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Marink Martins: cadê o Bear Market?

30 dez 2019, 15:57 - atualizado em 30 dez 2019, 15:57
Urso Bear Market
Com a bolsa registrando uma alta de aproximadamente 8% só no mês de dezembro, é fácil esquecer que em agosto flertamos com uma situação assustadora, disse Marink Martins (Imagem: Unsplash/@binkabonka)

Confesso que não fiquei chateado com o questionamento de alguns leitores que, em pleno rally de fim de ano na B3, pararam para me questionar a respeito do, tão falado por aqui, “bear market” que nunca ocorreu.

O leitor está certo em promover tal questionamento pois durante o ano de 2019 fui ficando mais conservador na medida que nos aproximávamos do fim deste ano.

Com a bolsa registrando uma alta de aproximadamente 8% só no mês de dezembro é fácil esquecer que em agosto flertamos com uma situação assustadora em que as curvas de juros se inverteram e só se falava em busca de proteção através do ouro e da moeda japonesa.

A postura de Jerome Powell e seus colegas do Federal Reserve merece destaque no ano. Eles certamente foram os responsáveis pelo rally de início e de final de ano. Entendo que em meio a tanta alta seja difícil também se lembrar do tombo ocorrido no mercado americano no natal passado.

Federal Reserve EUA
“Os resultados registrados em 2019 foram bons, mas, certamente, seriam bem melhores caso eu tivesse concebido a ideia de que o FED não iria deixar que o índice S&P 500 caísse de forma alguma”, afirmou o colunista (Imagem: Reuters/Kevin Lamarque)

Eu, seguindo os passos dos estrategistas que sigo diariamente, consegui me animar no início do ano, mas sucumbi ao conservadorismo em meio a mais uma onda de expansão monetária lançada pelos bancos centrais dos países desenvolvidos.

Na verdade, embarquei no mesmo conservadorismo que me protegeu no ano passado e que me colocou em boa posição de tirar proveito do rally visto no início deste ano.

Compartilho abaixo dois gráficos ilustrando a performance das duas séries que gerencio através da Inversa Publicações para que o leitor possa entender a minha forma de agir e de pensar:

Grupo do 1% – Uma série focada em ETFs internacionais

Clube – Uma série focada em estratégia de “dynamic hedging” utilizando como ativo base ações da Petrobras PN

Os resultados registrados em 2019 foram bons, mas, certamente, seriam bem melhores caso eu tivesse concebido a ideia de que o FED não iria deixar que o índice S&P 500 caísse de forma alguma!!!

Sim! O FED roubou uma capítulo do livro do ECB – aquele em que Mario Draghi teria dito: “We will do whatever it takes” (faremos o que for necessário). E aí? O que fazer diante desta nova realidade?

Apostar que o FED está errado e que irá promover uma mudança de rumo similar a efetuada no início de 2019 me parece tolice neste momento.

Acredito que a única coisa que fará com que o FED pise no freio será sinais inflacionários que poderão surgir em algum momento no futuro.

A casa de pesquisa Gavekal – fonte de inspiração para muito do que é escrito por aqui – vem discutindo a respeito do que eles chamam de um iminente “reflation trade”; um em que espera-se por uma maior inclinação na curva de juros, maior demanda por ações de bancos, maior demanda por ativos emergentes, e, principalmente, um enfraquecimento do dólar.

Pode-se dizer que este movimento já está em curso e um dos países que mais se beneficiou até o momento foi o Brasil. Observe o gráfico abaixo:

Neste gráfico temos a performance dos últimos três meses de diversos ETFs globais em comparação com a performance do índice S&P 500.

O ETF brasileiro (EWZ) ficou a frente dos demais, registrando 12% de valorização no período. A bolsa subiu, mas a moeda brasileira também se recuperou!

Em seguida temos os registros das seguintes performances no período: EWY (Coréia do Sul) 11%, S&P 500 9%, EWW (México) 7%, INDA (Índia) 5%, EIDO (Indonésia) 5%, EZA (África do Sul) 4%, Turquia 1%.

Observem que, apesar de todo o otimismo ventilado pela mídia financeira local, a performance brasileira, embora superior, faz parte de um movimento global; faz parte do “reflation trade” discutido pela Gavekal.

Finalizo – talvez para decepção de alguns – mantendo o meu ceticismo quanto a este movimento de valorização. Está certo que o “momentum” é positivo e só deve ser revertido diante de algum sinal inflacionário.

Dito isso, estamos navegando em águas desconhecidas e confesso que não estou disposto a colocar as conquistas em jogo. As vezes é preciso saber ficar de fora a espera de “sangue nas ruas”. Em uma boa gestão evitar perdas excessivas é mais importante do que a busca por ganhos.

Agradeço a você que acompanha o meu trabalho. Te desejo um excelente 2020!!!

Opções e Mercados Globais
Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principias estratégias de investimento em Wall Street.
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Formado em Finanças pela University of North Florida, em Jacksonville, Marink Martins é um dos maiores especialistas do Brasil em operações não direcionais, com especial foco em Opções e em volatilidade. Em seus mais de 20 anos no mercado financeiro, experimentou as euforias da Bolsa de Valores e sobreviveu às suas piores crises, tendo contato com as principias estratégias de investimento em Wall Street.
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