Mais da metade das corretoras não cobra taxas para aplicar no Tesouro Direto
Por Arena do Pavini – A concorrência entre corretoras independentes e bancos beneficiou os investidores em títulos públicos por meio do Tesouro Direto, sistema de varejo do Tesouro Nacional. Das 59 corretoras credenciadas, conforme lista publicada no site do Tesouro Direto, 31 não cobram taxas, apenas a custódia, de 0,30% ao ano, que é de responsabilidade da bolsa B3. Para comprar e vender os títulos federais, é preciso ter conta em uma corretora de valores cadastrada no Tesouro Direto.
A lista de aplicações “na faixa” foi reforçada neste mês com a decisão do Itaú Unibanco, do Santander e do Banco do Brasil de isentar seus clientes. O Bradesco isentou as operações de sua corretora e da Ágora em junho. “É um movimento de maior concorrência entre as corretoras e que está provocando a isenção das tarifas também nos bancos”, afirma Rogério Manente, responsável pela Socopa Invest, que zerou as tarifas no início do ano.
Há alguns anos, o movimento foi o contrário, com corretoras como a Socopa e a Rico passando a cobrar pelas aplicações no Tesouro Direto. Agora, com grandes corretoras como a XP Investimentos, que comprou a Rico, dando isenção, as demais acabam acompanhando.
Das 10 principais corretoras, só a Caixa ainda cobra tarifa
No ranking das 10 corretoras líderes no Tesouro Direto em número de transações – Easynvest, Rico, XP, Modal, Itaú, BB Banco de Investimento, Clear, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Intermedium -, só a Caixa ainda cobra tarifas. Da lista, três são do mesmo grupo, XP, Rico e Clear.
Grandes bancos evitavam estimular o Tesouro Direto
Os grandes bancos demoraram mais para abrir mão das tarifas, pois sempre tiveram uma certa aversão ao Tesouro Direto. Para as grandes instituições, não era interessante incentivar a compra de títulos públicos, pois ela concorria com seus fundos de investimento, que cobram taxas de administração de até 5% ao ano, e com seus CDBs, que pagam pouco mais que a caderneta de poupança ou até menos para o varejo. Os bancos de varejo preferiam manter sua fonte barata de captação cativa e longe do Tesouro Direto, cobrando taxas pelo serviço em suas corretoras que superavam 2% ao ano. Agora, diante do risco de perderem os clientes para as corretoras independentes, isentaram as operações.
Atrair o investidor e ganhar com outras opções
No caso da Socopa e de outras corretoras, a isenção é compensada pela oferta de outros investimentos para o cliente, como papéis de bancos menores. “É fácil mostrar que vale mais aplicar em um CDB de banco pequeno, que paga mais que o CDI e tem a garantia do Fundo Garantidor de Crédito, do que no Tesouro LFT, que rende só a Selic e paga 0,30% de custódia”, diz Manente. Nesse caso, a corretora ganha uma parte da taxa paga pelo banco ao investidor, que mesmo assim ganha mais que o CDI. Além disso, as corretoras ganham uma parcela da taxa de custódia cobrada pela B3, calculada sobre o crescimento da base de clientes. Hoje, a Socopa Invest tem 20 mil clientes que trouxeram recursos de grandes bancos para a corretora.
Para o investidor, é importante verificar, além da isenção, os serviços oferecidos pelas corretoras e as demais opções de investimento. E ficar atento para outras cobranças, como de custódia sobre títulos privados e ações. E também às taxas pagas nos CDBs, para evitar que a corretora fique com uma parcela exagerada dos juros.
Papel pode ter perdas virtuais de mais de 9% com flutuação dos juros
Já no Tesouro Direto, o importante é o investidor escolher os papéis que se ajustam melhor aos seus objetivos, afirma Manente. Com isso, ele pode levar o papel até o vencimento, evitando se preocupar com as oscilações de curto prazo, como as deste mês. Com a alta dos juros por conta da eleição presidencial, os títulos mais longos do Tesouro corrigidos pela inflação, as NTN-B ou Tesouro IPCA, com vencimento em 2045 acumulam nos últimos 30 dias uma queda de 9,15% e o papel para 2035, de 6,55%. Essas perdas só valem para quem vender o papel agora. Quem ficar com o título até o vencimento receberá exatamente o que foi combinado na aplicação. Por isso a importância de aplicar de acordo com os planos para os recursos e não correr o risco de ter de sacar justamente em uma fase ruim do mercado.
CDB e outros papéis têm as mesmas oscilações
Todos os títulos de renda fixa estão sujeitos a esse risco de oscilação diária de valor de acordo com os juros do mercado. Mas o investidor só vai saber quando for ao banco antecipar o resgate de um CDB ou de uma LCI ou LCA. Um caso da máxima “o que os olhos não veem, o coração (e o bolso) não sente”. Por isso, os fundos de renda fixa e multimercados são obrigados a atualizar suas cotas todo dia, para evitar que alguém saque com um valor maior que os papéis realmente valem no mercado, deixando o prejuízo para quem fica no fundo.
Hoje, as NTN-Bs para 2024 pagam juros de 5,75% ao ano mais IPCA e as para 2035 e 2045, recomendadas para quem pensa em fazer uma poupança para a aposentadoria, pagam 5,89% ao ano mais inflação.
Abaixo, a tabela com as corretoras cadastradas no Tesouro Direto. O site ainda não atualizou as tarifas do Santander e do BB, por isso eles não estão junto com os isentos, mas já estão com as tarifas zeradas.