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Marink Martins: In GOLD we trust

04 jun 2020, 12:56 - atualizado em 04 jun 2020, 18:13
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(Imagem: Brave New Coin)

Marink Martins vai apresentar o que se passa na mente dos principais investidores internacionais, condensando a avaliação de quem já esteve à frente da tesouraria de grandes bancos nos EUA e no Brasil.

Sem opções rentáveis na renda fixa, todos querem alternativas seguras. Agora, Marink Martins compartilha exclusivamente com você qual poderá ser a próxima renda fixa da década.

Hoje quero falar com você sobre duas commodities metálicas, o ouro e a prata, tomando como base Ronald Stoeferle, analista da newsletter “In Gold We Trust”, cujo título tomo emprestado.

Ronald faz um excelente trabalho, que o tornou um dos mais reconhecidos analistas no que diz respeito à análise do preço do ouro, com teses balizadoras à valorização do metal.

Muitos estão subestimando o cenário atual achando que será passageiro … mas o que está por vir pode ser muito maior.

Se você quiser se blindar e aproveitar “a maior crise desde o crash de 1929”, você tem que agir agora. Clique aqui.

Quero comentar com você alguns dos seus argumentos, discutir um pouco a sua visão de longo prazo e falar um pouco sobre o importante market timing do ouro.

Para mim, o ouro é suscetível a uma crise de liquidez igual à de março, quando o preço do metal caiu, assim como o da prata. Isso é similar ao que ocorreu lá atrás, na crise de 2008, quando a commodity também perdeu valor.

Hoje o ouro é um ativo que se mostra interessante diante de um cenário que eventualmente se transformará em inflacionário.

É muito importante refletirmos a respeito do timing porque, caso as bolsas voltem a cair, mesmo que sem a mesma magnitude de março, poderemos ver quedas nos preços do ouro e da prata.

Neste instante, vou compartilhar com você alguns dos argumentos discutidos pelo Ronald, que são muito interessantes e nos ajudam a compreender a dinâmica que estamos vivendo:

1) Mercados como dependentes químicos: um dos primeiros argumentos é de que a política do banco central dos EUA, que tenta normalizar a economia, não deu certo.

Foi uma tentativa de 2018, quando o Fed buscou retirar estímulos colocados ao longo de toda a década. À época, seu balanço atingiu US$ 4,5 trilhões e buscava redução para próximo de US$ 3,2 trilhões.

Você lembra daquele Natal de 2018 em que a bolsa despencou lá fora? Pois é: aquilo fez com que o Jerome Powell virasse a mão e voltasse a ter política mais expansionista, contribuindo para uma ótima performance das ações em 2019 em todo o mundo.

Mas 2019 já mostrava diversos sinais de fragilidade, com uma mini crise associada ao mercado de operações compromissadas em setembro. Mais uma vez, o Fed impulsionou o mercado, que se valorizou novamente, até chegarmos em fevereiro e sermos surpreendidos pela pandemia.

2) Possível formação de bolha: ao contrário de 2008, os estímulos não foram somente do lado monetário, mas também no âmbito fiscal. Somados, chegam a algo próximo de 38% do PIB dos EUA!

Isso é algo inusitado. Você deve concordar: as bolsas estão subindo completamente descoladas da economia real, apesar dos indicadores assustadores, com 40 milhões de pessoas pedindo auxílio-desemprego nos Estados Unidos, manifestações e uma série de problemas.

A desconexão me fez lembrar 1999. O Fed, preocupado com o bug do milênio (à época um risco de cauda no mercado), injetou bastante liquidez e contribuiu para uma alta surpreendente no índice Nasdaq, culminando na bolha da tecnologia estourada em março do ano 2000.

Há semelhanças no que ocorreu na ocasião e no que acontece hoje em dia. Você pode pensar: “ah, mas naquele cenário as ações estavam extremamente caras’’. Bem, existem algumas hoje que estão extremamente caras em todo o mundo.

Como exemplo, a Zoom, empresa que estamos utilizando para fazer conferência, negocia a um múltiplo de 33 vezes suas vendas, algo impressionante num mercado competitivo com a atuação de empresas como Microsoft e Cisco.

3) Estímulos cada vez mais ineficazes: chegamos em um nível de endividamento dos governos que está se tornando insustentável. Segundo Lacy Hunt, economista especializado em política monetária, vivenciamos a “lei da produtividade marginal decrescente”. Mas o que é isso?

Eu vou contar para você: isso ocorre quando o governo gera cada vez menos retorno em termos de PIB para cada dólar adicional em dívida. Os Estados Unidos ainda conseguem ter maior eficiência no uso do endividamento, bem superior à Europa, China e Japão.

Mesmo assim, vemos um declínio. Se cada dólar de dívida nos EUA respondia por 0,42 centavos de crescimento no PIB, agora, para cada dólar, a expansão é de somente 0,36 centavos. Ou seja, há um esgotamento no modelo.

O hotel sem saída e a independência em xeque

Isso nos leva a uma situação em que os bancos centrais estão presos, como descrito pelo Louis-Vincent Gave, fundador da Gavekal, em uma espécie de “Hotel Califórnia” de juros baixíssimos.

Você se lembra daquela música da banda Eagles de 1976? Na última estrofe ela diz: você pode fazer o checkout do hotel a qualquer momento, mas você não consegue sair de maneira alguma.

E não há como sair. Você acha que se a inflação começar a aparecer nos EUA, o Fed vai aumentar o juro para 2% ou 3% ao ano? Não vai. Se fizer isso, o Fed praticamente quebra os EUA com seu enorme endividamento.

Há outro argumento colocado pelo Ronald muito interessante: temos o fim da independência dos bancos centrais.

Aqui no Brasil, lutamos pela independência há muito tempo. Você viu com o Tombini: o banco central ainda é dependente, basta rememorar aquele episódio de clara interferência. Hoje, temos maior autonomia, mas o tempo talvez tenha passado para esse sonho.

O nosso orçamento de guerra, por exemplo, permite que o Banco Central do Brasil compre títulos diretamente do Tesouro Nacional. Isso é extremamente preocupante caso a inflação volte a aparecer.

A nova renda fixa

Nos EUA, é muito comum a prática de alocação de portfólio em que os investidores combinam 60% em renda variável e 40% em renda fixa, sendo a última normalmente em Treasuries (títulos do Tesouro americano).

Estes títulos desempenharam excelente papel nos últimos 40 anos em diversas crises. Aqueles com carteira diversificada tiraram bastante proveito dessa alocação: sempre que a bolsa caía muito, a taxa dos títulos recuava e o preço unitário subia, então havia certa compensação.

Só que agora chegamos em um ponto em que a taxa de juros caiu tanto que não há mais espaço para quedas adicionais. Logo, um dos grandes riscos surge: uma correlação linear entre ações e renda fixa, sepultando o benefício da diversificação.

Você pode imaginar as ações caindo juntamente com o preço dos títulos de renda fixa? Pode ser devastador para os mercados, um cenário caótico.

Segundo Ronald, o ouro vem justamente para ocupar esse espaço na renda fixa, entrando nesse processo de alocação. Por isso, o cenário é muito convidativo para os próximos anos.

Para a prata, talvez seja ainda mais favorável. Comparando o preço atual a 2013, o metal precisa subir 65% para recuperar sua média histórica. Desta forma, a prata pode ser uma ótima defesa.

Devo fazer uma ressalva a você: o mercado da prata é menor, cerca de um décimo em relação ao do ouro: se o último é de US$ 10 trilhões, o primeiro é um pouco menor, US$ 1 trilhão.

Longo e curto prazos

Dito tudo isso, o ouro e a prata se apresentam como ótimas alternativas de investimento para o longo prazo. Porém, sou muito cético e pessimista no curto prazo, preocupado com a eleição que está por vir no dia 3 de novembro nos EUA e com as chances de Joe Biden, nada desprezíveis.

Quando o mercado assimilar os riscos associados a transição de um governo republicano para um democrata, impactos negativos podem surgir através de um aumento de impostos, ou com uma série de medidas que podem ser nada amigáveis às empresas do índice S&P 500.

Apesar de todos os argumentos enunciados, acredito que o ouro é um ótimo investimento para aqueles com maior horizonte de tempo de investimento, talvez algo como dois anos para cima.

Contudo, se você está mais alinhado com as minhas estratégias apresentadas aqui na Inversa, de curto prazo, o timing não é convidativo neste exato momento, diante de uma elevada probabilidade de queda no mercado, apesar de todo esse estímulo monetário.

Se estímulo monetário curasse as crises, não teríamos passado por qualquer uma, mas tivemos de enfrentá-las em diversos momentos. Eu vivi de perto inúmeras: a crise asiática, a do Nasdaq, a financeira de 2008, a europeia em 2012 e muitas outras.

Por fim, encerro falando que é melhor ser paciente no curto prazo, considerando alternativas, podendo inclusive o Tesouro Selic ser um bom caminho.

Você pode argumentar: o Tesouro Selic rende só 3% ao ano. Bem, 3% ao ano, depois de tudo o que a gente viveu, é um ótimo rendimento. Como vimos, aqueles que proclamavam a morte da renda fixa cometeram uma grande falácia nos seis meses que antecederam a pandemia.

Um último ponto: a relação entre taxa de juros e bolsa não é linear. Não pense que, se a taxa de juros cair de 3% para 1%, será algo positivo para as bolsas, acho que muito pelo contrário. Aqui reside uma enorme complexidade.

Mas conto isso para você um outro dia. Hoje, fico por aqui.

Muito obrigado por sua atenção e até a próxima newsletter.

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