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Mantega na Vale (VALE3): O rolo-compressor de Lula para emplacar ex-ministro em cargo de R$ 60 milhões

25 jan 2024, 15:38 - atualizado em 25 jan 2024, 16:17
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Ideia fixa: Lula não desiste de colocar Mantega no comando da Vale (VALE3) (Imagem: Ag. Brasil/ Roosewelt Pinheiro)

Assumir o comando da Vale (VALE3) tornou-se uma obsessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias, segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. A pressão para ver Guido Mantega, seu ex-ministro da Fazenda, na cadeira de CEO da companhia tornou-se explícita ontem (24) e continua hoje.

De acordo com O Globo, o conselho de administração da Vale deve se reunir até a próxima semana para definir o futuro de seu atual CEO, Eduardo Bartolomeo, que comanda a mineradora desde 2019 e cujo mandato vence em maio.

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Apesar da torcida da maioria dos investidores, que preferem ver Bartolomeo reconduzido ao cargo, o jornal afirma que a decisão está em aberto: os conselheiros podem tanto reelegê-lo para mais um mandato, como decidir pela sua substituição.

Há tempos, Lula cobiça o comando da empresa, privatizada nos anos 90 por Fernando Henrique Cardoso e que, desde então, se tornou uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo e um dos principais papéis do Ibovespa, o índice de referência da Bolsa brasileira.

Agora, diante da janela de oportunidade aberta pela reunião do conselho, Lula colocou a tropa em marcha para conquistar a Vale. Veja, a seguir, as ações concretas do presidente e de seus ministros para colocar Mantega na cadeira de CEO da companhia.

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Mantega na Vale (VALE3): Alexandre Silveira liga para acionistas

O Globo informa que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, dedicou-se, ontem (24), a telefonar para os maiores acionistas da companhia com um recado claro do chefe: “Lula não abre mão de ver Mantega na presidência da empresa”, escreve Lauro Jardim.

Ainda segundo o colunista, o ministro foi direto ao ponto: o presidente não quer que Mantega ocupe uma das 13 vagas do conselho de administração, “mas, sim, o principal cargo executivo, cuja remuneração anual, aliás, é de cerca de R$ 60 milhões.”

Lula critica Vale pelos 5 anos de Brumadinho (MG)

O presidente entrou de vez no jogo. Em uma postagem no X (ex-Twitter), Lula criticou a mineradora pela tragédia de Brumadinho (MG), que completa cinco anos nesta quinta-feira (25). Tratando o rompimento da barragem como “crime”, o presidente emendou: 5 anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada.”

Gleisi Hoffmann defende Mantega na Vale

Também hoje, Gleisi Hoffmann, presidente do PT, usou o X para defender publicamente a eleição do ex-ministro da Fazenda para comandar a empresa. “Pouquíssimos brasileiros são tão qualificados quanto Guido Mantega para compor o Conselho da Vale, uma empresa estratégica para o país e na qual o governo tem participação e responsabilidades, mesmo depois de sua privatização danosa ao patrimônio público.”

A correligionária de Lula acrescentou que Mantega “é qualificado para esta ou qualquer outra missão importante, que exija capacidade e compromisso com o país.”

Vale de 2024 está mais blindada contra pressão política

Apesar do bombardeio de Lula e seus companheiros, a Vale está muito mais blindada contra ingerências políticas, do que durante os dois primeiros mandatos do petista. Desde então, diversas medidas foram implementadas para evitar que a mineradora se transforme num cabide de empregos de apadrinhados políticos de A ou B.

Os escudos de proteção abrangem desde um processo independente de seleção dos candidatos a cargos executivos, como o CEO e seus diretores, liderada por uma consultoria internacional de headhunters, até o encaminhamento de uma lista tríplice para o conselho, com os finalistas do processo.

Mas o principal trunfo dos acionistas para evitar que Lula reestatize informalmente a mineradora é a diluição de capital. Há alguns anos, a Vale se tornou uma corporation, nos moldes americanos, isto é, uma empresa com capital pulverizado na Bolsa.



Em 30 de setembro do ano passado (dados mais recentes), apenas três empresas detinham mais de 5% do capital da companhia: a Previ (8,71%), a Mitsui&Co. (6,31%), e a BlackRock (6%), totalizando 21% do capital. Das ações restantes, 74% estavam pulverizadas na Bolsa e 5% estavam na tesouraria.

Ao diluir o poder de decisão, essa estrutura societária atenua bastante a pressão de Lula. É verdade que o governo federal detém 12 golden shares (ações de classe especial), que lhe dão poder de veto em matérias estratégicas, mas nenhuma das situações envolve a permissão de nomear ou barrar alguém para dirigir os negócios.