Opinião

Marink Martins: O que Buffett tem a dizer sobre IPOs? Veja a mais recente opinião do oráculo

29 mar 2019, 12:44 - atualizado em 29 mar 2019, 12:44

Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Global Pass

Normalmente quando escrevo a respeito do investidor mais famoso de nossa geração, Warren Buffett, busco chamar atenção dos leitores ao fato de que o Oráculo de Omaha, além de um gênio das finanças, é também um ótimo ator.

E aqui faço uso da ironia para argumentar que Buffett posa de “value investor” – aquele que está em uma busca constante por ativos negociados abaixo de seu valor intrínseco – mas é na verdade um grande vendedor de volatilidade! Como assim? Bem, digamos que sua holding, a Berkshire Hathaway, deriva boa parte de seus ganhos de ativos que se beneficiam da manutenção do status quo; se beneficiam da passagem do tempo e da ausência de sinistralidades.

Buffett, que logo após a crise de 2008, disse que derivativos são armas de destruição em massa, sabe muito bem que o problema, em si, não está com os derivativos, mas sim com os insanos que os usam de forma inconsequente.

Berkshire Hathaway controla diretamente ou indiretamente aproximadamente sete seguradoras e resseguradoras (aqui destaque para GEICO, SWISS RE). Além disso, a holding tem participações em diversas empresas do setor financeiro que, por definição, é um que se beneficia da baixa volatilidade. Aqui podemos falar das participações em empresas como American Express, Bank of America, Wells Fargo, Mastercard, e muitas outras.

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Observe que não há nada que impeça que tais empresas expostas negativamente à volatilidade também sejam, ou melhor tenham sido, uma barganha no ponto de entrada da Berkshire, representando assim uma ótima oportunidade do ponto de vista de “value investing”.

Mas, tudo isso que discuto acima já é de conhecimento daqueles que acompanham as minhas publicações feitas através do MyVOL. O que busco transmitir aqui hoje são detalhes da entrevista concedida por Buffett à jornalista Becky Quick em um evento realizado ontem chamado de Gateway Hands Up For Success.

Nesta entrevista que o leitor pode ter acesso ao clicar aqui, o megainvestidor expressou sua visão a respeito do investimento em ações de uma forma sensacional.

Buffett disse que investir em ações é análogo a uma compra de um título perpétuo com diversos cupons atrelados a ele. A grande diferença deste título para aqueles de renda fixa está no fato de que enquanto os cupons dos títulos de renda fixa são conhecidos a priori, os “atrelados” a ações já são a posteriori. Até aí, nada mais do que uma definição de livro a respeito destas duas classes de investimentos. O que torna curioso a sua fala é sua crença que através do seu trabalho diligente de “valuation” ele é capaz de fazer com que tais cupons gerem retornos na casa de 15% ao ano.

Buying initial public offerings (IPOs) in hot periods is something that the average investor should not do it.

tradução: participar de IPOs em um mercado “eufórico” é algo que o pequeno investidor deve evitar.

E, por isso mesmo, quando perguntado a respeito de investimentos em IPOs, disse que não vê sentido algum. Em particular, ao discutir o IPO da empresa Lyft, marcado para hoje, dia 29/3, disse que investidores pessoas físicas devem evitar participar deste tipo de investimento. Confessou que ele mesmo só participou de um único IPO na vida, e este foi o IPO das ações da Ford em 1955. Na ocasião, confessou ter pego carona em uma recomendação, lucrando US$500 na operação.

Perguntado se houve algum arrependimento por ter deixado de participar de alguns IPOs como o da Google, da Amazon, e outros, Buffett respondeu de forma irônica e precisa.

Disse ele:

No passado já houve um paraíso no deserto! Você pode sair por aí fazendo apostas estúpidas e, mesmo assim, se consagrar vencedor. Eu passo mais tempo pensando no que eu faço do que no que deixo de fazer.

Quando o assunto migrou para seu maior investimento do momento – sua posição de 5,5% do controle da Apple – ele disse que a empresa pode se dar ao luxo de cometer um erro ou outro. Diz ele que você não quer investir em uma empresa que faz tudo certo. Sem sequer mencionar antifragilidade, Buffett, com seus 88 anos, sabe como ninguém que errar é necessário!