Opinião

Marink Martins: A oportunidade de 2019 no mundo dos investimentos

21 fev 2019, 6:06 - atualizado em 21 fev 2019, 0:58

Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Global Pass

Os mais otimistas dirão que só está no começo. Já aqueles mais obcecados pelo fenômeno de reversão à média, como eu, observa tudo de forma um pouco desconfiada. Falo aqui de uma expectativa de que investidores globais irão promover um enorme movimento de rotação, reduzindo sua exposição em ativos norte-americanos considerados caros em favor de ativos em mercados emergentes que nos últimos anos ficaram para trás em termos relativos.

Anatole Kaletsky, um dos fundadores da casa de pesquisa Gavekal, se mantém otimista há mais de três anos. E aqui devo confessar que em minhas análises sempre optei por enaltecer a visão mais cautelosa de outros estrategistas da Casa como Louis-Vincent Gave e Charles Gave.

Anatole é o tipo de estrategista que parece conseguir superar facilmente o viés da ancoragem. E, apesar da chacoalhada vivida pelos mercados no último trimestre de 2018, seu otimismo se provou inabalável.

Para 2019, o estrategista nascido em Moscou, avalia que é hora de o investidor global direcionar seus recursos para ativos denominados em moedas asiáticas e outros ativos emergentes, evitando ativos europeus e o euro.

No gráfico acima observamos a nítida “outperformance” das ações americanas (linha azul escura) em comparação ao desempenhos dos mercados emergentes (linha verde), mercados emergentes – Brazil (linha azul clara) e mercados emergentes – México (linha laranja).

A combinação de um baixíssimo nível de desemprego nos EUA, um FED mais acomodativo e um orçamento fiscal ainda em expansão, fazem com que a probabilidade de uma recessão norte-americana em 2019 seja praticamente nula de acordo com o estrategista.

Em sua opinião, a principal incógnita para 2019 é as eleições para o parlamento europeu em maio. Uma deterioração na confiança dos investidores no que diz respeito ao velho continente poderá fazer com que a moeda americana se aprecie, reduzindo assim o ímpeto de retomada dos emergentes.

Agora, trazendo de volta aqui o meu usual ceticismo, é importante que o investidor local saiba que boa parte desta narrativa talvez já esteja refletida nos preços de alguns ativos.

Observem o preço das ações do Itaú negociando a um múltiplo de 2,6x o seu valor patrimonial tangível. E o que dizer do preço das ações da Magazine Luiza que negociam com um P/L (últimos 12m) de 53x e uma relação de VF/EBITDA de 28x? Tudo isso ocorrendo em uma economia que, no cenário mais otimista, não crescerá seu PIB mais do que 2,5% em 2019!

Por favor não entendam o título deste meu texto como uma chamada buscando ludibriar o investidor. Há muita gente otimista nos mercados e eu, desta vez, não acho que há razões para se meter na frente de um “caminhão” que exibe bastante “momentum” altista.

Contudo, me sinto aqui na obrigação de alertar ao investidor a respeito de alguns riscos. Neste sentido, chamo sempre atenção ao ocorrido no primeiro semestre de 1997, quando o Brasil representava a grande promessa global e foi consumido pelo que ficou conhecido como a crise asiática.

Sendo o mais objetivo possível, acredito que arrancadas expressivas como aquela vista em 2016, quando o IBOV fez fundo e saiu de 37.500 para 50.000 pontos rapidamente, só ocorrem quando há um elevado grau de pessimismo nos mercados, ou em momentos que representam a última pernada – aqui refiro-me a famosa tese de “melt-up” do estrategista Steve Sjuggerud.

Fora isso, o que temos é um mercado que pode e, deve até subir, porém, de forma “brigada”, com oscilações bruscas que muitas vezes se provarão assustadoras.

Por isso, eu desejo a você que acompanha o meu trabalho que foque no dia, na semana. Quanto ao cenário de longo prazo, que vivamos uma semana de cada vez!