Opinião

Marink Martins: O ponto de entrada na bolsa é definitivamente relevante!

05 mar 2019, 9:42 - atualizado em 05 mar 2019, 9:42

Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Global Pass

Paradoxalmente, apresento o gráfico abaixo que ilustra justamente o contrário da afirmação que faço no título acima.

O que vemos neste gráfico é o retorno anual médio registrado ao longo dos 35 anos subsequentes ao ponto de entrada para o índice S&P 500. Observe que, aquele que entrou na bolsa em setembro de 1929 – no ápice da bolha dos anos 20 – obteve um retorno anual médio nos 35 anos subsequentes de aproximadamente 8%. Como podemos observar, a média em boa parte da série histórica aponta para retornos anuais entre 10% e 12%.

O meu argumento ao afirmar a relevância do ponto de entrada vai além do que podemos observar através deste gráfico.

Aqueles que me acompanham por aqui sabem o quanto considero importante as mudanças demográficas que embasaram tais retornos.

Estou falando aqui de uma enorme explosão populacional que transformou os EUA em um imenso mercado consumidor. Só para você ter uma ideia, quando Warren Buffet tinha 11 anos de idade em 1942 e fez seu primeiro investimento – ele comprou US$114,25 em ações de uma empresa que não existe mais – a população norte-americana era de aproximadamente 130 milhões de pessoas. Hoje é de 325 milhões!

É gente à beça consumindo Coca-Cola, barbeadores, shampoos, seguros, etc — só para citar alguns dos principais produtos das empresas em que o oráculo de Omaha tem participação acionária. Entretanto, o que observamos nos últimos anos é um declínio na taxa de crescimento populacional em conjunto com um alargamento na parte superior da pirâmide etária norte-americana.

Trazendo estas informações para o mercado acionário, podemos inferir que a relevância do ponto de entrada na bolsa passa a ser cada vez mais importante. Mas, por que?

Ora, as empresas dependerão cada vez mais de ganhos de produtividade para crescer seus resultados. Além disso, com o enorme endividamento registrados pelos governos ao redor do mundo, é provável que o custo de capital irá subir em algum momento nos próximos anos.

Embora essa análise seja baseada em dados históricos norte-americanos, creio que podemos extrapolar para a realidade brasileira que, assim como a americana, exibe uma taxa declinante de fertilidade e envelhecimento da população.

Sendo assim, se você é um investidor de longo prazo e deseja ser como Warren Buffet, saiba do seguinte:

– Na ausência do tailwind (vento de cauda) populacional, é preciso ser tático e estar preparado para entrar na bolsa em momentos mais convidativos. Eles surgirão! Não quer ficar de fora? Entre com 50% do que você está disposto a alocar em bolsa, mas não vá all in enquanto a bolsa estiver com um P/L projetado acima de 12x.

– E saiba que Warren Buffet é na verdade um grande gerador de renda através de suas participações acionários em empresas ligadas ao ramo de seguros. Buffet é um vendedor de volatilidade que se faz passar como um grande value investor.

– Os estrategistas que sigo nos mercados acreditam que o retorno anual médio a ser registrado pelo índice S&P 500 nos próximos 10 anos tende a ser inferior a 5% ao ano – podendo até ser negativo.

O gráfico a seguir é ilustrativo desta expectativa. O que observamos é o seguinte:

No eixo vertical da esquerda temos o percentual do patrimônio das famílias americanas alocado em ações. No eixo vertical da direita temos o retorno subsequente registrado nos 10 anos seguintes.

Observe que a linha verde (percentual do patrimônio em ações) foi jogada a frente por 10 anos, de forma que, o que você vê em 2008 é na verdade o percentual registrado em 1998.

É complicado! Eu sei, mas se você olhar com calma irá certamente apreciar este gráfico produzido pelo Fed.