Opinião

Marink Martins: A sensação de hoje é que caminhamos para o olho do furacão

25 mar 2019, 18:47 - atualizado em 25 mar 2019, 18:47

(Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Global Pass

Estávamos eu, Paulo Guedes e Philip Greenman em uma reunião na sede da Bozano Investimentos em 2016. Na ocasião, o atual ministro ainda era o executivo representante do famoso grupo financeiro. O nosso objetivo ali era convencê-lo a participar de uma série de palestras que eu organizava com personalidades do mundo das finanças através de uma parceria entre a Corretora MyCAP e a Casa do Saber Rio.

O que era para ser um bate-papo rápido acabou se tornando uma fascinante aula de duas horas. Paulo, ao mesmo tempo que expressava sua visão a respeito das transformações do país, oscilava rapidamente entre passado e futuro nos contando sobre os erros e acertos vividos durante os últimos 15 anos do último milênio. Foi simplesmente sensacional. Conseguimos convencê-lo e realizamos no primeiro semestre de 2016 tal apresentação cujo título foi CENÁRIO ECONÔMICO PARA 2016 E…ALÉM.

Para efeito da mensagem que busco transmitir aqui vale ressaltar que naquele primeiro semestre de 2016 ainda vivíamos um período de enorme incerteza. A bolsa estava próxima à mínima.

Paulo Guedes, por sua vez, se mostrava extremamente otimista com as mudanças vividas pelo país; em particular, com a operação lava-jato. O que nos parecia assustador era para ele algo sintomático de uma transformação mais do que necessária para que o país avançasse.

De forma análoga, imagino que se eu tivesse o privilégio de uma segunda reunião nos dias de hoje, o ministro provavelmente também se mostraria otimista. Desta vez, entretanto, com os prognósticos de uma nova forma de fazer política em Brasília; com o fim destas políticas de coalizão e cooptação que tanto nos envergonham como cidadãos deste país.

A sensação de hoje é que caminhamos para o olho do furacão; o que para os mercados pode ser indicativo, não só de uma maior volatilidade, mas também de uma reprecificação dos ativos; estejam eles associados a juros ou à ações.

Podem cair mais? Sem dúvida. Eu diria até que devem cair mais!

Observe que o brasileiro é um ser facilmente manipulável. Se empolga com a seleção brasileira nos meses que antecedem à copa do mundo e quando ver, já está assobiando aquela musiquinha dos comerciais da Globo pelas ruas. Da mesma forma, quando o assunto é bolsa de valores, basta alguns meses consecutivos de alta para que ele comece a ignorar todos os riscos ao seu redor, e falar em bolsa a 200 mil, 400 mil, etc.

Assim, caso você esteja sofrendo bastante com a queda registrada na última sexta-feira, sinto te informar que o melhor neste momento é voltar-se a si e desenvolver um senso de auto-crítica com relação a postura adotada.

Hoje não penso em STOP da forma tradicional; aquela onde estabelecemos um preço onde, a partir daquele ponto, nos desfazemos de todas as posições em aberto.

Busco driblar este usual mecanismo a priori, evitando a alavancagem, e mantendo um tamanho de posição considerado carregável. Assim, não trabalho com STOPs. Não entenda isso como uma postura passiva. Sou trader e conduzo uma operação de hedging dinâmico; o que quer dizer que nunca estou parado!

Nos mercados internacionais, o receio da inversão da curva de juros norte-americana não deve te assustar tanto assim. Observe que enquanto toda recessão foi precedida por uma inversão da curva de juros, nem toda inversão da curva de juros provocou uma recessão.

Existem casos famosos de “falsos positivos”, como aquele vivido em 1998, quando o mundo sofria com as crises asiática e russa e a derrocada do fundo LTCM.

Dito tudo isso, concluo este texto com a mensagem de que sua preocupação neste momento, e SEMPRE, deve estar mais associada ao tamanho da posição do que sua composição em si. Errar é inevitável! O importante é que o erro não seja grande o suficiente para quebrar as suas pernas!

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