Internacional

Manifestantes de Mianmar pintam Yangon de vermelho e pedem boicote a festival

06 abr 2021, 10:44 - atualizado em 06 abr 2021, 10:44
Manifestantes acordaram cedo em Yangon, a maior cidade de Mianmar, para pichar e pintar calçadas, ruas e abrigos de ônibus com tinta vermelha para protestar contra a repressão abrangente das forças de segurança (Imagem: REUTERS)

Manifestantes pró-democracia de Mianmar espalharam tinta vermelha pelas ruas de Yangon nesta terça-feira para lembrar a junta militar que governa o país que ela tem sangue nas mãos, e a crise provocada por um golpe militar na nação do sudeste asiático se arrasta sem fim à vista.

Vários grupos pediram um boicote ao Festival da Água de Thingyan da semana que vem, que assinala o Ano Novo budista.

Panfletos pedindo a interdição que foram distribuídos em Yangon disseram que seria um sinal de compaixão pelas famílias das vítimas fatais.

Cerca de 570 pessoas foram mortas ao longo de dois meses de tumultos desde o golpe de 1º de fevereiro, e as forças de segurança prenderam quase 3.500 pessoas – cerca de quatro quintos delas continuam detidas, disse a Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos (AAPP) nesta terça-feira.

Manifestantes acordaram cedo em Yangon, a maior cidade de Mianmar, para pichar e pintar calçadas, ruas e abrigos de ônibus com tinta vermelha para protestar contra a repressão abrangente das forças de segurança, que causa revolta internacional há semanas.

“O sangue não secou”, disse uma mensagem em vermelho.

Outra pintada em um abrigos de ônibus implorou aos soldados rasos que não sejam explorados por generais cleptocráticos que se agarram ao poder.

“Não matem pessoas só por um salário pequeno que só paga ração de cachorro”, dizia a mensagem, que ainda acusou o líder da junta, o general Min Aung Hlaing, de roubar do povo.

A revolta se espalhou por Mianmar nos últimos dois meses por causa da volta de um governo militar e do fim abrupto de uma era breve de reformas democráticas e econômicas e de integração internacional que estiveram ausentes durante o comando opressivo dos militares entre 1962 e 2011.

Alguns manifestantes batizam de “revolução da primavera” o movimento caracterizado por marchas nas ruas, atos de rebelião não-violenta inusitados e campanhas de desobediência civil cuja meta é afetar o aparato governamental.

Outro protesto agendado para a quarta-feira pede a queima de produtos chineses. Muitos manifestantes se opõem à China devido à percepção de que o país apoia a junta.

“O estado das pessoas agora é tal que, não importa quem convocou qual tipo de protesto, as pessoas estão sempre dispostas a seguir”, disse Khin Sandar, ativista e organizador de protestos, à Reuters por telefone.

Mas a capacidade de organizar protestos pode ter sido prejudicada nos últimos dias pela restrição dos militares à internet de banda larga sem fio, o que agrava um bloqueio de semanas aos serviços de dados móveis, que vinham sendo o principal canal de disseminação de informações sobre o que está acontecendo no país durante a repressão.