Opinião

Marink Martins: Oxigênio para os emergentes

29 jan 2019, 16:00 - atualizado em 29 jan 2019, 16:37

Por Marink Martins, do MyVol e autor da newsletter Global Pass

Até eu que não sou um grafista, confesso me sentir tentado a traçar uma linha de tendência de baixa no gráfico acima dado a clareza com a qual se apresenta a distribuição de preços do ativo em consideração. Dito isso, vamos aos fundamentos pois é por aqui que busco agregar algum valor ao assinante.

O ativo em questão é o índice DXY – Dollar Index que é um índice compilado através da média geométrica das seguintes moedas, de acordo com os seguintes pesos:

Ao observar o gráfico acima não só detectamos a tendência baixista de longo prazo, mas reconhecemos também uma tentativa de rompimento que se provou muito dolorosa aos mercados emergentes ao longo do ano de 2018.

Na verdade, nos últimos 18 meses os emergentes foram abalados não só por um dólar mais forte mas também por um preço do petróleo elevado e, principalmente, por uma elevação na taxa de juros americana, que combinada com a redução do total de ativos carregados pelo FED, culminaram para um aperto na liquidez global.

Tudo isso vem mudando drasticamente e, felizmente, em benefício ao que se apresenta como uma janela de oportunidade para os mercados emergentes.

O preço do barril de petróleo caiu para um patamar entre US$50 e US$65 que é considerado um “sweet spot”; um patamar não-comprometedor nem para produtores, nem para consumidores.

Ao mesmo tempo, a taxa de juros norte-americana parece ter parado de subir na medida que as autoridades monetárias se mostraram mais sensíveis ao que parece ser uma tendência de desaceleração global.

Mais importante, porém, é o que acontecerá com o dólar. Como sabemos e podemos detectar através do gráfico acima, este se manteve relativamente elevado desde a crise de 2008 por diversas razões. Dentre elas, uma preferência global clara por ativos de tecnologia que só podiam ser achados nos EUA. Além disso, as medidas estimulativas instauradas por Donald Trump, por um determinado tempo, fez com que todos corressem em direção ao que já estava dando certo – as ações americanas.

Tudo isso mudou nos últimos meses. Empresas atingiram um pico, com a Apple e a Amazon, em um determinado momento, superando a capitalização de mercado de um trilhão de dólares. Ao mesmo tempo, os efeitos positivos associados aos cortes de impostos parecem ter perdido ímpeto, e o que temos a frente parece ser bem desafiador.

Especificamente, os EUA transitam em um período de fim de ciclo de expansão econômica com um déficit orçamentário preocupante.

Ontem mesmo o CBO (Congressional Budget Office) publicou projeções orçamentárias para o país que indicam que se tudo continuar como está, o país caminha para registrar um déficit nominal superior a 5% em 10 anos. O seu custo com o pagamento de juros sobre sua dívida cresce de uma forma a provocar um enorme efeito de “crowding out”, onde será necessário que o governo tome recursos do mercado que deveriam ser utilizados em atividades mais produtivas.

Começa a ficar claro que neste ritmo o país terá que priorizar suas escolhas e avaliar seus gastos, como aqueles direcionados ao setor de defesa. Algo que os europeus abandonaram há bastante tempo. Há semelhanças entre a trajetória europeia e a americana, particularmente, nas questões demográficas que tanto impõem mudanças nos rumos orçamentários. Veja o gráfico abaixo.

Como podemos ver através do gráfico acima, os EUA e a Alemanha apresentam uma dinâmica muito similar no que diz respeito ao percentual da população com mais de 65 anos de idade. Com uma população mais velha, a economia americana terá que conviver com uma enorme pressão advinda de gastos no seu sistema de saúde e bem estar social. Será que haverá dinheiro para a Boeing e para a Lockheed Martin?

Por tudo isso, há uma expectativa de que no curto prazo, a trajetória da moeda americana é de baixa, e isso representa uma espécie de “oxigênio” para mercados emergentes, como o brasileiro.

O leitor naturalmente já sabe sobre o meu ceticismo (para mais informação, ler 3 razões para um maior ceticismo quanto ao IBOV. Afinal, assim como nos EUA, o Brasil também atravessa enormes desafios fiscais. Seus principais ativos em bolsa estão longe de estar negociando a níveis considerados uma pechincha.

Além disso, observe que dos 16 IPOs ocorridos nos EUA com valores superiores a um bilhão de dólares, 13 eram chineses.

Hoje, quando o investidor americano pensa em investir em mercados emergentes, ele naturalmente pensa na Ásia. O Brasil é um “second thought”e algo visto como um “momentum trade”.

Tudo isso pode mudar, mas o mais recomendável é não sair dando o benefício da dúvida a políticos brasileiros. Vamos com calma.

Para finalizar, afirmo que após a derrocada no preço das ações da Vale, julgo que é pouco provável um “rally” mais forte por aqui sem uma presença destacada das ações da Petrobras.

Afirmo isso por achar que as ações dos bancos já estão bem precificadas e que as ações da Ambev precisam de um catalisador na forma de crescimento econômico que deverá demorar um pouco mais para aparecer.

Sendo assim, digo que as ações da Petrobras estão bem posicionada para assumir a posição de o cavalo da vez. Caso contrário, o esperado “rally” poderá ser frustrado pelas águas de março que chegarão em breve.