Mais do que encostar na Argentina, trigo BR está pronto para superar desafios; com a palavra, as farinheiras
A confirmar as 4,9 milhões de toneladas de trigo produzidas no Rio Grande do Sul e as 3,5 milhões/t do Paraná, mais os quebradinhos vindos de Santa Catarina, São Paulo e do Cerrado, o Brasil se aproxima da produção da Argentina em 2022.
Poderia até empatar, não fosse a quebra paranaense, que perdeu a liderança na safra atual brasileira para os gaúchos.
Digno de nota, porém, não é a comparação com os vizinhos, sempre participantes fortes na oferta mundial. A safra de lá perdeu de 7 a 8 milhões de toneladas, com o clima errático derrubando o volume para 11,5 milhões/t, em estimativa da Bolsa de Rosário.
O Brasil alcançar cerca de 9,5 milhões/t, sobre as 7,7 milhões/t de 21/22, em dados da Conab, é relevante. Especialmente quando se aponta para alguns gargalos que podem ser revertidos.
É verdade que o clima ajudou, em uma cultura ainda muito dependente da produção do Sul, onde o frio faz a diferença, e a crise de oferta que apontou com a guerra da Ucrânia, desde fevereiro, puxaram essas marcas.
Vai encurtar bem as necessidades de importações do País, que em anos passados, até não tão distantes, precisava trazer até cerca de 50% de fora para produzir a farinha branca. A faixa de compras estrangeiras deve girar em torno de 3 milhões/t agora.
Vai também levar o Brasil a exportar um pouco, o que pode tirar a folga de preços que o mercado interno poderia ter com a produção mais elevada.
O trampolim para o futuro é a marca que 2022 deixará.
As condições para a cultura ganhar mais peso, sair de vez do confinamento proporcionado pelo clima do Paraná para baixo, já estão dadas.
Tanto o trigo brasileiro desenvolvido pela Embrapa para as regiões tropicais do Centro-Oeste, quanto o trigo transgênico trazido ao Brasil por uma empresa argentina, se cruzam neste quadro.
O segundo cereal mais produzido no mundo (o primeiro é o milho) e o segundo alimento (o primeiro é leite e derivados) ainda tem muito a avançar com irrigação nas regiões mais quentes e, se quebrada a resistência das indústrias, o geneticamente modificado – já aprovado – deixará novas marcas na produção nacional.