Marink Martins: Convivendo em um cenário de RISK-ON
Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Global Pass
Sou pago para ler o mercado de forma tática. Não nasci neste mercado em uma casa de pesquisa, nem em uma gestora de recursos. Sou filho de uma cultura de tesouraria, comprometida em sair para caça todos os dias visando “ganhar algum” no fim do semestre.
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Ciente de uma certa arrogância e raiva no texto acima, vamos ao que realmente importa.
Em tempos de bolsa em alta a convivência no mercado torna-se insuportável. É tanta gente “tirando onda” que é necessário sair para as montanhas e buscar o isolamento.
E se você acha que este meu desabafo é devido ao fato de estar na ponta errada do mercado, ledo engano. Não só o mês de março caminha bem, mas todo este primeiro trimestre. Aqueles que me acompanham vem surfando uma bela onda no mercado através da valorização das ações da Petrobras.
Na área internacional o meu CALL para a compra das ações listadas na China – aquelas conhecidas como “A-shares” – foi na mosca. Gostaria de falar que tal sugestão adveio de minha análise, mas na verdade veio através das conexões internacionais. Em particular, o contato com a equipe da Gavekal tem se provado de grande valia.
Mas se as coisas estão caminhando bem, por que o tom raivoso presente neste texto?
A razão é para chamar sua atenção ao caráter tático deste movimento!
A bolsa subiu e poderá subir mais. Até que nível? Vai saber… A bolsa está barata? Não está! Há quem formule teses mirabolantes a respeito do comportamento da bolsa caso a reforma da previdência seja aprovada. A isso eu digo: calma, mantenha o foco. Siga um caminho, busque um método de atuação no mercado que seja coerente.
Em um passado bem distante, Sir Isaac Newton – aquele da maçã – foi seduzido pelos mercados. Sua trajetória como investidor, entretanto, foi muito diferente daquela como cientista, conforme podemos observar através do gráfico abaixo:
Saiba que no último ano a B3 trouxe um número elevado de novos investidores para a bolsa de valores. Historicamente, sempre que isso ocorreu, o fim foi triste.
Lembro-me bem, lá nos anos 90, da euforia da minha cunhada, uma médica renomada, ao investir no fundo da moda – o Pactual Andrômeda. Desde a derrocada das bolsas no fim daquele ciclo, ela nunca mais investiu em nada que considerasse arriscado.
Assim, você deve estar preparado para puxar o gatilho a qualquer momento. Mas, saiba que o momento não é agora.
Este “momentum” positivo de mercado não só ganha força em meio a perspectivas mais positivas quanto a aprovação de reforma por aqui, mas também ganha impulso com a recém anunciada fusão entre dois importantes bancos alemães.
Sim. Um dos maiores receios dos mercados reside no temor de um colapso no sistema monetário europeu. Uma fusão entre o Deutsche Bank e o Commerzbank certamente não resolve o problema central europeu, mas certamente nos dá o conforto de que o governo alemão irá salvá-los se necessário for.
Assim, é possível que a semana seja marcada por rompimentos (“break outs”) nos mercados. Além da barreira dos 100k pontos do IBOV, tivemos também o rompimento do topo quíntuplo do índice S&P 500. O VIX voltou para níveis de 2017, e isso é positivo! É possível que estejamos diante do tão discutido cenário de “melt up” proclamado pelo estrategista Steve Sjuggerud.
O cenário é certamente um de Risk ON. Agora, só tome cuidado para não acreditar em histórias fantasiosas… os problemas estão sendo empurrados para baixo do tapete, mas é uma questão de tempo para que voltem a nos assombrar. O importante é estarmos sintonizados e preparados para puxar o gatilho na hora certa.