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Marcos Maciel: Como utilizar dados para construir cadeias de suprimentos mais resilientes

26 jul 2021, 16:42 - atualizado em 26 jul 2021, 16:43
Galpão-Logística
Então, a hora é de arregaçar as mangas e correr atrás de garantir uma base sólida para tornar nossas cadeias de suprimentos mais resistentes

Os últimos 15 meses foram bastante tumultuados para os profissionais de compras e seus fornecedores em todo o mundo. Raras foram as empresas que não tiveram nenhuma interrupção de atividades.

A digitalização foi apressada e houve a necessidade de se aperfeiçoar o gerenciamento de risco financeiro para conseguir atravessar a tempestade.

Mesmo com a vacinação avançando nos países ricos, a Covid-19 ainda representa uma ameaça significativa que impõe uma grande missão: como tornar as cadeias de suprimento mais resilientes? Foi esse o foco do relatório feito pela Dun & Bradstreet junto a empresas nos EUA e Inglaterra.

A crise fez as organizações olharem para os fornecedores com três prioridades de curto prazo: monitorar a performance, maior uso de tecnologias (como inteligência artificial – IA e automação de processos com uso de robótica – RPA), e aumento da eficiência operacional.

Dá para afirmar que tais prioridades são complementares. Afinal, monitorar melhor a cadeia de fornecedores requer uso de tecnologia. Ao mesmo tempo, acelerar os processos de transformação digital tem a função de conferir maior eficiência às operações como um todo.

Interessante observar que no longo prazo existe uma grande preocupação dos profissionais de compras e suprimentos em construir uma rede de fornecedores mais resiliente e melhorar a qualidade dos dados. Ou seja, gerenciamento de riscos e acesso a informações sobre os fornecedores. Estes itens estão praticamente empatados com a preocupação com melhorar o gerenciamento das despesas.

Algumas das principais barreiras para a eficiência operacional dizem respeito a informações sem consistência entregues pelos fornecedores, alto turnover de funcionários e as dificuldades de lidar com muitas regiões e unidades de negócio.

No entanto, os maiores desafios encontrados pelos profissionais dessa área são ditados pela qualidade dos dados. O mais citado deles foi manter perfis de fornecedores completos e atualizados em todo o sistema, seguido do compartilhamento de informações para tomada de decisão e a pouca habilidade em obter insights valiosos a partir dos dados já armazenados na organização.

O remédio é tecnologia

Para esses sintomas, a prescrição é a tradicional: mais tecnologia. De cada dez, quatro empresas já possuem alguma solução para gerenciamento de risco, seja monitoramento online, automação ou softwares de workflow.

Gerenciar os dados referentes aos fornecedores tem sido uma tarefa cada vez mais complexa dentro das empresas.

A equipe de compras geralmente precisa lidar com informações em vários sistemas que não conversam entre si, o que obriga a atualização manual, que pode afetar a qualidade dos relatórios.

Controlar a consistência dessas informações requer práticas de governança sofisticadas, assim como a tecnologia apropriada para múltiplas regiões e sistemas, quando necessário.

A boa notícia está na constatação de que 98% das empresas pesquisadas informaram ter algum grau de automação em sua cadeia de suprimentos, sendo que 86% possuem metade dos processos automatizados e 54% afirmam ter quase todos ou todos os processos digitalizados.

A informação com maior potencial de ser automatizada são os dados-chave dos fornecedores, seguidos pelo processo de contratação e o gerenciamento de risco. Como dá pra notar, são dados correlatos, pois as informações utilizadas para avaliar o risco geralmente fazem parte do processo de onboarding do fornecedor.

É um sinal positivo que todas as organizações ouvidas no levantamento realizam alguma forma de avaliação de risco.

Trata-se de uma prática benéfica para proteção do negócio de algum dano financeiro ou de reputação causado por falhas, atrasos ou más práticas de fornecedores. Apesar do avanço constatado nos EUA e na Inglaterra, observo que no Brasil ainda existe uma grande lacuna no uso efetivo de dados e processos otimizados para gerenciar esses riscos de forma eficiente.

Eventos como o bloqueio do Canal de Suez por um navio encalhado, fornecedores que realizam práticas não sustentáveis ou que atentem contra a dignidade humana criaram a necessidade de aumentar o nível de visibilidade da cadeia como um todo, tornando-a menos dependente de fornecedores específicos, aperfeiçoando a coleta de dados para entender como todos os elos se conectam. Mitigação de riscos financeiros e de compliance são hoje mandatórias.

Fica claro que os eventos de 2020 forçaram as empresas a encontrar novos caminhos de acordo com cada situação e conjuntura específicas.

Mas em todas há um ponto comum: tecnologia e dados vão ocupar um papel de destaque em quase todas as soluções – seja para gerenciamento de risco ou aumentar a qualidade dos dados para agilizar a contratação de um fornecedor.

Faz parte da natureza humana dar uma relaxada logo depois de uma crise. Após o estresse vem o alívio. Mas se fizermos qualquer compilação de artigos de analistas, especialistas em clima, economistas, veremos uma persistente indicação de que eventos como a pandemia podem se tornar mais frequentes e até mais severos se provocados por mudanças climáticas.

Então, a hora é de arregaçar as mangas e correr atrás de garantir uma base sólida para tornar nossas cadeias de suprimentos mais resistentes.

Não dá para garantir que um novo perigo, imprevisto ou ameaça não esteja logo ali na próxima cepa de coronavírus, num banco de areia ou num iceberg.

*Marcos Maciel é CEO da CIAL Dun & Bradstreet do Brasil