Marink Martins: 25% dos ativos americanos estão com estrangeiros
No fim de cada trimestre, o “Bureau of Economic Analysis” (BEA) divulga, com um trimestre de atraso, diversos dados econômicos. Dentre eles, considero importantíssimo analisarmos o que é conhecido como “NIIP” ou “Net International Investment Position”. Através deste indicador podemos medir “a dependência” dos ativos americanos ao “apetite” dos investidores internacionais.
Neste sentido, a tabela abaixo representa um ótimo resumo destas transações. Observe que os investimentos feitos por americanos em outros países são considerados ativos (“US Assets”).
Já os investimentos feitos por investidores estrangeiros nos EUA, são considerados passivos (“US Liabilities”). Assim, observe que, no último ano, o passivo americano (dinheiro dos investidores estrangeiros nos EUA) cresceu em 6,044 trilhões de dólares. Destes, 1,5 foi dinheiro novo e 3,759 foi variação cambial mais apreciação.
No total, os estrangeiros mantêm 46,2 trilhões de dólares investidos nos EUA contra 32,1 trilhões de dólares dos americanos em outros países. A diferença destes valores representa o NIIP que, no fim de 2020, fechou o ano em -14,092 trilhões de dólares (contra os americanos). Abaixo, segue o gráfico de longo prazo do NIIP:
A importância em estudar estes números está no fato de que os estrangeiros detém hoje uma parte significativa do mercado americano.
Para efeito de comparação, considere que o patrimônio líquido consolidado dos americanos é de 130 trilhões de dólares (dados de 31/12/2020). Se considerarmos que existem aproximadamente 128 milhões de famílias nos EUA, estamos falando de um patrimônio que, neste momento de bolsas nas máximas, chega a um pouco mais de 1 milhão de dólares por família. A mediana desta distribuição é naturalmente bem mais baixa quando levamos em conta a deterioração na distribuição de renda.
De qualquer forma, temos uma situação em que se somarmos ações, renda fixa, “private equity”, imóveis, derivativos, e outros, temos um valor entre 175 e 200 trilhões de dólares em ativos nos EUA, sendo que aproximadamente 25% pertence a investidores estrangeiros. Esse percentual nunca foi tão alto na história! Veja abaixo como este passivo é distribuído por categorias:
Bem, você que acompanha o meu trabalho por aqui, sabe que venho argumentando que é chegada a hora da convergência! É hora de reduzir a exposição nos EUA e aumentar em ativos listados no resto do mundo. Essa ideia não é minha, mas sim da casa de pesquisa Gavekal, fonte de inspiração do trabalho que realizo por aqui.
As razões para este trade de convergência são inúmeras. Algumas podem ser achadas no livro Clash of Empires, de Louis-Vincent Gave, que eu traduzi e disponibilizo gratuitamente a todos os interessados. Contudo, sendo mais específico, destaco as seguintes razões para se fazer o trade da convergência:
- Tendências cíclicas de desvalorização do dólar (principal razão)
- Perspectiva de crescimento da lucratividade das empresas estrangeiras é melhor do que das americanas.
- Perspectiva de alta no preço das commodities, favorecendo empresas de países exportadores de commodities.
- Valuation das empresas estrangeiras está mais interessante do que das americanas.
- Há um movimento de desglobalização em curso. Neste processo a correlação entre ativos americanos e estrangeiros tende a diminuir, o que faz com que o atributo “diversificação” seja ainda mais valorizado.
Para finalizar, segue o gráfico histórico ilustrando os passivos e ativos dos americanos. Observe como a pandemia acentuou a divergência: