Opinião

Marink Martins: Assassinado por uma premissa incoerente

16 jan 2019, 9:30 - atualizado em 16 jan 2019, 9:30

Por Marink Martins, do blog MyVol e autor da newsletter Global Pass

Escrevo este comentário ao ler sobre a constatação de uma perda de $80 milhões de dólares registrada pelo chefe da mesa de derivativos do banco BNP Paribas, Antoine Lours, no período pré-natal que culminou naquele pregão do dia 24/12 quando o índice S&P 500, por um momento, caiu “que nem balão apagado”.

A reportagem publicada no “Zero Hedge” é um tanto sensacionalista – busca comparar o erro de Lours com aquele provocado, pelo também francês Jerome Kerviel em 2008, e que arrasou com o banco Société Générale.

O mais curioso é que o trader montou sua posição em derivativos atrelados ao índice S&P 500 e saiu de férias! É isso mesmo!!!

Aqui, aproveito para conjecturar. Imagino eu que Lours assumiu que, por estarmos entrando no período natalino, os mercados entrariam em uma fase de baixa liquidez e baixa volatilidade. Mas, como diria a minha filha: #SQN!!!

Por isso afirmo que uma causa mortis comum para traders é assumir algo como uma verdade!

Não faltam exemplos no mercado de situações em que agentes de mercado assumem algo como verdadeiro, simplesmente por força do hábito.

Entre as premissas mais perigosas está aquela na qual assumimos que os mercados se manterão líquidos. Aqui, vale lembrar que o termo liquidez pode ser entendido como velocidade e custo associados ao processo de conversão de um determinado ativo em dinheiro.

Se você atua no mercado imobiliário sabe como ninguém do que estou falando.

Agora se você está acostumado com ativos listados em bolsa de valores é comum assumir que, independente do preço, haverá sempre um comprador e um vendedor, e que o spread entre as partes será sempre razoável. Novamente, isso é o que ocorre de praxe.

Entretanto, já vi mercados em que há uma correria tamanha em que, ou o comprador ou o vendedor, simplesmente some. É uma situação apavorante, mas isso ocorre.

Um dos maiores “corners” de todos os tempos ocorreu em outubro/novembro de 2008 na Alemanha quando a Porsche tentou fazer um “take-over” da Volkswaggen. As ações da VW dispararam de 200 euros para 1.000 euros em alguns dias, para logo voltar ao preço original.

E voltando a França, lembro-me bem do mês de janeiro de 2008, justamente durante a semana do feriado de Martin Luther King, quando o índice S&P 500 caiu de forma significativa e ninguém entendia nada. Alguns dias se passaram e a história de Jerome Kerviel veio à tona.

A verdade é que somos muito mais frágeis do que pensamos ser. A nossa vida pode mudar a qualquer momento e, embora exerçamos algum controle, devemos estar cientes da aleatoriedade inerente à vida.

Sendo assim, vamos utilizar nossa “zona de influência” para nos mantermos saudáveis; não só nos mercados (evitar a alavancagem e o giro excessivo), mas em todos os aspectos da vida.

E quanto ao resto – aquilo que foge completamente do controle (exemplos: divisão celular, comportamento dos outros motoristas, comportamento dos outros traders, solvência das instituições financeiras, desejos do robozinho do UBS, rsrs)… que a aleatoriedade seja bondosa conosco!

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