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Marfrig mira pauta ambiental e adere a grupo com metas de redução de emissões

22 set 2020, 18:47 - atualizado em 22 set 2020, 21:54
Paulinia
Até o fim do ano vamos lançar a carne baixo carbono, que é de integração lavoura-pecuária”, adiantou Pires (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)

A Marfrig (MRFG3) Global Foods, maior produtora de hambúrgueres do mundo, acaba de ingressar na lista da Science Based Targets, iniciativa internacional que mobiliza empresas a se comprometerem com metas de redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), antecipou à Reuters um executivo da empresa.

Trata-se do primeiro frigorífico brasileiro a figurar na listagem que conta com pouco mais de 990 empresas engajadas no mundo.

No setor, a única companhia que consta é a norte-americana Tyson Foods.

O engajamento da companhia, a segunda maior produtora global de carne bovina, atrás da rival JBS (JBSS3), ocorre no momento em que a imagem do Brasil segue o caminho contrário, amplamente arranhada pelo avanço dos desmatamentos na Amazônia e queimadas no Pantanal, que colocam em risco acordos bilaterais e investimentos externos.

Para o diretor de Sustentabilidade da Marfrig, Paulo Pires, a Science Based Targets é, atualmente, a iniciativa global mais ambiciosa em termos de ações para redução de emissões de gases, por meio de metodologias cientificamente comprovadas.

“A Marfrig tem trabalhado ativamente na pauta sustentável desde 2009… Mostramos que independentemente do que acontece no Brasil, a empresa faz o que tem que ser feito”, afirmou Pires, em entrevista à Reuters.

Pelas métricas do Science Based Targets, as emissões de GEE são divididas em três escopos: diretas, provenientes do processo produtivo (escopo 1); do consumo de energia elétrica (escopo 2) e emissões indiretas de fornecedores (escopo 3).

A partir do compromisso com a iniciativa, a Marfrig espera atingir uma redução de 43% das emissões nos escopos 1 e 2 até 2035, tomando como ano base o que foi emitido em 2019.

Quanto ao terceiro escopo, a meta é reduzir 35% até 2035, disse Pires.

“Quando falamos de escopo 3, cerca de 95% das emissões estão vinculadas à compra de bovinos, sistema de produção de gado e etc”, explicou o executivo.

Desta forma, a empresa tem buscado parcerias com a ponta produtiva, para incentivar pecuaristas ao uso de melhoria genética, aumento de produtividade, redução no tempo do abate que diminui as emissões de gás metano do boi, integrações entre lavoura, pecuária e floresta, dentre outras ações.

Em julho, a empresa lançou o Plano Marfrig Verde+, cujo objetivo é garantir que 100% da cadeia de produção seja sustentável e livre de desmatamento nos próximos dez anos, com investimentos previstos em 500 milhões de reais.

Além disso, em agosto, a companhia lançou a primeira linha de carne carbono neutro do Brasil a Viva proveniente de animais inseridos em um sistema de produção pecuária-floresta, que neutraliza as emissões de metano, com base em um protocolo desenvolvido pela Embrapa.

“Até o fim do ano vamos lançar a carne baixo carbono, que é de integração lavoura-pecuária”, adiantou Pires.

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Pires destacou Estados Unidos, países da União Europeia e a própria China, líder na importação de carne bovina do Brasil (Imagem: Pixabay)

Efeito Mercadológico

Pires avaliou que, ao lado das questões de imagem corporativa, dois aspectos importantes que estão cada vez mais atrelados a iniciativas sustentáveis são o acesso a mercados e a investidores.

“Posso dizer que o mercado brasileiro caminha para um nível de exigência maior, mas somos uma empresa exportadora também, e lá fora vemos cada vez mais os compradores exigentes”, disse.

Dentre estes players, Pires destacou Estados Unidos, países da União Europeia e a própria China, líder na importação de carne bovina do Brasil que chegou a suspender embarques de companhias do setor por temores de contaminação durante a pandemia da Covid-19.

“Em certa medida, em um curto espaço de tempo, as empresas que não derem respostas a isso (iniciativas sustentáveis) vão ter mais dificuldade em colocar seus produtos em certos mercados”, alertou.

Do ponto de vista de investimentos, ele afirmou que as companhias de capital aberto, como é o caso da Marfrig, estão se deparando cada vez mais com investidores que exigem que as ações da empresa estejam claramente colocadas.

Neste sentido, a expectativa é que integrar iniciativas como a Science Based Targets também pode trazer retornos comerciais relevantes.

No balanço financeiro mais recente, a Marfrig teve lucro líquido de 1,59 bilhão de reais referente ao segundo trimestre, um salto ante os 87 milhões obtidos em igual período de 2019, atribuído pela companhia à melhora no desempenho operacional, demanda externa e ciclo do gado nos EUA.