Marink Martins: desta vez é ABSURDAMENTE diferente
Hoje escrevo sobre o preço do ouro e da prata que, recentemente, entraram em um movimento de apreciação exponencial.
Conforme podemos observar no gráfico abaixo, em 2011 esses ativos se valorizaram bastante.
Na ocasião, os bancos centrais embarcaram em um processo técnico de afrouxamento monetário (“quantitative easing”), que hoje virou tão corriqueiro, que até minha tia me ligou perguntando: e aí você acha que o Roberto Campos Neto vai fazer “QE” por aqui também? Vai saber!!! Respondi pensando no quanto a prata ainda podia se valorizar…
A dúvida que paira é: será que os preços já subiram demais? Será que teremos um “dribe da vaca” à la 2011/2012?
Bem, há razões para acreditar que desta vez o contexto é bem diferente.
Entre 2009 e 2011, o tal “QE” era novidade. A minha geração tinha em mente a famosa frase do economista Milton Friedman que dizia: “a inflação é um fenômeno monetário”.
Sendo assim, o mercado não hesitou e saiu em busca de proteção através das commodities metálicas, com destaque para o ouro e para a prata.
Curiosamente, na mesma época, o famoso gestor da Hayman Capital, Kyle Bass, publicava o infame “The Cognitive Dissonance of It All”, uma newsletter em que ele clamava, de forma contundente, que um simples aumento de 1% na taxa de juros dos títulos de 10 anos do Japão (JGBs) consumiria 100% da receita tributária do país. O gestor recomendou que investidores ficassem vendidos em ienes e JGBs.
O fato é que Kyle Bass errou feio assim como todos que apostaram no ouro e na prata em 2011. A taxa de juro japonesa, e de outros países desenvolvidos, não só permaneceram onde estavam, mas, eventualmente caíram ainda mais.
Em 2016 – para salvar o mundo da recessão global que se apresentava – inaugurou-se, o hoje famoso, NIRP – “negative interest rate policy” (política de juros negativos).
O preço do ouro e da prata despencou, pois, a tal inflação anunciada por personagens como Peter Shiff, Jim Rickards, e outros, nunca deu o ar de sua graça.
Dentre as razões para o fiasco das previsões podemos mencionar as seguintes:
Situação fiscal dos EUA: Em 2010, com a chegada do TEA PARTY ao congresso dos EUA, o país passou por 6 anos de austeridade.
O dólar americano: a moeda que passou a década anterior (2000 a 2010) penando, começou a se apreciar no início da década passada. Um dólar forte tende a ser deflacionário para a economia dos EUA.
A China promoveu o maior investimento de infraestrutura da história nos anos que sucederam a crise de 2008. Assim, o mundo pode ter acesso a fábricas com qualidade de primeiro mundo a um custo de produção de terceiro mundo. Um fenômeno extremamente deflacionário.
O preço do petróleo estava na máxima e a revolução do xisto ganhava tração.
Tudo isso parece ter mudado drasticamente. Em 2020, temos um cenário bem mais perverso, bem mais inflacionário, pois veja:
Situação fiscal dos EUA: é a pior de todos os tempos. Déficit nominais superiores a 5% nos próximos anos. Venho chamando este evento de “Latinização dos EUA”. Contudo, ouvi recentemente que Marko Papki (ex-estrategista da BCA) denomina este fenômeno de Consenso de Buenos Aires.
USD – o dólar hoje se encontra bem apreciado frente as moedas de países desenvolvidos. O processo de desvalorização do dólar já se iniciou. Uma intensificação deste processo tende a ser inflacionário para os EUA e para o mundo.
China / “Supply Chain” – Há um movimento contra a globalização. Descobriram que produzir em Wuhan não é tão barato assim! Pode vir com uma epidemia! Sendo assim, essa ruptura nas cadeias de suprimentos e internalização dos meios de produção contribuem para um cenário mais inflacionário.
Petróleo – ao contrário do início da década passada, o preço do petróleo está relativamente baixo. O movimento em direção a investimentos alinhados com ESG vem fazendo com que o fluxo de investimentos para o setor fique bem limitado. Tudo isso contribui para possíveis choques futuros, com o preço do petróleo podendo subir de forma significativa.
Por tudo isso, é possível que tenha chegado a hora de Jim Rickards e Peter Shiff!
Pera aí!!! Acho que os insanos acabaram de elevar o preço alvo do ouro de US$6.000 para US$15.000!!! Alô aposentados da SUNAB, se aquecem aí que tem dois loucos nos EUA querendo o serviço de vocês.
Um bom fim de semana a todos!