Marink Martins: Não há AÇÃO sem dono!
Por Marink Martins, do blog MyVol e autor da newsletter Global Pass
Assim como a natureza odeia o vácuo — pois todos os espaços devem ser preenchidos com algo — no mercado de ações, não há AÇÃO sem dono.
Uma vez emitida e lançada ao mercado, as ações, ora fluem como ar passando de um investidor a outro, ora estacionam nas carteiras de indivíduos, de fundos, de empresas, e até mesmo, de governos. Escrevo isso buscando explorar um dos principais argumentos daqueles que dizem que a bolsa local tende a subir devido a uma sub-alocação em renda variável por parte investidores estrangeiros.
Capitaneado pela mídia financeira, o argumento da tal sub-alocação soa como música aos ouvidos dos ansiosos, loucos para ganhar um dinheiro rápido no mercado. Constata-se, com base em estatísticas publicadas pela B3, que os investidores estrangeiros não vem participando do “bull market” brasileiro iniciado semanas antes da eleição de Jair Bolsonaro.
Há uma clara expectativa de que a equipe econômica liderada por Paulo Guedes será capaz de promover a tão aguardada e necessária reforma da previdência, abrindo assim espaço para o retorno dos estrangeiros que provavelmente terão que pagar um preço mais elevado pelos ativos brasileiros.
O argumento é sem dúvida forte e bem embasado. A minha crítica, entretanto, se faz pela premissa assumida pelo mercado que tal fluxo virá independente da precificação dos ativos e das condições econômicas globais.
Em minha opinião, considero que há um otimismo exagerado no que diz respeito a tese de descolamento da bolsa brasileira em relação ao resto do mundo. Além disso, observo um sentimento de reversão à média no que diz respeito a alocação por parte de determinadas classes de investidores.
E neste sentido, é importante destacar que, no passado, o Brasil já foi responsável pela maior alocação dentro da carteira de mercados emergentes da MSCI, com uma alocação superior a 13%. Nos últimos 15 anos, entretanto, seu peso despencou para um patamar inferior a 8% diante do crescimento econômico visto na Ásia; em particular na China.
Um outro fator importante, abordado pelo meu amigo Dave Sharp – que muito entende sobre os mercados internacionais – está no fato de que as estatísticas locais não retratam a realidade do fluxo estrangeiro. Há detalhes associados as operações de “cash-and-carry” que distorcem de forma significativa o que é retratado nas estatísticas. Sendo assim, é possível que o gringo não esteja tão ausente como as estatísticas parecem indicar.
Embora em minhas últimas análises eu tenha expressado um certo ceticismo com relação aos mercados como um todo, é importante que o leitor entenda que não estou pessimista com as perspectivas para a bolsa brasileira. Acredito sim que com a aprovação de reformas estruturais há espaço para uma maior valorização em diversos ativos. O meu questionamento, entretanto, está associado a magnitude deste movimento. Vamos com calma!