Saúde

Mandetta rebate Bolsonaro e diz que protocolo anterior da Covid era melhor do que receitar cloroquina

12 ago 2020, 15:13 - atualizado em 12 ago 2020, 15:13
Luiz Henrique Mandetta
Desde que deixou o ministério, Mandetta tem sido cogitado como possível candidato à Presidência em 2022 (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Acusado pelo presidente Jair Bolsonaro de ter sido uma “desgraça” à frente do Ministério da Saúde, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta defendeu sua gestão e disse não considerar Bolsonaro e os militares que estão à frente da pasta aptos a discutir a questão, acrescentando que prefere que as pessoas com casos leves de Covid-19 fiquem em casa do que procurem atendimento médico para serem tratadas com cloroquina.

Sob o comando de Mandetta, que ocupou o cargo no início da pandemia e foi demitido em abril por divergências com Bolsonaro, o Ministério da Saúde recomendava que os pacientes com suspeita de Covid-19 ou mesmo com a doença confirmada que não tivessem sintomas graves fossem tratados em casa, de forma a evitar um risco maior de contágio e a superlotação das unidades de saúde. Segundo o ministro, esse protocolo era recomendado pelos principais pesquisadores do país e do mundo.

A atual equipe do ministério, no entanto, comandada de forma interina pelo general Eduardo Pazuello, mudou a recomendação e passou a orientar todas as pessoas com suspeita de Covid-19 a procurarem atendimento médico imediatamente, afirmando que a recomendação anterior foi responsável por muitas mortes de pessoas que procuravam atendimento já em estado grave.

Paralelamente com a orientação para que se busque atendimento precoce, o ministério passou a recomendar o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para tratar a Covid-19, apesar da falta de eficácia comprovada, atendendo a um pedido do próprio Bolsonaro — um defensor dos medicamentos e que disse ter ficado curado da doença fazendo uso da hidroxicloroquina.

“Eles pedem às pessoas para irem à unidade de saúde para receber a cloroquina”, disse Mandetta em entrevista à Reuters. “Prefiro aquele caminho do que esse caminho de mandar as pessoas saírem de casa, procurar uma unidade de saúde e tentar vender para elas uma medicação que não tem eficácia.”

Segundo o ex-ministro, cuja passagem pela pasta foi chamada de “desgraça” por Bolsonaro em uma recente transmissão nas redes sociais, as políticas do ministério eram tomadas com base em orientações de um conselho científico formado por pesquisadores nacionais e internacionais enquanto esteve no comando, o que teria sido desmontado desde que o presidente decidiu colocar um general como ministro interino.

“Eles pedem às pessoas para irem à unidade de saúde para receber a cloroquina”, disse Mandetta (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

“Eu não levo essa assunto muito profundamente porque as orientações que dávamos eram amparadas por um conselho muito grande do Ministério da Saúde… e eles saíram, não são mais ouvidos.

Não sei quem formula a política do Ministério da Saúde, não me parece que militares tenham formação técnica para formular”, afirmou.

“Como eu não sei nada de militarismo, eu não critico como o cara dobra o paraquedas dele. Eles devem saber muito sobre paraquedas, bombas, fuzis, seria muito equivocado da minha parte como médico criticar como ele atira numa pessoa, assim como não vejo capacidade técnica para desenvolver um debate em torno de uma crítica em saúde, não a mim, mas ao Ministério da Saúde e a todas as academias brasileiras.”

Desde que deixou o ministério, Mandetta tem sido cogitado como possível candidato à Presidência em 2022, e não nega a possibilidade de concorrer, apesar de afirmar que, em meio à pandemia, não é momento de se discutir as eleições.

Segundo o ex-ministro, as críticas de Bolsonaro são mais uma tentativa do presidente de encontrar um novo culpado para empurrar a responsabilidade por seus próprios erros durante a pandemia, depois de ter tentado colocar a culpa, inicialmente, na China e depois na Organização Mundial da Saúde (OMS).

O Brasil é o segundo país do mundo mais afetado pela pandemia, atrás apenas dos Estados Unidos, com mais de 3 milhões de casos confirmados e 103.025 mortes até terça-feira.

“Agora é o ex-ministro, porque ele precisa, chegou um número muito grave, 100 mil óbitos por esse caminho que o governo resolveu caminhar, e a sociedade parou para refletir, fez um olhar para trás de como chegamos até aqui, e ele de uma maneira pensando como proteger a si, não a me atacar, ele cria esse enredo fantasioso basicamente de uso político para si”, afirmou.

“Não que ele me veja como candidato, nem eu sei se serei, mas basicamente para se defender daquilo que é público e notório: a maneira como ele enfrentou essa doença.”