Opinião

Marink Martins: Os gringos preferem o México

18 jan 2019, 10:22 - atualizado em 18 jan 2019, 10:22

Por Marink Martins, do blog MyVol e autor da newsletter Global Pass

Ao ler uma excelente análise publicada por estrategistas da Gavekal logo pensei em alertar aqueles que leem os meus comentários a respeito do viés conhecido como “home country bias”.

Quando o assunto é investimentos tal viés diz respeito ao fato de que americanos tendem a investir seus recursos nos EUA e brasileiros no Brasil. Algo natural. Afinal, dizem por aí que devemos investir em algo que pensamos ter uma boa compreensão a respeito de suas nuances.

Bem, conforme mencionei em um outro texto publicado nesta semana, são justamente as premissas que nos deixam vulneráveis.

Quem está de fora observa o Brasil em um contexto bem mais amplo, comparando sempre o Brasil com países como o México, a Argentina e outros.

Por isso mesmo, uma das razões para o fato dos investidores estrangeiros se manterem reticentes em embarcar na euforia “bolsonariana” talvez seja pelo fato de que os ativos mexicanos representem, neste momento, uma melhor barganha.

Em seu comentário, o analista da Gavekal nos diz que nos últimos meses o EWZ (MSCI Brasil) registrou um diferencial de retorno de 37% em relação ao EWW (MSCI Mexico). Da mesma forma, os títulos de renda fixa brasileiro se valorizaram bem mais do que os mexicanos.

Tudo isso em um cenário macroeconômico que deveria favorecer bem mais os ativos mexicanos do que os brasileiros, uma vez considerado que a relação dívida/PIB do México é inferior a 50% enquanto que a brasileira supera o patamar de 80%. Além disso, o déficit orçamentário mexicano está por volta de 3% enquanto por aqui excede 7%.

Do ponto de vista político, por lá temos Andrés Manuel Lopéz Obrador (AMLO) visto como um socialista que habita o lado oposto do espectro quando comparado ao atual presidente brasileiro.

Bem, o fato é que os preços atuais naturalmente embutem as perspectivas futuras e ignoram o passado. Além disso, pode-se afirmar que os ativos brasileiros foram “picados” pelo mosquito do “momentum”.

E quando o assunto é “momentum” – termo tomado emprestado da física denotando massa x velocidade – não devemos esquecer que o Brasil é muito maior do que o México… O investidor brasileiro, embalado pelo viés descrito no início do texto, não quer nem sequer olhar para o lado. Para ele, chegou a hora do Brasil.

Da minha parte, embora mantenha o meu ceticismo, não sou mais tão tolo como em outrora para acreditar que um caminhão descendo a serra pode ser freado de forma análoga a uma bicicleta. O mercado quer subir. Deixa subir.