartilhamento faz com que usuários em centros urbanos simplesmente desistam de vez da ideia de serem proprietários de um automóvel.

No gráfico acima vemos que as vendas de veículos nos EUA estão estagnadas desde 2016

Em uma época em que o nome UBER passou a ser utilizado como um verbo, assim como ocorreu com no passado com o nome Google, é difícil passar por um dia sem que analistas nos lembrem que as perspectivas para o setor automotivo são um tanto sombrias.

Hoje mesmo, Kara Swisher, uma das pessoas mais influentes no mundo da tecnologia, foi a público dizer que vendeu seu carro e que jamais será proprietária de um carro novamente.

Acima, Kara Swisher afirma: Eu nunca mais vou comprar um carro

Curiosamente, Kara Swisher ficou famosa em um passado distante ao prever que os americanos não teriam mais telefones fixos em suas residências. Na época, moradores do meio oeste americanos a criticaram argumentando que a falta de cobertura de telefonia celular na região era um impeditivo para a materialização de seu prognóstico.

De forma resumida, chamo atenção do leitor ao fato de que há diversos sinais de fragilidade na economia americana que hoje são mascarados por um mercado acionário em que somente uma parcela cada vez menor da população se beneficia. Nos EUA os 1% mais ricos detém 40% dos bens do país.

Os 10% mais ricos detém 80% dos bens do país. Há um processo de latinização do país que está em curso. Junto com isso, infelizmente, vem o populismo. Tudo isso vigorando em uma economia que conta com uma população que envelhece cada vez mais rápido e que tem os custos com saúde mais elevados do planeta.

Embora as autoridades (governamentais, monetárias e outras) façam de tudo para evitar a vinda de uma recessão, quando ela vier (e ela virá!) poderá ser avassaladora.

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